A lembrança de um menino que perambulava pela Ponte Grande (Othon de Alencar), entre o rio Acaraú e a Igreja Matriz. (Igreja da Sé). Nas cheias, subia nos escombros da casa das máquinas da antiga Usina de Luz de Oriano Mendes, só de calção e com muita coragem preparava-se o pulo de ponta cabeça nas turvas águas do rio.

Como um malabarista atravessava o cano que interligava à fábrica para a rua Dr. Randal Pompeu. A correnteza era imensa, espumas em forma de algodão descia o leito do rio, mas não tinha medo. Nadava como uma piaba. Lá do alto, o Criador entendia a sua obra e a natureza. Vá e siga em paz! Teu dia ainda não chegou. "Aproveite e descubra o que te deixei".

No arremate descia pela ponte grande, segurava nas raízes das oiticicas que ficavam às margens do antigo Country Clube e repetia inúmeras vezes. Ditava a belezas e correnteza do rio Acaraú no paredão da Mendes Júnior. Fazia a meu modo uma espécie de ioga da vida.
Sentava, jogando cascalho nas águas do Acaraú. E de volta ele presenteava com o som de tibum. Bum, bumm.

- Era a pedra dragada pelas profundezas das águas.

Do outro lado, a torre da Igreja que dava o nome de seu maior benfeitor: Dom Expedito. Uma candura na pintura de sua torre misturava-se com as residências de muro mal acabados, com tijolos ainda aparentes desgastados pelas intempéries e sem reboco. Seus quintais feitos com cascalho de construções e madeiras uniformes que os moradores aproveitavam da Serraria de seu Raimundo da Funcional. Na mesma circunferência a irmã mais velha: A majestosa e exuberante Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

Na parte ribeirinha, populares à espera do canoísta que estava do outro lado: Lado esquerdo do Rio. Sua parada obrigatória era a rampa da antiga Usina de Dona Emilianinha, e seguiam o rumo ignorado e outros ao trabalho. A Usina de algodão de Oriano Mendes era o ponto de chegada para quem queria ir ao centro da cidade!

Entre um mergulho e outro, ao subir as ribanceiras sentia o cheiro da argila (barro) impregnar em meu corpo molhado. No percurso, avistava enormes juazeiros e seus frutos que nos deliciavam naquele período invernoso. Entre os juazeiros, parte rasteiras grandes canapuns amadurecidos no pé e cipó do rio faziam adocicar meu paladar e de outros desconhecidos meninos.
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Essa era uma de nossa alegria quando criança brincando no rio e suas cheias. 
Hoje vejo pela foto e me vem à memória de tudo. Os três, ligando a uma só História. A Ponte! O Rio! A Torre da Igreja!

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 J. Wilamy Carneiro Vasconcelos é professor, escritor, (Autor do livro – Tempo de Sol- Tudo se pode Sonhar). É historiador, memorialista cronista e cordelista. Formado em Direito Pela FLF- Faculdade Luciano Feijão em Sobral-Ceará. Pós-graduado em Ciências (MATEMÁTICA) pela Universidade Estadual Vale do Acaraú. É especialista em Meio Ambiente pela Universidade Estadual Vale do Acaraú em Sobral no Ceará..