Melhoramento genético e tolerância de plantas à salinidade
Publicado em 27 de novembro de 2009 por Ivan Brscan
A degradação ambiental do solo pela salinidade é um problema muito
antigo e de extensão mundial, sendo, geralmente, mais pronunciado nas
regiões áridas e semi-áridas do globo terrestre.
Salinização é o processo pelo qual sais solúveis se acumulam ao
longo do perfil do solo. Os sais solúveis que contribuem efetivamente
para salinizar o solo consistem, normalmente, das várias proporções de
cátions de sódio (Na+), cálcio (Ca++) e magnésio (Mg++) e dos ânions
cloreto (Cl-), sulfato (SO4--), bicarbonato (HCO3-) e, às vezes,
carbonato (CO3--).
A salinidade dos solos é caracterizada por dois aspectos únicos:
baixos potenciais osmóticos e altas concentrações de Na+ e outros íons
específicos (Cl-, SO4--, HCO3-, etc.), que podem ser tóxicos às plantas.
De acordo com informações da literatura, a salinidade afeta
diretamente o crescimento das plantas pelas seguintes maneiras: 1)
redução do potencial osmótico da solução do solo; 2) acumulo de íons
específicos no tecido vegetal, em concentrações tóxicas; e 3) alteração
do aspecto nutricional da planta.
Sob certas circunstâncias, torna-se difícil e/ou economicamente
inviável manter baixo nível de salinidade no solo, como no caso em que
a água disponível à irrigação é salina, a profundidade do lençol
freático é pequena ou a permeabilidade do solo é deficiente.
Nestes casos, entretanto, existem duas formas de se minimizar os
problemas da salinidade: 1) selecionar criteriosamente as culturas ou
cultivares que possam produzir satisfatoriamente sob condições de
salinidade, isto é, melhorar as plantas, visando a sua adaptação ao
solo; e 2) adotar práticas adequadas de manejo do solo, para reduzir ao
máximo a salinidade e proteger as plantas, ou seja, melhorar o solo
para atender à tolerância das plantas. A segunda opção compreende
realização de melhorias em projetos de irrigação e drenagem, o que
significa gastos elevados para sua efetivação. Portanto, a alternativa
mais viável seria a seleção de plantas tolerantes à salinidade,
associada a um programa de melhoramento genético.
Para que uma espécie vegetal possa ser melhorada por seleção, é
preciso que apresente variabilidade genética com relação à
característica desejada – no caso, tolerância à salinidade. Pois, a
seleção não cria variabilidade, mas sim atua sobre a já existente.
A variabilidade genética da planta refere-se à característica
hereditária de uma espécie ou cultivar que mostra diferença de
crescimento ou produção em comparação com outra espécie ou cultivar,
sob condições ambientais ideais ou adversas.
Nem todas as plantas respondem de maneira semelhante à salinidade;
algumas são capazes de produzir satisfatoriamente em níveis de
salinidade do solo elevados, em que outras não o conseguiriam. Segundo
vários autores, a tolerância à salinidade e/ou sodicidade varia de
cultura para cultura e, dentro de uma mesma espécie, de acordo com a
cultivar e o ciclo fenológico. Há casos em que as diferenças entre
cultivares são maiores que entre espécies.
Uma vez selecionadas as cultivares tolerantes, estas podem ser
usadas para a produção, se forem economicamente produtivas, ou
utilizadas em programas de melhoramento de germoplasma, para a
incorporação desta característica em outras cultivares agronomicamente
mais promissoras.
Portanto, além da necessária recuperação do solo, o uso de
cultivares tolerantes à salinidade pode ser uma ação complementar para
produzir em solos salinizados; havendo possibilidade de solucionar o
problema da salinidade por meio da seleção e melhoramento genético de
plantas.
Julio Roberto Araujo de Amorim é pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros