Mea-culpa

Depois de tantos anos, culpando sempre os outros por suas decisões e atos impensados, por seus fracassos, colocando debaixo do tapete sua insegurança, sua baixa autoestima, deu tempo ao tempo para fazer uma introspecção. Precisava conhecer-se.

Quando tudo começou? Pensou ser quando criança ao brigar com um colega de sala. Sua mãe foi chamada ao colégio, e após ter conversado com a diretora, defendeu-o, colocando toda culpa do ocorrido no outro, sem saber o que de fato tinha acontecido. Mas ele sabia a verdade, e mesmo assim sentiu-se importante, levando vida afora a Síndrome de Adão, fazendo com que sentisse sempre, que a culpa de tudo, foi, é, e será sempre do outro. Pobre menino bonzinho. Nada fazia de errado. Como se possível fosse.  

Reviu-se ao ser demitido do último emprego, quando culpou um colega pelo acontecido. Não percebeu que seus atrasos diários, o serviço inacabado deixado na gaveta, seu tempo a mais no cafezinho, as últimas notícias quentinhas trazidas por ele à boca pequena, tinham influenciado a decisão de seu chefe. Durante anos sentiu raiva desse colega, responsabilizando-o por sua demissão. Melhor pensar assim, do que admitir que não era tão capaz quanto pensava.

Lembrou-se de seu tempo de estudante, quando demorou mais tempo que seus colegas para concluir os estudos. Culpou o colégio, o modo como era avaliado pelos professores, os colegas que faziam parte de seu grupo de estudos, e que aos poucos foram se afastando, até que ele ficasse sozinho. Não se ateve a pensar que ninguém gostava de carregar nas costas, alguém que sempre arrumava desculpas por nada fazer, e colocava no outro o motivo pelo qual isso acontecia.

Pensou friamente no término de um namoro, que já durava mais do que o tempo necessário. Passou por momentos de tristeza e revolta. Culpou a família de sua namorada pelo ocorrido. Não percebeu que a insegurança em relação ao futuro, pesasse tanto quanto o amor que aos poucos foi-se esvaindo.

Foi doído conhecer-se sem subterfúgios, tirar a venda dos olhos, olhar-se no espelho e ver que o quão pequeno era, ao culpar o outro por todas as coisas que a ele tinham acontecido.

Sentiu-se infantilizado, morador eterno da Terra do Nunca!             E agora, o que deveria fazer?                                                       Reconhecer que o erro é inerente ao ser humano, e assim sendo, vê-lo como caminho para o aprendizado do bem viver?                     Pegar as rédeas de sua vida, dar um basta em tudo, começar do zero? Reescrever-se?                                                                       Livrar-se da vitimização?                                                     Precisava encontrar respostas para as perguntas que o acompanhavam.                                                                               E as encontraria. Certamente.