MEMORIAL DESCRITIVO

 

Maria Kelliane Valentim dos Santos Silva

 

Falar e escrever sobre si mesmo, desde o início de sua história de vida, é um exercício que requer certo esforço da mente, recordar a infância, a iniciação na escola, a trajetória acadêmica, tudo isso é um processo reflexivo que nos ajuda a nos compreender melhor, e portanto, pode-se dizer, que é um processo de aprendizagem.

Sou Maria Kelliane Valentim dos Santos Silva, este último sobrenome passou a ser parte da minha identidade, após meu casamento, em agosto de 2016. Nasci em Santarém, cidade do oeste do estado Pará, em 11 de março de 1986, sendo a segunda de três irmãos (Alessandro, Eu e Suelen). Minha mãe, Jucileide Valentim dos Santos, mulher por quem tenho enorme admiração, trabalhou como comerciária por alguns anos, e maior parte de sua vida foi e continua sendo dedicada aos cuidados da família e do lar. Meu pai, Manoel Reginaldo Cruz dos Santos, foi comerciário por vários anos e, dessa forma, sustentou nossa família. Ambos, agora autônomos, donos de um pequeno comércio, sempre incentivaram os filhos ao estudo, apesar de não terem concluído o Ensino Médio.

Comecei a estudar com 3 anos de idade em uma pequena Escola particular, chamada “Coração Infantil”, localizada no bairro Aeroporto Velho, onde eu morava. Nessa Escola, estudei desde o Jardim I até à 1ª série. Quando fui levada para outra escola, a Escola Estadual de 1º e 2º Graus José de Alencar, em 1993, já sabendo ler e escrever, para me matricular na 2ª série, mas, isso não foi possível, pois, acredito ser pela legislação vigente naquele período, não fui aceita com 6 anos, quase 7, para iniciar a 2ª série. Tive que repetir a 1ª e segui nessa escola, doravante chamada Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José de Alencar, até o ano de 2002, quando concluí o 2º ano do Ensino Médio.

No segundo semestre de 2002, meus pais e meu irmão mudaram para a cidade de Belém para trabalharem em uma loja de calçados, filial da loja em Santarém, onde meu pai trabalhava, vislumbrando melhoras e o aumento da renda familiar. Minha irmã e eu ficamos em Santarém, sob responsabilidade de minha avó e madrinha, para concluir o ano de estudo. Receosa por ter que mudar de cidade e ter que cursar o último ano do Ensino Médio em outra escola, professores desconhecidos, outras maneiras de ensinar, pensei isso porque foram 10 anos em uma escola, estava habituada com o corpo docente e colegas de turma. Em 2003, minha irmã e eu fomos para Belém e nesta cidade, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Benjamin Constant, conclui o Ensino Médio e cheguei a ser premiada com um certificado simbólico como a “Aluna nota 10” do 3º ano. Percebi que “mudar de ares” traz novos aprendizados.

Ainda em Belém, prestei vestibular para a Universidade Federal do Pará (UFPA), para o curso de Sistemas de Informação, Campus de Santarém, pois iríamos retornar à nossa cidade natal, definitivamente. Não fui aprovada, assim também como ocorreu no ano seguinte, a ansiedade para que mais um desistisse do curso foi grande, pois assim eu ingressaria em Sistemas de informação, mas não aconteceu. Pensei “talvez não era esse o curso para eu me formar”. No ano de 2005, estudei em cursinhos solidários de pré-vestibular, fiz a prova do ENEM, inscrevi-me nos processos seletivos da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e UFPA e candidatei-me a uma bolsa integral do PROUNI nas duas Instituições Privadas de Ensino Superior da cidade. E neste ano, fui aprovada em três cursos: Engenharia Florestal (UFRA), Física Ambiental (UFPA) e Biologia (Faculdade Integrada do Tapajós - FIT).

Escolhi a Engenharia Florestal e a Biologia, os dois cursos se complementavam, e mesmo sabendo que demandariam praticamente todo meu tempo e dedicação, optei por cursá-los (2006). Depois de quase concluindo o 2º semestre de Biologia, fui obrigada, conforme descrito em uma carta enviada pela Faculdade, a escolher um dos dois cursos, pois não poderia usufruir de uma bolsa de estudo do Programa do Governo Federal estando matriculada em outra Instituição Federal, no caso a UFRA/Tapajós. Mesmo tendo aprendido bastante, seja no curso, seja no convívio com as pessoas, pelos bons amigos que conquistei, deixei a Faculdade particular e optei pela Engenharia Florestal.

Durante cursar a Engenharia Florestal, estagiei no Bosque Meckdece através do Projeto de “Silvicultura e Ecologia de Espécies Arbóreas Potenciais para Reflorestamento e Sistemas Agroflorestais no Oeste do Pará”; fui aprovada no estágio do Laboratório de Tecnologia da Madeira para fazer parte do Projeto “Estudo fitossociológico e tecnológico de novas espécies madeireiras em três áreas de manejo florestal sustentável em assentamentos agrários na região de Santarém, PA”. Porém, fiquei pouco tempo neste, pois fui convidada a estagiar na Secretaria de Estado Agricultura (SAGRI). Esperava ter aprendido mais no estágio da SAGRI, sobre assuntos relacionados a minha área de estudo, ao meio rural, porém fui limitada a algumas atividades administrativas. Além disso, participei de simpósios, eventos, oficinas, ciclo de palestras e, juntamente com colegas, tive trabalhos publicados nesses eventos. Ainda durante a Graduação, trabalhei em horário especial, através de uma parceria da Universidade com a Prefeitura de Santarém, no Cadastro Multifinalitário da cidade.

No ano de 2010, conclui a Graduação e, no ano seguinte, fui aprovada em 1º lugar para a Especialização em Agroecologia da Amazônia, na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Foi um aprendizado satisfatório que me fez ter novas visões sobre práticas sustentáveis e produção orgânica. Em 2012, inscrevi-me para a seleção do Mestrado em Ciências Florestais na UFRA/Belém e, antes de concluir a Monografia da Especialização, intitulada “Produtos florestais não madeireiros comercializados por comunitários da Floresta Nacional do Tapajós”, recebi a notícia da aprovação. Porém, neste mesmo ano, finalizei e defendi a monografia, já tendo iniciado o Mestrado.

Em Belém, na companhia de meu namorado, agora Esposo (ele cursou a Especialização e o Mestrado comigo); segui os anos de 2012 e parte de 2013 creditando as disciplinas da Pós-graduação. Morei nesse período na casa da Sra. Maria da Paz, que nos acolheu gentil e atenciosamente, sem mesmo antes nos conhecer. Foi um período de grande aprendizado, tanto nos estudos, quanto pessoalmente. Foram, maior parte das horas do dia, dedicadas às atividades do Mestrado. Morava perto da Universidade e, por isso, passava a maior parte do tempo na mesma. Em 2013, retornei para Santarém e escrevi a Dissertação, intitulada “Capacidade produtiva em floresta de planalto no baixo Tapajós, Amazônia Oriental” e a defesa ocorreu em Belém, no ano de 2014.

A preocupação em ingressar no mercado de trabalho foi aumentando à medida que ia finalizando o Mestrado e foi assim, ainda por uns meses depois que defendi a Dissertação. Em 2015, surgiu a oportunidade de trabalhar em uma empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, a Consulte Projetos Agrícolas Ltda., que ganhara em um processo de licitação, do INCRA, para prestar serviços nos assentamentos do município de Rurópolis – PA. Infelizmente, por burocracias, falta/inconstância de repasse verba para a empresa por parte do INCRA, falta de comprometimento da empresa para com os funcionários, os trabalhos no município não obtiveram sucesso e a empresa paralisou as atividades, enquanto os funcionários, incluo-me aí, não foram remunerados pelo tempo em que trabalharam. Este é um problema que ainda perdura até hoje, mas que estão sendo tomadas providências.

Ainda em 2015, retornei para Santarém decepcionada com a experiência de trabalho mal sucedida. Neste ano, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA) abriu concurso para docente, inscrevi-me e, ao final, obtive classificação em 4º lugar para a vaga de Santarém, não acreditava que pudesse ser nomeada ainda, já havia se passado alguns meses, já era o ano de 2016. Nesse período, casei e, após duas semanas de casada, fui convocada pelo Instituto para uma vaga de aproveitamento; optei pelo município de Óbidos por estar mais próximo de minha cidade e família. Meu esposo, por estar lotado no IFPA/Santarém, não pôde vir morar em Óbidos comigo. Esperamos que eu possa conseguir remoção para Santarém.

Estou há seis meses trabalhando no Instituto como professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, porém o curso para o qual fui chamada para ministrar aulas ainda não está funcionando, mas as atividades estão previstas para iniciar no próximo mês (abril/2017). Passei pelo processo de criação do Plano Pedagógico de Curso (PPC) e vários outros documentos que me ajudaram a atender melhor a dinâmica do Instituto. O ano de 2016, foi de grandes conquistas e agradeço à minha família, pois contribuíram bastante para isso. Uma dessas conquistas e que deixou e está fazendo meu esposo e eu muito felizes, é o fato de estarmos “grávidos”. A questão que nos incomoda é a distância, “como será depois que tivermos nossa filha?”. Estamos nos planejando para lidar com isso.

No momento, estou tendo a oportunidade de cursar a Especialização em Docência para a Educação Profissional, Científica e Tecnológica, oferecida pelo IFPA/Campus Itaituba, e espero aprender e ampliar minha visão sobre uma Educação Profissional articulada aos princípios pedagógicos.  E dessa forma, a cada nova etapa da vida, conhecendo novas pessoas, adquirindo novos aprendizados, refletindo sobre conhecimentos dantes adquiridos, é que busco aprimorar a minha percepção sobre o ambiente onde trabalho e fora dele.