Metodologia ativa?
Por NERI P. CARNEIRO | 02/09/2019 | FilosofiaMetodologia ativa?
Reiteradas vezes tenho me posicionado em desfavor de uma série de modismos em educação. Modas essas que acabam desqualificando em vez de engrandecer o processo.
Sabemos que em qualquer situação ou metodologia de ensino é, além de importante, também necessário que o profissional da educação seja capaz e esteja disposto a se repensar e repensar sua prática. Isso porque, constantemente, são colocados novos desafios a serem vencidos. Mas a necessidade de autoavaliação não se resume à educação: qualquer situação ou profissão, para ser frutuosa, depende de avaliação sob pena de não crescer e se tornar melhor.
Em relação à educação, os desafios aparecem como necessidade do professor se apresentar e se posicionar constantemente com novas posturas. Os desafios cobram dele a proposição de aulas desafiadoras, inovadoras, criativas e que estimulem os estudantes a se tornarem agentes de seu aprendizado. Sem esquecer que o agente do ensino deve ser, também e constantemente agente de aprendizagem: o professor tem que se fazer estudante!
É moda, já a algum tempo, entre outras, aquilo que se denominou de “Metodologia ativa de ensino”
Entretanto, isso não e uma novidade! Já fazem algumas décadas que se vem cobrando do professor as novas posturas, novas metodologias... como se os problemas e deficiências que permeiam o sistema escolar dependessem de novas posturas do professor ou como se ele fosse o responsável pela manutenção do "sistema" e, pior ainda, como se ele fosse o responsável pela "crise" do sistema escolar.
Não, definitivamente, não! O professor é, também, vítima do sistema!
Na realidade o professor quer que o estudante aprenda e se aproprie do saber. Parafraseando R Gomes, o professor deseja que o estudante se torne um profissional melhor que têm sido seus mestres. No entanto, e agora falando principalmente a partir do sistema público de ensino, o que se percebe é o "sistema" sobrecarregando o professor com aulas sem lhe dar a contrapartida em temos de disponibilização de tempo para planejamento; sem liberdade para cobrar a contrapartida do estudante no sentido de empenho no estudo; o “sistema” preocupa-se com as estatísticas e não com o aprendizado; o “sistema” cria no estudante a sensação de que ele pode tudo e tem todos os direitos, sem necessidade de oferecer a sua contribuição em temos de responsabilidade e obrigações... e aprendizado!
É evidente que o estudante é a razão de ser da ação do professor, mas não é verdade que ele não tem, também, obrigações a cumprir. É verdade que o professor tem que se atualizar, mas não é verdade que tem que carregar sozinho "as dores do mundo" como diz a música. É verdade que novas metodologias e recursos podem ajudar, mas não é verdade que só as metodologias e recursos e suportes darão conta de estimularem o estuante se ele não trouxer um mínimo de motivação para o estudo juntamente com os indispensáveis requisitos prévios. E são indispensáveis porque são prévios!
Isso tem que se levar em conta para não corrermos o risco de pensar que o professor é o "salvador da pátria" sem considerar que a educação enfrenta um problema estrutural e sistêmico que não se resolve apenas com intervenções pontuais e conjunturais. Não adianta o professor se desdobrar e fazer malabarismos em sala de aula se as estruturas sistêmicas continuam emperradas... ou se manifestem como engrenagens que retrocedem...
Creio que é necessário, para não ficarmos trocando "seis por meia dúzia", pensarmos e buscarmos alternativas para a totalidade do problema e não só para aspectos pontuais ou metodológicos.
Temos que responder algumas indagações básicas: A sociedade em que vivemos – e dentro dela os estudantes com quem trabalhamos – ainda acreditam na escola e a procuram pensando propor perspectivas promissoras para a vida dos estudantes e, pensando de forma projetiva, para o futuro da sociedade? Ou nossos estuantes e seus familiares nos procuram apenas para que lhes vendamos um diploma? Eles querem o conhecimento ou o título que a formatura lhes confere? O “sistema” quer os estudantes capazes ou bestarolas de diploma?
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO