1 APRESENTAÇÃO

O trabalho em questão trata-se de um memorial no qual apresenta-se o percurso traçado durante a graduação, enfatizando os trabalhos realizados e as rotinas vividas durante a formação docente, principalmente, em períodos de aprendizados práticos como o estágio supervisionado e produções textuais, desde trabalhos acadêmicos até científicos realizados sob orientação dos professores. A palavra memorial é derivada do latim “memoriale” que significa a escrita de recordações, caracteriza-se como uma “autoavaliação, instrumento das coerências, incoerências e das relações estabelecidas durante o período de realização recordando as memórias” (NIEDZIELUK, 2011). Assim sendo, o memorial acadêmico é um trabalho em que se realiza a descrição do caminho percorrido antes e durante a graduação enfatizando os acontecimentos relevantes e as conquistas alcançadas no período relatado, podendo efetivar uma autoavaliação, analisando a si mesmo, suas atitudes, sendo ainda um mecanismo de coerências e/ou incoerências, registrando memórias. Por este memorial busca-se expor detalhes da minha vida pessoal, profissional e acadêmica, destacando relatos de acontecimentos que marcaram e influenciaram significativamente nos meus estudos, além de apontar as experiências profissionais adquiridas até aqui e os momentos relevantes da graduação que fizeram parte do caminho percorrido. 6

2 RECORDAÇÕES: VIVÊNCIAS, CONQUISTAS E APRENDIZADOS

Sexta filha do casal Hulda de Campos dos Santos e Francisco de Assis dos Santos. De família humilde, minha mãe sempre trabalhou como doméstica, não chegou a cursar a Faculdade, pois pôde estudar apenas até a terceira série do ensino fundamental devido a problemas de saúde, pois, como afirmou algumas vezes, sentia muitas dores na cabeça e isso afetava sua concentração e o seu aprendizado. O papai também não teve oportunidade de cursar o ensino superior, não pôde adentrar em qualquer nível de ensino, porque desde a infância viu-se obrigado a trabalhar para ajudar sua família que tinha condições precárias e a cultura ser muito diferente, visto que seus pais nunca viram “futuro” nos estudos e, segundo ele, acreditavam que o trabalho precoce era fundamental. Na minha infância, os esforços foram muitos para colocar todos os filhos na escola, pois éramos em seis e as condições financeiras sempre foram precárias, logo que papai trabalhava como pedreiro e boa parte da renda acabava indo para os ajudantes e restava pouco dinheiro para sustentar “a casa”. Além disso, assim como seus pais, ele não via futuro nos estudos e acreditava que “a escola formava vagabundos”; Dessa forma, quem se esforçou muito para que todos os filhos estudassem foi mamãe que logo procurou meios para matrículas em escolas da rede pública e de conseguir recursos financeiros, através de programas governamentais, como o Bolsa Escola, o atual Bolsa Família, que ajudou muito na compra de materiais escolares, fardamentos, calçados e, muitas vezes, alimentos. Aos poucos meu pai foi percebendo que os estudos traziam resultados positivos, pois viu nossa dedicação na leitura de livros, aprendizado de matérias e conteúdos trabalhados, melhora na fala de seus filhos, boa capacidade para diálogos, e começou a incentivar, da maneira dele, brigando quando seus filhos não queriam estudar e faltavam na escola, quando “matavam” aulas e chegou a falar várias vezes para mim: “Minha filha você será uma engenheira ou uma advogada, meu sonho é um dia te ver dando ordens em vários homens para que trabalhem!”. Imagino que tenha dito essas afirmações porque via-me debruçar nos livros. Muitas vezes, minha mãe acordava-me pela manhã e retirava os livros da minha cama, pois tinha dormido sobre eles, devido ter passado a madrugada estudando para fazer provas ou alguma apresentação de trabalho da escola. 7 Ainda na minha infância não podia brincar de bonecas, pois meu pai proibia, assim, minha mãe comprava carrinhos e eu corria pelo quintal com eles, sentia-me uma motorista de caminhão, enchia o peito de orgulho e falava para minha mãe: “Olha mãe sou uma motorista de caminhão e faço boas manobras!”. Mamãe apenas sorria e perguntava se tinha terminado as tarefas da escola, eu respondia que sim, então, pedia para que buscasse o caderno para mostrá-la e mostrava cada uma, todas já realizadas. Quando não conseguia fazer sozinha ela sempre me ajudava, mesmo não tendo um nível elevado de ensino, esforçava-se para me ajudar. Devido a esse esforço intenso de minha mãe que hoje estou na posição em que me encontro, pois desde o ensino infantil até a graduação ela tem sido a minha base, assim como meu pai também foi até o seu último dia de vida, um homem muito dedicado à família, ao trabalho, que compartilhava conosco as suas experiências e nos ensinava como o mundo é, aconselhava-nos sempre que tinha oportunidade, acompanhava também o nosso desenvolvimento na escola, não tanto quanto minha mãe por causa das ocupações que lhe tomavam muito tempo e, em vista disso, não podia presenciar às reuniões, mas assim que ocorria alguma problemática referente aos estudos, chamava nossa atenção para que nos dedicássemos mais e destacava muito o fato de não querer que seus filhos não tivesse instrução como ele não pôde ter, por suas dificuldades terem sido maiores, logo que precisou sair de casa aos dezesseis anos por problemas familiares. Com o falecimento do meu pai no início do ensino médio, quando tinha 14 anos, confesso que fiquei muito abatida e meu rendimento escolar caiu significativamente. Comecei a ter problemas de concentração, tinha crises de ansiedade constantemente e muita vontade de chorar, minha mãe ficou depressiva, ao mesmo tempo foi diagnosticada com câncer de pele, o que acarretou mais problemas emocionais e psicológicos para mim, desestabilizando-me totalmente. Apesar disso, fiz o possível para trazer bons resultados quanto ao aprendizado, às notas e comportamento em sala de aula. Nesse período senti a necessidade de trabalhar, visto que o salário que minha mãe recebia era pouco. Portanto, iniciei atividades laborais na casa de uma mulher que me ofereceu um emprego provisório, com isso conseguia comprar os materiais escolares que precisava, roupas, sapatos, fardamentos e ainda comprei o meu primeiro celular. Quando estava concluindo o ensino médio surgiu o desejo de cursar o ensino superior. No terceiro ano tentei fazer pela primeira vez o Enem, mas não consegui 8 devido o registro geral estar com dados errados, por isso, não foi possível realizar a inscrição. No outro ano consegui, porém, minha média não foi suficiente para alcançar bolsa de estudos, pois não tinha condições para pagar a faculdade. No intervalo, entre os 16 aos 18 anos, dediquei-me a participar de palestras motivacionais, profissionalizar-me através de cursos profissionalizantes, alguns gratuitos, presenciais e online, e outros pagos que custeava com o dinheiro que recebia quando trabalhava em um comércio localizado ao lado da minha casa. Além de conseguir ainda bolsas oferecida pelo Pronatec, um programa governamental que cedia auxílio financeiro para custear os gastos durante a realização dos cursinhos. Mas não abandonei o desejo de cursar a graduação. Em vista disso, na minha fé, pedi muitas vezes a Deus um emprego para poder custear os meus estudos de nível superior. Meses depois que completei 18 anos consegui meu primeiro emprego em um supermercado, com carteira assinada e ganhando um salário mínimo que, com os descontos, ficava com valor inferior, mas também com esse dinheiro iniciei um consórcio de uma moto Pop 110, no mesmo ano que comecei trabalhar, pois percebi a necessidade de ter um veículo mais rápido que a bicicleta que tinha ganhado de minha mãe. Além de que, se começasse a faculdade, como estava planejando, não daria de ir de bicicleta por causa do horário e a distância. No outro ano, matriculei-me na faculdade para cursar Licenciatura Plena em Letras e comecei finalmente a estudar o ensino superior na Faculdade de ItaitubaFAI. Como não tinha outro transporte, além da bicicleta, quem levava-me para estudar era um namorado que tinha na época, uma pessoa que foi praticamente um anjo na minha vida, muito dedicado e que me ajudava em quase tudo que se relacionava à minha graduação. Desse modo, pude prosseguir com o tão sonhado curso superior. Porém, em 2016, sofri acidente de trânsito quando saía do trabalho e precisei ausentar-me da empresa por 2 anos e 5 meses, contudo, esforcei-me para continuar a estudar. Nos meses que precisei me afastar da faculdade realizei os trabalhos em casa, pois quebrei os dois ossos da pena esquerda e precisei passar por três cirurgias e um longo período de recuperação. Assim que percebia uma melhora voltava a estudar, recordo-me de ir com a perna ainda imobilizada somente para não perder aulas, pois amava assisti-las. O namorado que tinha, e os familiares dele, continuaram a ajudar e não me deixaram nesse momento tão delicado, meus professores e amigos apoiaram-me 9 muito, assim como minha família, principalmente, minha mãe e minha irmã do meio que dedicaram muito tempo a cuidados comigo, pois estava completamente dependente. Recuperei-me e retornei definitivamente às atividades escolares e ao meu emprego, porém, fui demitida dois meses depois. Ainda assim não me preocupei com os custos da faculdade, pois tinha conseguido passar no vestibular do Enem e alcançado bolsa parcial pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) além de bolsa integral da Capes pelo Programa Residência Pedagógica (PRP) que dá um auxílio financeiro de R$ 400,00, este que se tornou um auxílio financeiro muito importante para pagar a mensalidade e pagar os gastos que tinha com estágio, em especial com a gasolina do transporte que usava, a moto que tinha feito o consórcio e que já estava em minha posse. Em consoante, posso afirmar que a educação recebida em casa e na escola tornaram-me um ser humano responsável e uma cidadã decente em uma sociedade cada dia mais doente, mergulhada em mazelas e corrupção, pois apesar da condição financeira muito reduzida, meus pais deram exemplos de pessoas honestas e mostraram que é por meio do trabalho que se consegue crescer sem precisar tirar do outro para si e, ainda assim, sustentar a si mesmo e aos seus sonhos, além de suprir as necessidades básicas de sobrevivência e conquistar itens inimagináveis, caso administre bem os seus ganhos. Por conseguinte, apesar das dificuldades enfrentadas, tenho sido uma boa pessoa que se dedica aos estudos e, em especial, à educação, por acreditar que ela pode sim trazer um futuro maravilhoso para a nação, baseado em respeito, empatia, amor pelo próximo e conhecimento suficiente para entender que necessitamos do outro, por isso, devemos respeitá-lo e sermos educados. Ao me formar serei a primeira entre os filhos a receber o título de graduação e realizarei o sonho de meus pais de ver pelo menos uma de suas proles formada em um curso de nível superior. Atualmente tenho 23 anos e atuo diretamente com a produção textual, pela qual sempre fui apaixonada, mas na graduação esse amor criou raízes. Tenho conquistado diversas publicações de trabalhos científicos em anais de eventos, revista científica de universidades e em alguns livros, porque recebo muito incentivo de minhas professoras, em especial das docentes Maria Danielle Lobato Paes, Raquel Batista Silva e Caren Kluska. Além disso, trabalho com a produção jornalística em um portal de notícias local onde posso evidenciar minha vasta experiência com a escrita de textos que alcancei no decorrer dos anos. [...]