Não me tomem por machistas, nem pensem que este é só mais um título chamativo com tendências apelativas. O título acima, que mais parece uma história com começo meio e fim, aqui, é o retrato de um drama que nasce da angustiada sinceridade dos homens. Por pura sinceridade é que nos sentimos obrigados, coagidos a contar maravilhosas mentiras às mulheres.

Levante o dedo o homem que nunca passou por uma situação semelhante a esta: você fica até mais tarde no trabalho, numa tarefa inesperada e, portanto, de emergência. E nem tem tempo de telefonar para casa avisando. Nossas mulheres não acreditam que estávamos cumprindo essa tarefa de emergência. Nem se recordam que é desse trabalho que vem a manutenção de todas as despesas do lar – muitas delas por capricho feminino... mas deixa pra lá. O fato é que nessas situações, de imediato elas nos recordam que trabalhamos ao lado daquela morena estonteante e nos acusam de termos ido para a farra, quando não para um motel, e ficam procurando – e as vezes encontram o que elas mesmas fizeram – inexistentes marcas de batom ou aquele fatídico fio de cabelo em nossas roupas. E não adianta dizer a verdade: elas sempre ficam desconfiadas... , nessas situações elas até ficam irritadas, mas acreditam mais se mentirmos dizendo que, no final do expediente, o Marcio convidou e fomos ao barzinho ali em frente para tomarmos uma gelada e, como ele estava com a Magali e a Silvia, a conversa se alongou... mas isso é mentira, na verdade havíamos ficado dando duro no batente.

É claro que do ponto de vista literário um título como este, na ponta do dedo de um escritor talentoso pode render um romance ou uma hilariante crônica – ponta do dedo porque seria anacrônico dizer "na ponta da pena"; ninguém mais usa pena; hoje as letras nascem da ponta do dedo que digita a literatura que nasce da virtualidade da informática. Dependendo do calibre do autor pode nascer, também, um conto de terror, suspense ou algo parecido. Imagine só: "...não acreditando na verdade de seu homem, com incontida fúria, crava-lhe o punhal – ainda se usa punhal? – no peito. E ele, inocentemente, morre por causa das mentiras que as mulheres nos obrigam a contar..."

Mas aqui conosco trata-se apenas de reminiscências. E, para ser honesto, não estou sendo nada criativo, pois este tipo de titulo tem tradição e história. O primeiro título desta natureza, que me lembro de ter visto, foi pelos anos 1980. Os títulos são os mais variados, e tem de tudo. Mas sempre contando uma história. Você, com certeza se recorda de vários deles: "O maior vendedor do mundo", "Comédias da vida privada", "Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor", "101 posições sexuais" "203 maneiras de enlouquecer um homem na cama", "As mentiras que os homens contam", "O melhor da comédia da vida privada", "Como enlouquecer uma mulher na cama", "Comédias para ler na escola", "Mais comédias para ler na escola", "Gigolô das palavras", "Jesus, o maior psicólogo do mundo"... e a lista poderia ser aumentada ao ponto de podermos fazer uma crônica somente com títulos desse naipe, passando de "20 dicas para perder um quilo em uma semana" até "As maiores mentiras do mundo" ou, ainda as célebres "Memórias de um cabo de vassoura", título que plagiei, com fins ecológicos em "Memórias de um toco".

Segundo Luiz Fernando Veríssimo, em "As mentiras que os homens contam", "Nós nunca mentimos. Quando mentimos, é para o bem de vocês. Verdade. Começa na infância, quando a gente diz para a mãe que está  sentindo uma coisa estranha, bem aqui, e não pode ir à aula sob pena de morrer no caminho. Se fôssemos sinceros e disséssemos que não tínhamos feito a lição de casa e por isso não podíamos enfrentar a professora a mãe teria uma grande decepção. Assim, lhe dávamos a alegria de se preocupar conosco, que é a coisa que mãe mais gosta". Portanto, nós nunca mentimos. E se mentimos é porque elas, as mulheres, nos obrigam a isso. E se você tem dúvida, leia a clássica explicação oferecida pelo filho do Érico Veríssimo, nessa antológica e ontológica crônica.

Só discordo dele num ponto. Não começa na infância. Começa com o começo da humanidade.

A coisa vem desde Eva e Adão! Está lá, para quem ainda duvida! A prova está na bíblia! Na história de Eva e Adão!

Não meta religião nessa história, dirão as mulheres, querendo se justificar! Querendo dizer que mentimos por ser de nossa essência masculina. Mas não se trata de religião, talvez de falta dela... ou é só história... O fato é que estavam lá, os dois, peladões e nem olhavam para isso, faziam tudo... peladões...

Mas aí veio a cobra! E comeram aquela coisa! E viram que estavam pelados e era bom... E ficaram com vergonha. E na hora que se viram diante do Criador, mentiram. Quer dizer, ela mentiu porque assim o quis: foi a cobra! Ele mentiu para ser solidário: foi ela por causa da cobra. E não disseram a verdade, que seria mais ou menos assim: vimos a coisa, e ficamos com vontade. Mas não, apelaram para a mentira, atribuíram a causa do seu desejo à cobra. Quer dizer, ela mentiu e ele mentiu por causa dela... e a consequência: por causa da cobra e da mentira passamos a usar roupa!

Somos mentirosos sim. Somos honestos e admitimos. Mas somos o que somos por causa de vocês,que nos obrigam a isso. Tudo por causa das mentiras que vocês, mulheres, nos obrigam a contar.

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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