INTRODUÇÃO

As Matas Ciliares são formações florestais às margens de ambientes aquáticos, constituem um ambiente complexo com condições mesoclimáticas distintas, atribuídas as temperaturas mais amenas e a maior umidade atmosférica desse local. As relações desempenhadas entre o ambiente aquático e o vegetal terrestre que margeia os cursos de água fazem com que diversos autores considerem inúmeras denominações, caracterizações e funções para esta vegetação (CARVALHO, 1996).
De acordo com MARTINS (2001) e RODRIGUES (2000) as formações florestais localizadas ao longo dos rios e no entorno de nascentes, lagos e reservatórios são denominadas na literatura como floresta ou mata ciliar, mata de galeria, floresta beiradeira, floresta ripária, floresta ribeirinha e floresta paludosa, mas para efeitos de recuperação e legislação, o termo mata ciliar tem sido empregado para defini-la de forma genérica.
As formações ciliares têm o papel de promover a estabilidade das comunidades florísticas e faunísticas em suas diferentes biotas e funciona como filtro de escoamento superficial tanto pela densidade de sua copa, como pelo material da serapilheira, recupera as nascentes garantindo água em qualidade e quantidade e melhora as condições hidrológicas do solo (BORGES, 1995). Possui também as funções de contenção dos processos erosivos; manutenção da biodiversidade; garantir a existência da fauna ictiológica aumentando o estoque de pescados. Segundo JOHNSON (1999) é demonstrado que a comunidade de mamíferos não voadores das matas de galeria no cerrado é distinta das comunidades de mamíferos de qualquer outro tipo de fisionomia do cerrado. Além disso, as matas de galeria contêm duas vezes mais espécies comuns às matas úmidas que as outras fisionomias do cerrado (sensu latu) reunidas. As matas de galeria parecem fornecer hábitat dentro do cerrado (sensu latu) para mamíferos das matas úmidas, aumentando a biodiversidade deste bioma. Assim, as matas de galeria podem funcionar como corredores de dispersão para estas espécies.
A Mata ciliar destaca-se por sua riqueza, diversidade genética e pelo seu papel na proteção dos recursos hídricos edáficos, fauna silvestre e aquática (RIBEIRO, 1998).
Com o objetivo de verificar a influência de remanescentes de vegetação ciliar e da ação antrópica na qualidade da água DONADIO et al. (2005) estudaram quatro nascentes, sendo duas com a presença de vegetação natural remanescente e duas com predominância de atividades agrícolas e concluíram que a presença de remanescentes de vegetação de mata ciliar auxilia na proteção dos recursos hídricos.
Percebendo a importância das atividades para recuperação de áreas degradadas,o objetivo desse trabalho é através da revisão da literatura, ressaltar a importância da preservação das formações ciliares, tanto no aspecto ecológico, quanto ao aspecto diretamente relacionados à proteção dos mananciais e demais corpos de água, identificando os principais modelos de recuperação de mata ciliar e de nascentes a partir da utilização dos conhecimentos científicos existentes.

Recuperação de matas ripárias nas nascentes

Para recuperação de um ecossistema florestal ciliar com abordagem científica, devem-se conhecer vários fenômenos próprios deste ecossistema, compreendendo os processos que levam a sua estruturação e manutenção, utilizando destas informações para elaborar, implantar e conduzir projetos de restauração da vegetação ripária. A restauração de formações ciliares tem possibilidades ampliadas, quando inseridas no contexto de bacia hidrográfica, ressaltando a questão hídrica, o uso adequado dos solos agrícolas do entorno e da própria área a ser recuperada, a preservação da interligação de remanescentes naturais, a proteção de nascentes e olhos d’água (RODRIGUES & GANDOLFI, 1996).
A escolha adequada das espécies é um aspecto fundamental para a implantação de programas de restauração de mata ciliar. Considerando a adaptabilidade diferencial das espécies para cada condição ambiental identificada na faixa ciliar, que vão apresentar particularidades nas diferentes regiões fitogeográficas. (SILVA et al., 1998). Portanto a escolha das espécies representa umas das principais garantias de sucesso na restauração, pois durante o surgimento e a evolução de uma floresta, as espécies demonstram exigências ambientais e biológicas muito específicas (RODRIGUES, 2000). Desta forma, a sucessão florestal, deve ser entendida não como uma simples substituição de espécies no tempo, mas sim como a alternância de grupos ecológicos ou categorias sucessionais. A priorização pode ser feita de muitas maneiras distintas, produzindo um maior ou menor refinamento de resultados. KENTULA (1997) trabalhando num contexto de microbacias, sugere os seguintes passos para chegar-se a definição de prioridades: caracterização da microbacia, identificação das questões chave, documentação da situação atual, descrição de condições consideradas como referências, identificação de objetos, o resumo das condições e determinação das causas.
Para as formações ciliares, as atividades relacionadas com a vegetação empregada na tentativa de restauração dos processos ecológicos pode ser o simples isolamento, evitando a continuidade do processo de degradação, preservando os processos naturais da comunidade como regeneração de espécies e as interações bióticas. Isso ocorre onde a resiliência da área foi mantida. A correta identificação e a retirada de fatores que causam a degradação de uma área ciliar são aspectos básicos que devem ser resolvidos antes da implantação de qualquer manejo da área. Também a eliminação seletiva ou desbaste de espécies competidoras como gramíneas, trepadeiras e bambus, a tranferência ou transplantes de propágulos alóctones, o adensamento, o enriquecimento e a implantação de consórcio de espécies, ambos com uso de mudas ou sementes são indicados. (RODRIGUES & GANDOLFI, 1996 ).
A indução e condução de propágulos autóctones para clareiras de degradação dentro de uma matriz florestal ou bancos de sementes na área ou ainda propágulos oriundos das áreas de entorno são alternativas viáveis (BARROS et al., 2000).
Outra alternativa seria a implantação de espécies pioneiras atrativas da fauna, espécies essas que facilitam a sucessão, porque mantém grande interação com a fauna que visitam as copas à procura de abrigo e alimentação, atuando como polinizadores e/ou dispersores (GALETTI & STOZT, 1996) .Esses animais transportam grande diversidade de propágulos auxiliando na recuperação e as árvores pioneiras vão se tornando pequenas ilhas de restauração.
Espécies exóticas de interesse econômico, usadas como pioneiras e manejadas adequadamente podem viabilizar a dinâmica sucessional. Outra possibilidade é o plantio de espécies possíveis de exploração controlada, como frutíferas perenes, madeiras, medicinais, resiníferas, melíferas, cujo aproveitamento pode contribuir como fonte alternativa de renda para os pequenos produtores (RODRIGUES et al., 2000).

Aspectos legais relacionados as Matas Ciliares

As Matas Ciliares estão relacionadas no art. 2º da Lei nº 4.771/65 (Brasil, 2000), que abrange como áreas de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação existentes ao redor dos rios, lagos, nascentes, lagoas e reservatórios, especificando, na maioria das situações, a dimensão mínima da faixa marginal que deve ser preservada.Essa faixa poderá variar de 30m a 600m, dependendo da largura dos cursos de água. No caso das nascentes, mesmo que intermitentes, o raio mínimo de vegetação deverá ser de 50m. Para as lagoas e reservatórios, naturais ou artificiais, situados em áreas rurais, a largura mínima deverá ser de 50m, para aqueles com área de inundação de até 20ha, e de 100m para os demais. Em áreas urbanas, a faixa deverá ser de 30m.
A proteção dessas áreas foi reafirmada Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, na medida que esta lei tem como fundamento o fato de que a água, embora reconhecida como um recurso natural renovável, é um recurso de domínio público; a referenda lei objetiva, portanto, assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água , em padrões de quantidades adequados aos respectivos usos, e a prevenção e a defesa contra eventos decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.(GASPARINO et al ., 2001).
É sabido que grande parte das matas ciliares foi derrubada: algumas, depois da promulgação da proibição legal imposta pelo Código Florestal, Lei Federal 4.771/65; outras antes desta promulgação. A promulgação do Código Florestal, em 15 de setembro de 1965, serve de marco entre as derrubadas legais e as ilegais. Apenas como curiosidade: a chamada Lei Oswaldo Cruz, do inicio do século, obrigava os proprietários rurais a derrubada das matas ciliares que serviam, de abrigo e repostas pelo degradador, aquele que derrubou, e não pelo atual proprietário, como pretendem alguns. (MURGEL, 1999).

Modelos de Restauração
Conhecimentos teóricos básicos em ecologia, demografia, genética, biogeografia, informações sobre a área (ambiente físico e biológico) e tecnologia disponível são fatores que vão determinar qual o modelo mais adequado para cada situação. Para recuperação de mata ciliar, deve-se realizar o plantio máximo de espécies nativas visando restabelecer tanto a estrutura como a dinâmica da floresta. Podem ser adotados os seguintes modelos: plantio ao acaso, modelo sucessional, plantio através de sementes, regeneração natural, modelo com espécies raras e comuns e restauração em ilhas (KAJEYAMA & GANDARA, 1993) Como montar um modelo:
Escolha das espécies: A escolha das espécies para os plantios mistos depende do objetivo a que se destina a plantação: proteção às APP(áreas de plantação permanente ) ou a recuperação de AD(áreas degradadas), à produção de madeiras. Assim, a restauração se define como o plantio misto com o máximo de diversidade de espécies nativas possível , recuperando tanto a estrutura como a dinâmica da floresta. Recomenda-se o uso de espécies em APPs porque as espécies que evoluíram naquele local têm mais probabilidade de ter seus polinizadores e dispersores de sementes e predadores naturais Dessa forma as espécies nativas a serem utilizados nem local depende de um estudo florístico criterioso.
Modelo de plantio ao acaso: O modelo de plantio ao acaso, ou o plantio misto de espécies tem como pressuposto que os propágulos caem , germinam e crescem ao acaso na natureza. O modelo ao acaso foi utilizando em experiências como da Tijuca e de Cosmópolis, que em função de seu relativo sucesso foi difundido e copiado (KAGEYAMA & GANDARA,2000).A característica principal desse modelo é não dar importância às espécies nobres da floresta. Na prática o não uso de pioneiras retarda a implantação da floresta, e provoca uma menor sobrevivência das plantas exigentes de sombreamento inicial.
Modelo sucessional: A sucessão ecológica na implantação de florestas mistas é a tentativa de tornar a regeneração artificial mais parecida natural na floresta . A simulação de clareiras de diferentes tamanhos fornece condições apropriadas , principalmente de luz, às exigências dos diferentes grupos ecológicos sucessionais (KAGEYAMA & GANDARA, 2000). O modelo sucessional separa as espécies em grupos ecológicos, juntando as em modelos de plantio em que espécies iniciais de sucessão dêem sombreamento adequado às espécies finais da sucessão. Neste modelo o plantio pode ser em linhas ou em módulos.
Plantio por sementes : Esse método é interessante para ser utilizado em áreas montanhosas e de difícil acesso e onde intervenção no solo pode ser muito problemática (POMPÉIA et al., 1990). O plantio direto de sementes pode ser utilizado na introdução de espécies pioneiras e secundárias iniciais, em áreas sem cobertura florestal, bem como para a introdução de espécies pioneiras e secundárias iniciais, em áreas sem cobertura florestal, bem como para a introdução de espécies secundárias tardias e climácicas no enriquecimento de florestas secundárias. A semeadura de espécies não pioneiras somente deverá ocorrer quando já houver uma cobertura vegetal caso contrário a mortalidade será demasiada alta, inviabilizando o processo.
Regeneração natural: O primeiro passo para escolha do modelo de restauração natural é a existência de bancos de sementes ou plântulas de espécies pioneiras e áreas com vegetação natural próximas, para funcionar com fonte de sementes por dispersão natural a área de interesse. Desse modo, não há necessidade de introdução de espécies, sendo possível a utilização da regeneração natural como forma mais adequada de restauração da área. Podendo-se eliminar espécies invasoras para não retardar ou impedir a sucessão. A presença de uma significativa regeneração é comum em regiões com razoável cobertura vegetal remanescente, apresentada surpreendente diversidade (KAGEYAMA & GANDARA, 1994).
Modelos com espécies raras e comuns: nos ecossistemas naturais não perturbados as espécies podem ser raras, intermediárias ou comuns, dependendo se sua densidade pode ser baixa: menos de um indivíduo por hectare. Média um indivíduo por hectare ou alta mais de um indivíduo por hectare. Nas florestas tropicais típicas a maioria das espécies é rara. Nos levantamentos fitossociológicos cerca de 30% delas tem um só indivíduo por parcela (KAGEYAMA et al., 1991). As características de raridade e abundância serem evolutivas . Há muitos exemplos de fracassos de plantações de espécies nativas raras na natureza e plantadas como comuns: as seringueiras na Amazônia, o cedro atacado por Hypsipyla em todo o Brasil. Se as espécies são raras, devem ser plantadas como tal.Assim como as comuns devem seguir sua densidade natural.
Restauração em ilhas : Esta possibilidade surgiu a partir de pesquisas que mostram fragmentos florestais ou arvóres isoladas podem exercer um papel de atração de fauna dispersora de sementes ; Contribuindo para acelerar a sucessão ao seu redor. Para implantação das ilhas de diversidade utilizam-se dois métodos: 1) plantio de espécies pioneiras de espécies e não pioneiras em ilhas; 2)plantio de espécies não pioneiras em ilhas e espécies pioneiras em área total. O primeiro método apresenta custos menores, embora a expansão da ilha seja mais lenta para a ocupação das áreas não plantadas (GUEVARA, 1997).
Breves Relatos de Recuperação Matas Ciliares

Uma equipe multidisciplinar e interinstitucional composta por alunos e professores do curso de Agronomia em parceria com a EMATER-MG, Instituto de Ciências Agrárias e Prefeitura de Bocaiúva, em Minas Gerais, visando, a preservação e a conservação de pequenas nascentes que abastecem o rio Tabatinga, após visitar e diagnosticar o estado de preservação de seis nascentes, observou que as nascentes que ainda possuem água, apresentam formações ciliares e plantação de eucalipto distante do local ou foi abandonada. Verificaram ainda que alguns córregos, sem mata ciliar, encontram-se assoreados, infiltram e desaparecem a poucos quilômetros das nascentes e que são necessárias recomposição de matas ciliares para reduzir impactos ambientais negativos (DUARTE et al., 2005).
PINTO et al. (2005) ao estudarem a distribuição das espécies arbóreo-arbustivas ao longo do gradiente de umidade do solo no ambiente de nascentes pontuais, localizadas na bacia hidrográfica do Ribeirão Santa Cruz, Lavras, MG, verificaram a exclusividade de certas espécies nos distintos gradientes, o valor de densidade de indivíduos contrastantes para as espécies em comum nos gradientes e o padrão de distribuição espacial das espécies no entorno das nascentes demonstraram especificidade do ambiente das nascentes. Essa especificidade exige estratégias diferenciadas para conservação e recuperação de nascentes.
Em experimento visando a recuperação da cobertura florestal da mata ciliar em domínio de cerrado na Estação Experimental de Assis, SP, não houve diferença significativa entre os tratamentos puros e mistos quando as mesmas espécies foram plantadas em módulos ou aleatoriamente. Dentre as espécies nativas de mata ciliar domínio de cerrado, destacou-se pela alta sobrevivência, cobertura e crescimento de Tapirira guianensis, Anadenanthera falcata e Calophyllum brasiliense. As espécies nativas oriundas de formações florestais tiveram sobrevivência baixa ou nula, crescimento e cobertura medíocres (DURIGAM & SILVEIRA, 1999). Daí a importância na escolha de plantas adequadas para o reflorestamento em qualquer área.
FERREIRA & DIAS (2004) constataram que a mata ciliar do ribeirão São Bartolomeu em Viçosa, Minas Gerais apresentou apenas 5,7% da área que deveria apresentar de acordo com a legislação vigente, representada por nove fragmentos florestais em diferentes estágios de sucessão ecológica.
Com o objetivo de obter subsídios técnicos para orientar programas de recomposição das matas ciliares e de áreas de preservação permanente, foram avaliados a sobrevivência e o desenvolvimento, quanto à altura e o diâmetro do colo, de espécies de plantas arbóreas nativas e exóticas, conduzidas em ambientes antropizados, com características peculiares. Os resultados indicaram porcentagens de mortalidade de plantas superiores a 30% para as espécies açaí, barriguda, guapeva, mutamba, abacate, pau-d`óleo, açoita-cavalo, bálsamo, cedro, mogno, chichá, conde e caraíba, menos adaptadas a determinadas situações ambientais. As espécies goiabeira, sangra-d`água, gameleirinha, Jamelão, tamboril-da-mata, ipê-amarelo-do-cerrado, ipê-roxo e monjoleiro apresentaram o melhor desempenho em altura e diâmetro. Como conclusão sugere-se um melhor planejamento quando da seleção das espécies a serem plantadas, procurando distribuí-las segundo sua aptidão natural. (BORGES, 2000)
Segundo COSTA ( 2006 ) impactos ambientais na maioria das vezes são percebidos, quando já estão em caráter avançado, como ocorreu no Rio Meia Ponte no município de Goiânia, Goiás.
BORGHI et al. (2004) realizou um estudo com o objetivo de caracterizar uma área ciliar quanto aos seus aspectos florísticos e fitossociológicos, localizada à montante da barragem da Usina Hidrelétrica de Rosana, na Estação Ecológica do Caiuá. Usaram-se as imagens digitais obtidas pelo sensor TM+(thematic Mapper) dosatélite Landat-7, WRS (Word Referenced System) 223_076. Por meio do sistema computacional, a cena foi devidamente registrada e incorporada no banco de dados utilizando-se coordenadas obtidas a campo. A análise florística e fitossociológica foi efetuada em parcelas de 50x30m dispostas perpendicularmente ao leito do rio. Cada parcela foi dividida em sub-parcelas, identificação das espécies arbóreas foi efetuada por pesquisadores e mateiros familiarizados com a flora da região. O material necessário para comparação e identificação foi devidamente preparado, e as exsicatas armazenadas no herbário da Universidade Estadual de Maringá. Para a análise fitossociológica foi utilizado o programa desenvolvido pelo núcleo de processamento de dados da Universidade Estadual de Maringá , que forneceu os parâmetros de densidade, frenquência e dominância absoluta e relativa e os índices de valores de importância (IVI) e de diversidade de Shannon Weaver ( H´). Obtveram os resultados permitiram concluir que a mata ciliar da área à montante da barragem é uma mata de encosta que se encontra em modificação floristica e estruttural e as espécies, em função dos grupos ecológicos, identificadas na área podem ser utilizadas para recomendações de plantio em áreas ciliares que margeiam reservatórios.
Goiânia possui 80 córregos (os 42 cursos de água e seus afluentes), somados ao Ribeirão Anicuns (que nasce na cidade), o Rio Meia Ponte e o Ribeirão João Leite (que totalizam 672,59 quilômetros de extensão). A junção de afluentes totaliza 42 cursos na margem esquerda do Rio Meia Ponte. Estes 42 cursos de água estão poluídos ou contaminados. Os principais problemas enfrentados pelos cursos da Capital são decorrentes das edificações em área de preservação, processos erosivos, lançamentos de esgoto na canalização de água pluvial e lançamentos de esgoto in natura no manancial. De acordo com informações da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a retirada da mata ciliar, lançamento de entulhos e depósito de lixo também são causadores da poluição. (GOYÁ, 2006).
O projeto Estabelecimento e Desenvolvimento de espécies arbóreas em recomposição de matas ciliares realizado em propriedades rurais da empresa Jalles Machado, S/A Açúcar e Álcool, em Goianésia (GO). Com o objetivo de obter subsídios técnicos para orientar programas de recomposição das matas ciliares e de áreas de preservação permanente, foram avaliados a sobrevivência e o desenvolvimento, quanto à altura e o diâmetro do colo, de espécies de plantas arbóreas nativas e exóticas, conduzidas em ambientes antropizados, com características peculiares. Os resultados indicaram porcentagens de mortalidade de plantas superiores a 30% para as espécies açaí, barriguda, guapeva, mutamba, abacate, pau-d’óleo, açoita-cavalo, bálsamo, cedro, mogno, chichá, conde e caraíba, menos adaptadas a determinadas situações ambientais. As espécies goiabeira, sangra-d`água, gameleirinha, jamelão, tamboril-da-mata, ipê-amarelo-do-cerrado, ipê-roxo e monjoleiro apresentaram o melhor desempenho em altura e diâmetro. Como conclusão sugere-se um melhor planejamento quando da seleção das espécies a serem plantadas, procurando distribuí-las segundo sua aptidão natural (BORGES et al. , 2000).
O cenário de degradação e a falta de orientação técnica no reflorestamento exigiam rápida intervenção esse foi o objetivo do projeto modelo de repovoamento vegetal para proteção de sistemas hídricos em áreas degradadas dos diversos biomas do Estado de São Paulo, desenvolvido pelo Instituto de Botânica em parceria com a Prefeitura Municipal de Ilha Comprida e a de Mogi-Guaçu, com o apoio da Internacional Paper e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) no âmbito do programa de Políticas Públicas da FAPESP. Foram avaliadas 98 áreas de reflorestamento em todo Estado de São Paulo, num total de 2500 hectares. Alguns dos objetivos do projeto foram identificar as formas mais adequadas para transferir conhecimentos para a sociedade, subsidiar licenciamento ambiental do estado e apoiar ações do Ministério Público e Secretaria de Meio Ambiente entre outros. A resolução é o parâmetro técnico a ser seguido. A resolução estabeleceu número mínimo de espécies por hectare. Projetos de reflorestamento de até um hectare por exemplo devem contar com 30 espécies. Já aqueles implementados em áreas maiores que 50 hectares, a exigência mínima é de 80 espécies distintas. Outra recomendação visa proteger as espécies em extinção respeitando-se as regiões ou formações de ocorrência. Avaliando os resultados desta resolução concluiu-se que houve maior conservação da biodiversidade e a melhor qualidade dos reflorestamentos (BARBOSA, 2003).

Diante dos aspectos levantados, nos trabalhos consultados, confirma-se a total relevância na recuperação das áreas de mata ciliar, sobretudo de nascentes, como garantia do fornecimento de água. Além disso, as matas ciliares permitem e promovem do equilíbrio ecológico da fauna e flora, aquática e terrestre, preservando os bancos genéticos e a vida. Existe relação estreita entre a qualidade da água dos corpos de água e a preservação da mata ciliar.
A escolha do melhor modelo de recuperação depende, dentre outros fatores, do nível de degradação em que se encontra a área a ser revegetada, dos objetivos do replantio e da quantidade de recursos disponíveis, mas sempre tomando como modelo a vegetação remanescente local.
As áreas do entorno de nascentes apresentam alto grau de especificidades quanto as espécies a serem utilizadas devido ao gradiente de umidade do solo. Dentre as áreas que margeiam os cursos de água, as que cercam as nascentes devem apresentar prioridade nos projetos de revegetação das formações ciliares, já que são áreas bastante susceptíveis a processos erosivos.

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