Fabrício de Sousa Ribeiro[1]

 

Este relato traz as memórias que remetem a minha autobiografia com os acontecimentos mais relevantes vividos na trajetória pessoal, acadêmica e profissional. Nascido em 02 de dezembro de 1987, no município de Itaituba/Pará, sou o primeiro filho de quatro irmãos, filho de pais maranhenses, ambos pertencentes a grandes famílias, que vieram a este estado durante a juventude, em busca de melhores oportunidades. Fui criado em um ambiente familiar estável com pais dedicados, comerciantes que sempre contaram com apoio dos filhos, ainda pequenos, no que tange ao negócio da família.

Minha formação acadêmica teve início aos quatro anos de idade, na Escola Marechal Rondon, onde fiz um amigo de longa data, Ricardo Morais. Tive diversos momentos marcantes que, em geral, costumam ocorrer no início da vida acadêmica de qualquer criança e mantive uma relação próxima aos professores. Posteriormente, ao ingressar na quarta série do Ensino Fundamental, fui transferido para a Escola “A Mão Cooperadora”, Escola de Ensino Fundamental da Igreja de Deus, onde, como qualquer transferência escolar realizado na infância, inicialmente tive problemas de relacionamento com os novos colegas, contudo esse problema foi contornado em pouco tempo, e logo foi formado um trio sólido de amigos que foi mantido até o final do Ensino Fundamental. Nesta escola tive a oportunidade de conviver com professores bastante dedicados.

O Ensino Médio foi cursado de 2003 a 2005, no Centro Educacional Anchieta, onde fiz um grande número de amigos e tive aulas com excelentes professores. Isto corroborou para minha aprovação no vestibular.  Sempre tive muito afeto para com os animais domésticos, o que me levou a cogitar cursar o curso Medicina Veterinária, contudo outra grande paixão era a Tecnologia da Informação (TI), apresentada a mim por um grande amigo de escolar (Alexandre Melo) no Ensino Fundamental e motivado por outro grande amigo que já realizava trabalhos mais complexos na área (Michel Yvano). No terceiro ano, um grupo de colaboradores e alunos do Instituto Luterano de Ensino Superior de Santarém/Pará (ILES/ULBRA) divulgou os cursos desta instituição no Anchieta, dentre os cursos apresentados estava o de Sistemas de Informação, curso da área de TI, até então desconhecido para mim, portanto, consolidou a escolha da minha futura vida profissional. Muitos colegas formados no Ensino Médio ingressaram em algum curso de nível superior, alguns no próprio município de Itaituba, outros, assim como eu, em outro município.

Prestei vestibular para o curso de Administração na Faculdade de Itaituba (FAI) e Sistemas de Informação no ILES/ULBRA, e fui aprovado nos dois processos seletivos. Apesar de demonstrações sutis de preferências de cursos de Graduação para os filhos, meus pais sempre apoiaram as escolhas feitas por nós, por isso, escolhi o curso de Sistemas de Informação em Santarém.

Em razão de uma condição financeira familiar não muito confortável, optei por trabalhar durante o tempo de estadia nesta outra cidade. Portanto, ainda no final do terceiro ano ingressei no cargo de Auxiliar de Serviços Gerais na Fricon, empresa de hortifrutigranjeiros e frios que possuía matriz em Itaituba e filial em Santarém.

Em 2006, passei a residir na residência de uma amiga da minha mãe no município de Santarém para cursar Sistemas de Informação. Fui bem acolhido por esta família na qual tive demasiado contato na minha infância, deste modo tive o apoio quase tão confortável quanto um familiar. O meu desempenho acadêmico no primeiro ano do curso de Graduação não foi satisfatório, em razão da jornada de trabalho e exaustão física que estorvaram o crescimento no curso, por isto, ao final deste mesmo ano, com muito pesar, deixei o emprego.

Entretanto, no ano de 2007, em razão da companhia da minha irmã, fui obrigado a alterar de residência, para um lugar que comportasse esses dois jovens, filhos de Itaituba, desse modo, passamos a morar sozinhos. Neste mesmo ano, iniciei um estágio não remunerado na Coordenação de Laboratório de Informática do ILES/ULBRA. Em pouco tempo, fui contemplado com uma bolsa, na mesma coordenação que me garantiu desconto em torno de 50% na mensalidade do curso. Este cargo permitiu-me aproximar mais dos docentes do curso, como feito com colegas de curso, construir amizades sólidas com profissionais da área de TI.

Em 2008, depois de várias tentativas, fui finalmente aprovado com uma bolsa integral para o curso, ao qual já estava a cursar, no Programa Universidade para Todos (PROUNI), fato este que concedeu alívio financeiro para meus pais, uma vez que minha irmã havia ingressado no curso Farmácia, em uma instituição privada na mesma cidade. Neste mesmo ano, fui indicado para outro estágio, dessa vez na Comissão Própria de Avaliação (CPA) da própria instituição que eu estava a estudar, agora nomeada Centro Universitário Luterano de Santarém (CEULS/ULBRA). Assim, deixei o estágio para atuar neste setor da instituição, agora como funcionário.

Na CPA, pude atuar com excelentes profissionais, técnicos e professores, e aprendi conceitos e procedimentos relativos ao funcionamento da Avaliação Institucional, instrumento base para o funcionamento de uma CPA. Com este olhar de colaborador/aluno tive oportunidade de acompanhar de perto as frequentes visitas dos avaliadores do Ministério da Educação (MEC) àquela instituição, inclusive de participar de algumas entrevistas realizadas por estes ilustres professores. Dentre as atribuições destinadas a mim estava o auxílio na distribuição das avaliações destinadas aos professores e alunos, a tabulação destas e a elaboração de relatórios. No final de 2008, fui contratado como Assistente Administrativo neste mesmo setor, passando assim a controlar diretamente a logística e aplicação das avaliações.

Ao longo da realização das atividades, encontrei uma amiga que estava realização uma Pós-Graduação na área Informática Educacional, Kadja Vieira, que futuramente viria a ser colega de profissão. Como atividade de estágio, juntamente com um amigo do curso, criei o projeto do banco de dados e início do front-end do sistema de Auto Avaliação do CEULS/ULBRA, contudo, o projeto completo não foi findado em razão do tempo exigido para o seu término, que deveria estender a minha permanência naquele local.

No final do primeiro semestre de 2011, finalmente defendi meu Trabalho de Conclusão de Curso, o qual possuiu como tema “Aplicação de Web Services na Interoperabilidade entre o Android e o Microsoft Robotics Developer Studio” o que claramente já demonstrava meu interesse pela robótica, desenvolvimento de aplicativos e sistemas operacionais móveis.

No dia da minha outorga, em agosto daquele ano, recebi uma ligação da diretora da Escola Estadual Tecnológica do Estado do Pará (EETEPA), polo Itaituba, Marli Dill, convidando-me a compor o quadro docente da escola. Após sua explicação sobre os cursos e disciplinas ofertadas pela escola, aceitei o convite, e ela pediu ainda para eu conversar a coordenadora do curso Técnico em Informática, que estava no CEULS/ULBRA, participando de uma Pós-Graduação lato-sensu. Naquela noite, após a cerimônia de formatura, e ainda nas dependências do instituto, fui abordado pela Kadja, que me parabenizou pela formatura e, posteriormente, identificou-se como a Coordenadora do curso supracitado pela Marli, e que também me apresentou uma amiga que estava ao seu lado, Taciana Queiroz, uma conhecida do bairro onde cresci e Coordenadora do curso Técnico em Manutenção e Suporte em Informática. Elas me explicaram com mais detalhes quais eram as disciplinas que eu iria trabalhar nos cursos.

Em menos de 2 (duas) semanas depois, voltei a me fixar em Itaituba e me apresentei na EETEPA, fui apresentado à equipe docente de TI, deste grupo já conhecia o professor Wellington Ribeiro. Mesmo já estando no novo local de trabalho e em minha cidade natal, não estava muito seguro, afinal não tinha muita experiência com docência, pois já havia ministrado algumas aulas em projeto de extensão na faculdade onde ministrei conteúdo para colegas do curso de Sistemas de Informação, mas dessa vez eu iria ministrar aulas para turmas de cursos Técnico Integrado ao Ensino Médio (Ensino Médio e Técnico simultaneamente) e Subsequentes (cursos destinados a pessoas que já concluíram o Ensino Médio) – e a infraestrutura de TI da escola estava em nível bem abaixo daquele que eu estava habituado no CEULS/ULBRA. Lá, também, tive a oportunidade de rever dois professores do Anchieta que ministraram aula para minha turma, o Professor Angélico (professor de Física) e professora Ângela (professora de Inglês), agora meus colegas de trabalho.

Um fato muito marcante ocorreu no primeiro dia de trabalho na EETEPA, no dia 12 de setembro de 2011. Na sala dos professores, reuniam-se todos os professores que estavam planejando aulas ou somente cumprindo horário. Neste dia, um professor que aparentava ter mais de 40 anos de idade, pediu-me: “professor, o senhor poderia me ajudar a resolver um problema do meu computador?”; naquele momento, em que uma pessoa significativamente, e respeitosamente, com mais idade que eu se dirigiu a mim usando o prefixo “senhor” e referindo ao termo “professor”, percebi a responsabilidade que cabia a mim exercer a tarefa dessa profissão tão fundamental para a sociedade e, ainda, este é o mesmo termo que usava para referir-me a alguns dos ilustres profissionais que contribuíram para minha formação. De certo modo, foi motivo de orgulho, mesmo não sabendo ainda se iria seguir esta carreira. O professor que declarou essas palavras fora o professor, e engenheiro ambiental, Santiago.

Na semana seguinte, ministrei minha primeira aula para a turma do curso Técnico em Manutenção e Suporte em Informática, período noturno. Era uma turma Subsequente do ano de 2010, os alunos estavam no último semestre do curso, uma vez que a duração de curso é em média 18 meses. A disciplina era Microinformática e Aplicativos III; fui informado por um colega que era uma disciplina que a maioria dos professores não gostava, como eu era novo no grupo esta foi atribuída a mim. A média de idade dos alunos estava entre 18 e 40 anos; seriam 4 aulas na segunda-feira. Quando cheguei à sala de aula, cerca de metade da turma já estava lá. Organizei o material, esperei alguns minutos e, então, fiz uma breve apresentação pessoal e iniciei a aula, ainda que levemente nervoso. Ao término da aula pude constatar, a partir dos comentários de alguns alunos, que não tive um desempenho ruim, esse era o meu receio, pois ao longo da aula, alguns alunos demonstravam apatia ao conteúdo ministrado, mas com o passar do tempo pude perceber que aqueles/aquelas eram os/as que só estavam atrás do certificado do curso, e que, provavelmente, não iriam seguir na área.

Naquela mesma semana ministrei aula para outras turmas, integradas ao ensino médio e também subsequente, da área de TI assim como também de outros eixos tecnológicos. Tinha jornada de trabalho exaustiva, pois além das aulas que ministrava quando eu chegava em casa continuava a trabalhar as aulas seguintes, pude perceber que o ofício docente exigia muito, afinal quase não havia tempo para o lazer, contudo gostei muito dessa tarefa, o que, ao meu ponto de vista, tornou a carga de trabalho menos áspera e, consequentemente, faria futuramente que eu escolhesse essa carreira como profissão.

Alguns meses, após o início das atividades de trabalho na escola técnica, meus pais me contaram que haviam entregado meu currículo, ainda quando eu estava no CEULS/ULBRA, ao meu amigo Ricardo Morais, agora advogado formado pela Faculdade do Tapajós – outra faculdade do município de Santarém – e que agora atuava em um escritório de um renomado advogado de Itaituba que tinha assumido um mandato de Deputado Federal. Este, por sua vez, havia contribuído diretamente para a minha indicação para a EETEPA. Pude compreender assim o porquê da grande maioria dos docentes da daquela escola falarem frequentemente sobre política no ambiente de trabalho, o que vale ressaltar que é um assunto que vale a pena ser discutido, todavia eram discussões exacerbadas e frequentes. De posse dessa informação, comecei a refletir sobre o fato da minha indicação para a EETEPA ter ocorrido meramente em razões de cunho político, o que se contrapunha ao mérito. No entanto, a Kadja conversou comigo sobre o assunto e me disse que o meu ingresso na EETEPA não foi totalmente político. Segundo ela, havia uma vaga disponível no quadro docente, contudo havia mais de um candidato a assumi-la, então a diretora Marli a convidou para apreciar os currículos disponíveis e incumbiu a ela a tarefa realizar a escolha. Depois de avaliá-los, ela não teve dúvida e me indicou; quando perguntei o motivo, ela disse que, enquanto era aluna da Pós-Graduação do CEULS/ULBRA, ela investigou com os meus professores da Graduação como era meu desempenho, e todos passaram boas recomendações. Fiquei feliz em ouvir estas palavras a meu respeito.

Lecionei aula na EETEPA até o fim do contrato, maio 2014. Tive a oportunidade de trabalhar com docentes dedicados ao ofício e outros que usaram a instituição como “bico” – e, portanto, não valorizavam o trabalho realizado naquela escola. Pelo meu tempo de permanência naquele local não observei a entrada de recursos provenientes do governo estadual, o que demonstrava claramente o desprezo deste por aquela instituição de ensino. Deste modo, a escola era basicamente mantida pelos próprios servidores, a partir da realização de eventos para arrecadação de recursos financeiros. Deparei–me com muitos alunos esforçados, dedicados e inteligentes – os quais, às vezes são relembrados por memórias nostálgicas que vêm à mente –, assim como também tive alunos com perfil totalmente oposto. Criei amizades que levo para a vida. Durante este período, realizei duas Pós-Graduação latu sensu: Magistério para o Ensino Superior, pela Faculdade de Itaituba (FAI), e Engenharia de Sistemas, pela Escola Superior Aberta do Brasil (ESAB).

Após a saída da EETEPA, passei a dedicar-me a trabalhos freelances pela Internet e também a empresa Endogênese, empresa criada por um grupo de amigos com o qual eu já havia realizado trabalhos esporádicos, anteriormente. Esta empresa realizava trabalhos voltados à realização de projetos voltados para Administração e também para TI. O grupo de TI era composto por Michel Yvano, Alan Cliff, Wellington Ribeiro, Joab Torres e eu.

Em setembro daquele mesmo ano, fui convidado pelo professor Fernando Emmi a assumir um cargo de Professor EBTT no IFPA campus Óbidos, a motivação foi respaldada em concurso público IFPA realizado ano de 2013 do qual eu havia participado. Concorri a uma vaga do IFPA - Campus Itaituba, ocupando a segunda posição na lista de classificados, contudo o edital previa que eu poderia ser nomeado para os campi de Itaituba, Santarém e Óbidos. Como o primeiro candidato já ocupava a vaga destinado ao IFPA campus Itaituba aceitei o convite. Isto foi reforçado com a resposta dada pela direção do campus Itaituba que, naquele período, não considerou realizar a nomeação de um especialista.

Dia 27 de novembro de 2014 me apresentei no IFPA campus Óbidos, pude constar que, além do Diretor Geral e Diretora de Ensino, eu era o primeiro professor do campus, e além dos docentes haviam o grupo de terceirizados e 4 (três) servidores Técnicos em Educação: o Diretor Administrativo, um Assistente de Aluno, uma Assistente Social e uma Assistente em Administração que havia entrado em exercício alguns dias antes de mim. Logo fui apresentado única turma de TI, do curso Técnico em Manutenção e Suporte em Informática, e aos alunos da Rede e-Tec Brasil, dos cursos Técnico em Alimentação Escolar e Técnico em Secretaria Escolar. Assumi formalmente (por meio de portaria) a coordenação de polo da Rede e-Tecc Brasil e informalmente a coordenação do curso técnico em Manutenção e Suporte em Informática.

A partir de mês de Fevereiro de 2015 passei a ministrar aulas a turma de manutenção, que classifiquei como uma das melhores turmas para a qual eu já havia ministrado aula em seguida passei a orientá-los no seu estágio, uma vez que eles estavam finalizando a curso. Por grande parte do ano de 2015 fui o único professor em sala de aula deste campus, desempenhei funções docentes e administrativas, afinal havia as atribuições das coordenações e do setor de TI, afinal não havendo a ocupação do cargo Técnico em Informática eu tive que assumir essa atribuição. Ao final deste ano a equipe docente e administrativa aumentou através da nomeação de novos servidores. Hoje, o campus conta com mais de 20 servidores, e vem deixando sua marca na história do município de Óbidos.

Atualmente estou realizando o curso de especialização em Docência para a Educação Profissional, Científica e Tecnológica, ofertada pelo IFPA campus Itaituba, que motivou a produção deste texto como atividade da disciplina Concepções de Currículo na Educação Profissional. Almejo para o ano de 2018 o ingresso em um curso de pós-graduação stricto sensu e remoção para a cidade de Itaituba.

 

[1] Docente do IFPA do Campus de Óbidos; Pós –graduando em Docência para o Ensino Profissional.