RESUMO

O presente artigo é um recorte de uma pesquisa em uma Universidade Pública no Brasil, que aborda o uso das tecnologias digitais na Psicopedagogia. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na forma de estudo de caso, cujos procedimentos foram entrevista, observação e intervenção. Os registros analisados pertencem ao diário de campo da pesquisadora e documentos da escola. O sujeito acompanhado tem mobilidade reduzida devido a um acidente vascular cerebral neonatal. O uso das tecnologias favoreceu o aprendizado, abrindo um novo espaço na escola para este tipo de intervenção com crianças portadoras de necessidades educacionais especiais.

Palavras-chave

Tecnologias Digitais, Mesa Digital, Motricidade.

1.APRESENTAÇÃO

A Deficiência física é definida como uma desvantagem resultante de um comprometimento ou de uma incapacidade que limita ou impede o desempenho motor de uma pessoa. No Brasil, o artigo 3º, inciso IX da Lei Nº 13.146 de 2015 [2] classifica pessoa com mobilidade reduzida: “aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso”.

E essa mesma lei, no inciso III do artigo 3º nos privilegia com: tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.O ingresso na escola é a premissa na vida social de alguém que possui alguma deficiência física. Suas relações interpessoais, além do campo familiar, começam a ser construídas dentro do espaço escolar. Nesse ambiente é possível trabalhar com a aceitação de si mesmo frente a sua “diferença” e a do grupo, consolidando a compreensão de que deficiência não é uma limitação.

A inclusão nas escolas tem sido discutida amplamente no sistema de ensino brasileiro. Fala-se da importância de adaptações dos espaços estruturados fisicamente e de profissionais capacitados para atender as necessidades individuais de cada aluno, mas o que se evidencia é uma política de acolhimento social, em que as crianças com dificuldades só desfrutam do espaço físico e social, tendo o acesso garantido, mas o pedagógico é muito pouco pensado para elas. Nesse contexto, cria-se um paradigma, a escola faz parte da vida do aluno com necessidades educacionais especiais, mas o mesmo não faz parte da escola. A contribuição de Filidoro [6]  é bem contundente quanto a isso: “as adaptações se referem a um contexto – e não me refiro a criança, mas ao particular ponto de encontro que ocorre dentro da aula em que convergem à criança, a sua história, o professor, sua experiência, a instituição escolar com suas regras, o plano curricular, as regulamentações estaduais, as expectativas dos pais, entre outros, - então não é possível  pensar em adaptações gerais para crianças em geral”.

As contrariedades e os obstáculos da educação inclusiva são maiores quando se trata da formação pessoal de crianças com necessidades educacionais especiais. A não compreensão pela escola de que essas crianças podem apresentar avanços na sua aprendizagem de outra maneira que não a convencional, exige das mesmas um esforço incalculável,

Nesse sentido, vários autores concordam com a ideia de que a tecnologia pode favorecer a aprendizagem em crianças que se encontram com alguma dificuldade física motora, reduzidas ou permanentes, como, por exemplo Alves e Aguiar [1] abordam no seu escrito “que neste contexto, um dos recursos disponíveis que pode ser utilizado em favor desta demanda é a educação inclusiva que, apoiada pela informática na educação e as tecnologias assistivas, pode auxiliar no processo de ensino-aprendizagem para formação “especial” dos deficientes, respeitando suas capacidades e limitações de forma particular”.

Na mesma linha, Zednik [12] faz uma compilação de ferramentas tecnológicas para otimizar o ensino e sustentam a “tecnologia assistiva para deficiência motora - Recursos digitais, que permitem o acesso, a comunicação e a recepção de informação das pessoas com limitações motoras”.  

 A pesquisadora Ana Grasielle Corrêa se dedica a ajudar crianças com dificuldades motoras ou com mobilidade reduzida e no seu projeto de doutorado desenvolveu um jogo musical chamado de GenVirtual, em realidade aumentada, que tem como objetivo promover a capacidade motora com ações pré-planejadas. Os autores [4] referem que a partir da mão e dos pés, é possível manipular os objetos virtuais projetados no mundo real, dispensando o uso de adaptações.

Os jogos digitais, além de propiciar o aspecto lúdico no desenvolvimento cognitivo e social, são ótimos instrumentos pedagógicos para sustentar as relações interpessoais de crianças com necessidades especiais. Nesse contexto Silva et al. [9] realizaram uma experimentação com o jogo Kadu no Parque, entre dois grupos de participantes, um com necessidades educacionais especiais e outro sem. No momento da execução os autores avaliaram que: mesmo com dificuldades de concentração, na interação com as fases 1, 2 e 3 do jogo, os PNEE obtiveram respectivamente os seguintes resultados 66%, 45% e 75% de acertos em comparação aos resultados das crianças sem necessidades especiais e praticamente utilizaram o mesmo tempo que estes. Os autores ainda ressaltam que “os objetos, sons, movimentos, cores e as figuras utilizadas no jogo foram muito mais exploradas pela criança PNEE no processo de interação. ”

Nesse ambiente de investigação que problematiza a contribuição do uso de recursos tecnológicos para o aprendizado de crianças com necessidades educativas especiais é que emergiu a necessidade de encontrar meios que desenvolvesse o aprendizado de uma criança  com mobilidade reduzida, considerando as suas necessidades físicas, emocionais e cognitivas, no caso, um menino que tem hemiparesia, matriculado numa escola de rede particular, cursando pela segunda vez consecutiva o último nível da educação infantil, que será apresentado neste artigo.

O olhar dos educadores para com essas crianças, através de uma ação propícia à aprendizagem, ressalta um sentimento de segurança, acolhimento e entendimento de que as diferenças fazem parte da heterogeneidade de alunos que ingressam na escola. Ao planejar e oferecer diferenciais no aprendizado de quem necessita, exige-se uma prática educacional inovadora, em que se permite que essas crianças sejam protagonistas do seu aprendizado, ao mesmo tempo, ressalta-se o sentimento de empatia pelas dificuldades delas, favorecendo a construção de vínculos, e assim entender que a aprendizagem está muito distante de ser propiciada por um único sujeito, mas sim na relação professor/aluno e aluno com o meio.

O conhecimento necessário para as crianças será construído conforme o seu interesse, ou seja, a sua motivação interna irá favorecer o seu desejo de aprender, para isso, é preciso desenvolver formas de apoiar a criança a realizar a construção de saberes, bem como oferecer bons recursos, neste caso, as tecnologias digitais. Corbellini et al [3] chamam a atenção de que “o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) na área da educação deve ser planejado conforme os objetivos que se quer alcançar, seja leitura, escrita, matemática, psicomotricidade, etc. É necessário que seja feito um estudo de cada recurso e de seus usos, buscando a adequação do que se pretende em termos de educação”.