Ciro José Toaldo (Orientador/FINAV)

Micheli Evangelista Rodrigues (Acadêmica/FINAV)  

O sentimento de pertença a um grupo negro define a identidade de sua comunidade, fortalecendo a imagem e as características que os mantém unidos desde sua formação. A questão da memória e identidade de um grupo está diretamente correlacionada ao reconhecimento identitário grupal é reafirmar e reforçar a organização social e cultural dos Dionísios, de maneira que possam ser reconhecidos como remanescentes, do qual dispõem de traços culturais e históricos patrimoniais. Respeita-los é promover oportunidades igualdade, sem que seja necessário priva-los de seus hábitos.

Furnas do Dionísio é uma comunidade que apresenta uniformidade em sua organização social, cultural e econômica. A memória da comunidade em relação aos fatos e histórias ocorridas no passado está simultaneamente vinculada ao processo de transformação pelo qual tem passado de geração em geração.

Um dos inimigos das comunidades negras é o esquecimento, pois elas têm por objetivo captar e compreender o mundo de forma contínua, procurando manifestar as relações que têm com o passado e dando-lhe sentido, de modo a que possa viver o presente e se preparar para o futuro, sempre dentro do seu  contexto histórico. 

Essa comunidade, que situa-se em Jaraguari (MS), a poucos quilômetros da capital, Campo Grande, luta para que não aconteça sua desagregação. Todo empenho da memória coletiva compreende numa luta contra o esquecimento, deixando sempre viva as lembranças dos seus primórdios, deixar essas lembranças se apagarem através dos tempos contribuí para o desaparecimento do grupo.

Pelas pesquisas feitas em Furnas de Dionísio, a comunidade mantém viva muitas de suas tradições, como festas, modo de produção artesanal, organização social, entre outros, porém, um detalhe muito importante deve ser levado em consideração, quanto a gradativa aculturação dos membros mais jovens. Entende-se por aculturação a influência externa no cotidiano da comunidade, o que pode criar um caráter degradante de determinada cultura.

O que chama a atenção é a influencia da mídia na rotina dos jovens e das crianças que faz com que muitos procurem se adaptem a novos estilos, promovendo um desinteresse em resgatar as histórias e os hábitos deixados pelos ancestrais deste remanescente quilombola. Fica a pergunta: esses mesmos jovens não poderiam acumular novos saberes sem deixar de considerar as manifestações históricas e culturais de sua própria comunidade? Esse contato cultural caracteriza-se como uma aculturação “harmônica”, pois esse contato implica na desvalorização de vários sistemas culturais e isso acarreta uma mudança na cultura na comunidade de Furnas do Dionísio.

Contudo, para tentar sanar esta defasagem, as lideranças desta comunidade, buscou como alternativa, promover uma organização em um  trabalho com os membros da comunidade como  forma de resgatar sua cultura mostrando aos jovens a importância da continuidade e preservação da historia da comunidade, para que a história da comunidade não se perca no tempo, pois independente das dificuldades que encontraram no decorrer de sua formação prevalece à questão da luta digna para ser reconhecida e respeitada sócio culturalmente.

Atualmente estão sendo recolhidas peças que para comunidade são de suma importância para futuramente ser colocada em museu em homenagem a Dionísio. Uma das visitas feitas na comunidade foi possível conhecer as referidas peças. Também foi visitado a casa que pertenceu a  Dionísio, bem como o mastro de Santo Antônio, que era usado para levantar a imagem de Santo Antônio nas missas de sua homenagem, além de conhecer engenhos totalmente primitivos e a forma de produção de farinha de mandioca.

A CULTURA DE DESENVOLVIMENTO

A cultura tem funções sociais, com características mais importantes para o estimulo em Furnas do Dionísio e o desenvolvimento se dá com seus próprios conteúdos e formas que vão se adaptando aos estímulos do presente e futuro  a cultura é influenciada pelos agentes sócios culturais locais.

A cultura popular local simboliza o homem a um tipo de consciência e de importância social. Sua valorização permite fortalecer a individualidade e autoestima frente ao mundo e dá sentido à comunidade humana, na busca do desenvolvimento da própria criatividade, em conformidade com seus valores.

Ou seja, a melhor ajuda para a libertação de um povo é aquela dirigida à conservação e recuperação de sua identidade e de sua cultura porque as culturas têm potencialidades capazes de revitalizar as sociedades. Assim, o aspecto mais importante dentro do desenvolvimento local é trabalhar junto às comunidades de modo que se possam avaliar suas potencialidades e reverte-las em produtos para o desenvolvimento; pois a cultura local pode ser um relevante no processo de progressão, na medida em que fortifica a história, as tradições, o patrimônio e até mesmo a identidade cultural de uma localidade. Essa questão  promove a melhoria na qualidade de vida, uma vez que seja induzida por atividades que reforcem o sentimento de pertença e orgulho em relação ao território, pois é um meio de garantir a sobrevivência e o desenvolvimento. Não existe desenvolvimento satisfatório e sustentável que não reconheça a força vitalizadora da cultura.

A valorização dos recursos naturais e humanos, assim como o resgate dos aspectos culturais tradicionais deve ser característica de um processo que combina a inovação das estratégias de ação com o aproveitamento dos recursos históricos, tradicionais e culturais para a promoção de atividades que envolvam a população dentro de uma identidade comum.

Relacionando as teorias até então discutidas com a realidade da comunidade de Furnas dos Dionísios, pode-se vislumbrar inúmeras potencialidades a serem trabalhadas a favor de seus membros. Em 2000, o SEBRAE/MS, em parceria com o PNMT (Plano Nacional de Municipalização do Turismo), elaborou um levantamento das potencialidades turísticas que a comunidade apresenta. Naquele momento, foram abordadas as potencialidades culturais, como por exemplo, as produções artesanais; e ambientais, por ser um local propício para a realização da atividade junto à natureza.

O Governo do Estado também contribui para o desenvolvimento sócio cultural, preservando e disponibilizando recursos para que a comunidade se torne mais independente e ativa na busca por condições equitativas. A Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) apresentou à comunidade no ano de 2001, um projeto na área de desenvolvimento local, que possibilitará o alçamento de suas potencialidades para que estas sejam trabalhadas projetos futuros. No momento, a UCDB está buscando reativar técnicas e fomentos na área agrícola para que possam melhor trabalhar o cultivo da terra. Posteriormente, buscar-se-á potencializar as alternativas de desenvolvimento para promover benfeitorias locais.

Na comunidade, o fator cultural aparece como vetor do desenvolvimento, mas o mais importante que se deve considerar é que ela está ciente de suas potencialidades locais e gradativamente vem abrindo caminho para o desenvolvimento sem, no entanto, perder as características que a originaram. Independente da forma com se apresenta, a cultura acima de tudo contribui para valorizar as potencialidades coletivas, tornando-se dessa forma um instrumento que mantenha a integridade e autoestima de Furnas do Dionísio.