A vida na universidade começa muito antes do vestibular. Ainda menina, lembro-me da minha mãe costurando no quarto e do meu pai saindo todos os dias para trabalhar como Mestre de Obras na construção Civil. Certamente, este não foi um período fácil, mas as dificuldades não pararam por aí.  Na infância, bem como na adolescência, tudo era limitado: a alimentação, roupas, calçados. A diversão ficava por conta da criatividade com os três irmãos mais velhos, que, assim como eu, alimentaram seus sonhos com suor, cansaço, dor e fé. 

Minha escolarização iniciou em 1989, com sete anos de idade, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ida Oliveira, no município de Belém, Pará, onde cursei do 1º ao 6º ano. Em 1994, passei a estudar na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dom Pedro I, na qual fiquei até o 9º ano. O despertar para as responsabilidades da vida adulta ocorreu quando eu era ainda muito jovem – precisamente, quando concluí o ensino fundamental. Neste momento, confesso que não sabia ao certo o que queria da vida, mas sabia que deveria continuar estudando para ter um bom emprego no futuro e, assim, quem sabe, poder ajudar meus pais a ter uma velhice tranquila. Foi por esta e outras razões que decidi mudar para uma escola “melhor”.

Desta forma, aos 15 anos, fui matriculada na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Deodoro de Mendonça, situada no centro da capital paraense. Lembro que era uma escola muito quente e que ficávamos várias horas sem aula por falta de professores. Lembro, também, que, em 1998, período em que estava cursando o 2º ano, nesta mesma escola, conheci um rapaz que me chamou atenção: fui tomada por um olhar e gestos singulares, mas nem por isto pouco significativos, mas suficientes para um namoro, típico de uma adolescente apaixonada.

 Bom amigo, mas excessivamente ciumento, este jovem, que morava perto de minha casa, era segurança de um colégio pré-vestibular. Mais experiente do que eu, por várias vezes, repetia que eu deveria cursar o 3º ano no colégio em que ele trabalhava. No entanto, certo é que ele não estava preocupado com o meu aprendizado, e, sim, porque queria me ter por perto a todo instante. O namoro, é claro, não deu certo, porém continuei na escola para terminar o Ensino Médio – o que não foi nada fácil, porque os alunos da minha turma estavam em um nível de aprendizagem superior ao meu.

Por outro lado, esta experiência não foi de toda negativa, já que a convivência com os alunos do 3º ano do colégio pré-vestibular foi fundamental para a minha vida. Descobri um “novo mundo”: o mundo daqueles que aspiravam garantir uma vaga na universidade.

Objetivamente, senti a necessidade de me dedicar ainda mais aos estudos, de ser “alguém”. Assim, redobrado os esforços para vencer o sono de uma batalha árdua, após três sofridos anos, passei no vestibular. Ainda recordo a emoção que senti quando li o meu nome no listão dos aprovados no curso de Engenharia de Pesca. Finalmente, eu era aluna da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), campus Belém. Podia, assim, comemorar com meus pais e amigos a maior vitória da minha vida. Podia entoar o grito tão sonhado de “Alô, Papai! Alô, Mamãe! Põe a vitrola pra tocar”. Hino nosso. Hino paraense. Hino do Mestre Pinduca.  

Foi bom confraternizar com todos. Ver alegria nos olhos daqueles que amo. Houve espaço para risos, mas foram as lágrimas que mais me tomaram de corpo e alma; que trouxeram as marcas da vida adulta. 

Logo, em março de 2003, iniciei a tão sonhada graduação. Recordo ainda, que cheguei à universidade bastante empolgada, mas logo me deparei com uma greve que durou 6 meses. Nesse período, aproveitei para procurar estágio e passei a trabalhar, voluntariamente, no Laboratório de Carcinologia do Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Norte (CEPNOR), onde participei de vários projetos na área de Biologia e Pesca de Recursos Pesqueiros, bem como na elaboração de artigos científicos. Os quatro anos que passei estagiando no CEPNOR foram fundamentais para o meu desenvolvimento profissional.

Contudo, a minha primeira experiência como Engenheira de Pesca só ocorreu um ano após a formatura.

Assim, formada, em 2009, fui contratada pelo CEPNOR como pesquisadora. Neste mesmo período, decidi ampliar meus conhecimentos por meio da Especialização em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Em 2010, fui selecionada, por meio de concurso público, pela UFRA, para ocupar o cargo de Professora Substituta, no curso de Engenharia de Pesca, por um período de dois anos. Porém, como não tinha experiência com a docência, tive que superar minhas limitações para ser professora. Para tal, percebi que era necessário continuar me qualificando. Em 2011, fiz mestrado em Aquicultura e Recursos Aquáticos Tropicais.

As experiências como docente na UFRA associada ao título de Mestra subsidiaram a minha contratação na Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque (FUNBOSQUE). Atuei como docente no anexo da FUNBOSQUE, Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Casa-Escola da Pesca (CEPE), com as turmas do Ensino Fundamental, na modalidade da Educação de Jovens e Adultos - EJA com iniciação profissional em Pesca e Aquicultura, e as turmas do Curso Técnico em Recursos Pesqueiros integrado ao Ensino Médio, também na modalidade EJA.

Posso dizer, dessa forma, que a Casa-Escola da Pesca foi outro desafio que tive que vencer, pois me deparei com um público totalmente diferente daquele que trabalhei na Universidade. Por conseguinte, as experiências adquiridas na Casa-Escola da Pesca foram fundamentais para o meu crescimento profissional e pessoal. E foram, certamente, estas experiências que me impulsionaram a me desafiar outras vezes, de modo que, em 2016, através de concurso público, ingressei no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, IFPA, Campus Santarém, onde atuo como Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico.