“MENINOS” DO JACAREZINHO: interpretações diversas, realidade social, criminalidade e “inocência”

Texto produzido e divulgado em maio de 2021 em Santa Maria do Uruará – Pará

Por: Sydney Pinto dos Santos[1]

As vezes a vida é interrompida de muitas maneiras, desastres, tragédias, criminalidade, acidentes e incidentes; e isto implica não só uma referência ao gênero, posição social, status e idade; pois a morte em si, nas suas diversas versões e variáveis, assim como um conjunto de atos conjunturais, além de fatos circunstanciais, não diz a hora, dia e tempo, apenas, baseado nos aspetos anteriores destacados e fatores outros, ela acontece.

Porém, como se viu, muitos caminhos traçados pela sociedade e assim pelos seus indivíduos constituintes, em promoverem suas escolhas pessoais e as vezes coletivas e seguir o caminho do bem ou do não-adequado; pois cada um é responsável, em idade relativamente adulta de seguir os caminhos mais promissores; ou não! Logo, em se tratando de escolhas pessoais e individuais, entende-se que, a sociedade não é culpada, o governo não é culpado, a escola não é culpada, a família não deve se culpar; pois as alternativas de melhoria das condições promissoras são dadas desde tenra idade, ou idade de molde, onde escola e família se esforçam para adequar corretamente os preceitos, princípios e processos “promotores da capacidade” de vivência na sociedade.

Muitos amontoados que acontecem repentinamente nas periferias das cidades, inclusive àquelas que mais chamam a atenção, são descuidos da própria sociedade, através de indivíduos que não conseguem enxergar de início a desorganização, ou ao menos que não possuem um olhar futuro nas transformações estruturais e infraestruturais das aglomerações urbanas; dentro de um expansionismo urbano organizado e que possa dar uma qualidade de vida justa e digna de seus ocupados. Quando estes próprios aglomerados, são formados por indivíduos de origem oriundos de diversos lugares, com cultura diferentes, dialetos diferentes, com costumes e hábitos diferentes, com maneiras, atitudes e comportamentos diferentes, os quais só vão interagir mais aproximadamente quando o “caldo” da organização espacial urbana já foi derramado.

Ou seja, em primeiro momento, eles não conseguem unir forças e ideias para uma conjuntura de organização mais levado a cabo pela estética e pela organização espacial, assim como pela facilitação da implantação dos serviços e equipamentos públicos necessários a boa convivência e ao seu bem-estar social. Acabando com isto, todos fazendo a sua maneira particular, para depois, num estágio muito tardio, promover a culpa aos governos em suas diferentes esferas.

Porém, voltando ao título, o que acabamos por perceber é que, estes “meninos”, muito tratados nas reportagens dos veículos diversos de comunicação, através das falas de seus conterrâneos, soasse como se fossem crianças entre 8 a 10 anos, ou adolescentes entre 12 a 17 anos. Não, nada disto. Foram indivíduos que certamente cresceram junto as mazelas aplicadas pelas aglomerações urbanas desorganizadas; onde talvez fugindo em idade primordial, acabaram fugindo das obrigações educacionais e mesmo morais; e assim, se transformando em homens que cresceram assistindo de alguma forma, as pessoas mais próximas; e, assim crescendo, viraram os “meninos” do dia a dia. Pois a única diferença que não foi observada, e que com o crescimento biológico, eles passaram a portar armas e equipamentos que nem algumas forças de segurança de alguns países medíocres, possuem.

Desta forma, além da posse de arma de grosso calibre, como de uso reservado, estes “meninos” passaram a aliciar outros meninos reais, para agora fazer o trabalho que outrora eles fizeram, num círculo vicioso de destruição de valores morais, legais e sociais das novas gerações; talvez, no início procurando viciar o menino real, o qual poderia ficar preso em seu vício, e desta maneira se transformar no “zumbi” do tráfico, fazendo o serviço por pouca coisa de retorno e uma falsa proteção a sua família.

Mas o estrago certamente já estaria feito, os meninos reais, não iriam mais as escolas, não viveriam mais às expensas de sua família, mas a um “pai”, que certamente não lhe garantirá um futuro promissor, desencadeando com isto não só as distorções das vivências familiares, mas também, inserindo em um mundo sem volta. Pois, muitas vezes, levado pelo pó, o celular caríssimo e o FAL -762, se torna mais interessante do que uma caneta e um caderno ou um lápis e um livro, nas suas penas mãos da inocência, porém que mais tarde, poderiam se tornar o carrasco de seu destino, em um possível confronto com as forças de segurança, as quais há anos tentam de todas as formas contornar um problema crônico, um problema que se arraigou no âmago da sociedade dos menos favorecidos.

Olhando para as políticas públicas sociais de assistência direta à população, que moram nestes espaços ocupados desordenadamente, elas não chegam como deveriam chegar, e assim, a população, uma parte dela, acaba se apoiando nos inocentes “meninos”, os quais portam AK-47, FAL-762, AR-15, Glock, 380, e assim por diante, onde exprimem à população local uma falsa segurança, proteção e “assistência”; mas que na verdade, de nada disto vai melhorar as condições e serviços básicos essenciais à população.

Todos os anos há realizações pelo MP de concursos de “Boas Práticas”, que são possíveis no enfrentamento da criminalidade e assim serem elaboradas neste sentido, com objetivo de contornar as pontuais mazelas das favelas brasileiras, inclusive nas grandes cidades como o Rio de Janeiro, que de vez em quando se torna palco nas manchetes telejornalísticas do Brasil e do mundo, mas pela sua negatividade, do que pela razão a qual as incursões policiais de combate ao crime organizado e do poder paralelo, são submetidas ou impetradas.

Assim, vamos vivendo, com os “meninos” dos morros que se tornaram marginais de grande potencialidade, mas aos olhos da justiça e da mídia, e também de muitos políticos aproveitadores de situações embaraçosas, acabam invertendo os papeis, e considerando que, o criminoso é o policial que combate à criminalidade, e por consequência o Estado que não encontra soluções. Ou seja, quem é o carrasco, são aqueles que procuram amenizar os impactos negativos da criminalidade e o santo ou o bom moço, continua sendo os “meninos” das armas e responsáveis pelo esfacelamento das famílias fora das favelas, através dos seus produtos, os quais possibilitam cada vez mais tornar um mercado lucrativo, possibilitado mais pessoas doentes, assim como moldando outros meninos reais em futuros “meninos inocentes”.

Observações: o texto é uma produção independente do autor, assim como baseado nas informações observadas e assistidas e lidas nos meios de comunicação: telejornais, mídias sócias e outras fontes.

 

[1] Professor Efetivo da rede Pública Municipal de Ensino do Município de Prainha - Pará

 Mestrando em Educação (Formação de Professores) UNINI/FUNIBER – 2021.