Abro o Facebook e lá vejo a lista dos aniversariantes do dia. Como de hábito, não deixo de cumprimentar a todos, mas o que me incomoda é que o Mauro Dias ainda aparece na lista, mesmo tendo falecido em 1 de fevereiro de 2016 por conta de uma doença que apareceu sorrateira e sem chances de cura. Abro a sua página e lá o vejo, sorridente, de bem com a vida. Não resisto e aproveito para escrever algumas loas ao velho jornalista e crítico musical, lembrando que já não está entre nós, pois vários dos seus amigos ainda o cumprimentam por mais um aniversário.

Mauro Dias foi um amante da música e um dos seus prazeres era festejar e incentivar os novos talentos e pensando nisso, abriu um espaço numa galeria no bairro Barra Funda em São Paulo, chamado Mauro Discos, onde além do comércio de discos, era um espaço para a apresentação de novos cantores e compositores, onde tive a feliz oportunidade de conhecê-lo em 2009. Era um show da cantora e compositora Mariane Mattoso. Durante o longo papo, falamos de música de hoje e de ontem, criticamos os ruins e elogiamos os bons naquilo que eles tinham de realmente bom e no que tinham de ruim.

Enquanto conversávamos, conheci sua esposa, Cristina Vechio, nascida no velho Ipiranga, que contou um pouco sobre seu antepassado famoso. O Conde José Vicente de Azevedo, um político e filantropo que era proprietário de praticamente a metade do bairro. O Conde era um homem religioso e focado em atividades beneficentes, razão pela qual, deixou todos os seus bens para uma fundação voltada para a comunidade pobre. A fundação ainda hoje existe e cumpre rigorosamente o papel desenhado pelo seu fundador. Segundo ela, o testamento do conde foi uma decepção para todos os seus filhos e netos que esperavam receber algum quinhão da imensa fortuna. Mas por outro lado o Conde tinha uma preocupação de que todos os seus descendentes tivessem uma boa educação para não depender dos seus bens no futuro e financiou os seus estudos. Despois dessa conversa, ficamos refletindo se todos os grandes milionários fizessem o mesmo, talvez o mundo fosse melhor.

Mauro Dias nasceu em Florianópolis, Santa Catarina, mas foi criado em Niterói, Rio de Janeiro. Escreveu para vários jornais, como Última Hora, O Globo e O Estado de São Paulo, sempre na área de música, sua grande paixão. Falou sobre sua longa carreira de jornalista dedicado a crítica musical, com todos os seus gostos, desgostos e tropeços. Aposentado, confessou que valeu a pena, pois sempre trabalhou com amor no que fazia.

Neste encontro estava feliz com o seu empreendimento voltado para os novos talentos da música popular brasileira e via na cantora e compositora Mariane Mattoso, uma grande revelação pela qualidade e sofisticação de suas composições. Mauro nem imaginava que em poucos anos sua vida seria encerrada por um tumor no esófago, num local impossível de ser tratado. Deixou quatro filhos.