O que vai acontecer depois das eleições parlamentares marroquinas do dia 07 de outubro de 2016? A Interrogação mais frequente entre os interessados nos assuntos políticos de Marrocos, principalmente por ser uma ocasião decisiva que pode transformar o Estado marroquino, através dos votos  eleitorais, para a  conslidação dos poderes legislativos e executivos. 

Todos esperam o resultado das eleições legislativas do 7 de Outubro, um dia que não pode ser como outros dias, cujo controle mesmo teoricamente do futuro de Marrocos na confirmação  ou na negação da continuação da transição democrática.

Mas a questão a ser colocada antes do resultado dessas eleições, é se realmente esta eleição vai ser decisiva para Marrocos nos próximos anos? Ou em outras palavras, será que não vai ser como as anteriores, como qualquer outro evento sazonal sem mudanças significativas, a não ser mudar o nome do primeiro-ministro? 

A resposta será direita sem invocar o contexto em que estas eleições vão  ser realizadas, e as condições e  as circunstâncias internas e externas que acompanham este acontecimento historico.

Internamente, Marrocos vive actualmente uma crise econômica reflectida no aumento da dívida, do colapso do poder de compra e da diminuição de investimento. Alem da tensão social causada pela  marginalização  do governo dos sectores sociais, notadamente da educação e da saúde, bem como da revisão do programa da aposentadoria e da compensação, contro os aumentos injustificáveis dos impostos em geral..

No plano político, há uma divisão entre o povo em geral e a elite do governo, preocupada pelos assuntos públicos e lutas internas e obscenas das diversas forças partidárias que ampliam a sua gama devido à vastidão do ciberespaço azul, onde competem as grandes cabeças sobre os pequenos assuntos, longe das preocupações reais do povo, e dos programas e projetos socioeconômicos..

Mas o actor político a destacar e que acompanha esta eleição permanece o domínio da instituição real em detrimento das articulações do estado, o interface do governo apesar de tudo que se disse da amplitude dos poderes do primeiro-ministro, e da sua responsabilidade pela gestão executiva apoiada pela Constituição de 2011, a monarquia no Marrocos é ainda executiva, desfruta de muitas atribuições, cujos poderes centralizados, sem nenhum poder por parte popular.

E junto a toda este clima interno nublado, as circonstancias regionais e internacionais turbulentas, devido às crises e guerras no  Oriente Médio e no Norte da África (Líbia, Síria, Iraque e Iêmen), e a guerra mundial contra o "Daesh", bem como o envolvimento dos originados de Marrocos e do Magrebe nas principais operações terroristas e, sem esquecer  da questão do Sara marroquina que entra em um túnel escuro, devido ao constrangimento da diplomacia marroquina e da falta das precisões e das ineficiências na tomada de decisões

Interrogo se estas eleições legislativas são tão importantes para merecer a atenção e preocupar a opinião internacional pelo resultado? Eu acredito pelo conhecimento da realidade  marroquina que confirma que estas eleições vão ser decisivas, não somente pelos contextos internos e externos, mas por causa dos importantes indicadores resumidas nos seguintes pontos:

O desejo do Estado preservar a imagem de Marrocos no exterior como um país estável e pratica o poder de forma períodica através do aparelho eleitoral, cujos resultados levam a formação do governo, como aconteceu nas eleições de 2011, e, assim, se confirma o que se  chama a excepção marroquina, tornando  Marrocos um oásis de democracia, de liberdade e de abertura, num ambiente regional estéril e instável, tornado um excelente modelo do estado moderno repartido entre a originalidade e a herança política (makzen) e o moderno regime democrático..

O estado não quer perder a confiança conquistada, internamente como externamente durante a revolta da Primavera Árabe, e não dissipar a  nova legitimidade constitucional adquerida. Então, as próximas eleições legislativas constituem uma oportunidade de confirmar aquilo que foi dito acima, e  realçar a verdadeira vontade de Marrocos para avançar no caminho da transição democrática.

A preocupação da instituição real pelo clima das eleições, foi expressa claramente no discurso do décimo sete da festa do aniversário do trono, o rei expressou seu descontentamento pelo envolvimento de seu nome e sua pessoa em conflitos partidários, aproveitando  esses últimos para vingar e liquidar o que eles chamam de contas pessoais, ou ainda para atender aos objetivos partidários.

Por outro lado, enfatizado, no mesmo discurso, a importância desta eleição, sendo crucial na transformação do voto como um mecanismo de chegar ao exercício do poder, através do cidadão consciente de escolher e responsabilizar  os eleitos. A Instituição Real, aparentemente, olha com apreensão para estas eleições, o que confirma o seu carácter excepcional, considerando-as como uma oportunidade crucial, apesar de seu clima que envolve muitas interrogações.

Dissipar a confusão entre o Partido da Justiça e do Desenvolvimento que dirige o governo da saída, e o Partido  da Autentecidade e da Modernidade (PAM) na oposição, cujo conflito da segunda metade levou o Partido da Justiça e Desenvolvimento após as eleições de 2011 ao comando do governo, este conflito entre as partes envenenou a vida política, transformando-a num clima de abuso e de insultos, em vez de disputa intelectual e ideológica, isso prejudica a credibilidade do trabalho do partido, tornando-a lugar do poder de  arrogância individual.

Esta eleição pode resolver, pelo menos  ou temporariamente esta polaridade existente entre estes dois partidos, e mitigar os conflitos apolíticos e imorais, que se tornaram a caracteristica dominante no campo multi-partidário de Marrocos.

A dificuldade de controlar o mapa eleitoral devido a sua complexidade, o Ministério do Interior, que foi e continua o arquiteto do mapa e o detentor de todas as vertentes, encontra hoje a dificuldade, não por causa do seu controle do campo político, mas pelo surgimento de novas  variantes que influem o processo eleitoral como um todo, a principal a diminuição  da participação nas eleições, seja no cadastramento ou na votação, e o poder do controle exercido pelas redes sociais sobre o processo, e a crescente influência dos relatórios realizados pelos organismos internacionais de direitos humanos sobre as eleições, e sobre a política económica e social em geral, a qual se transformou em uma ferramenta para constranger o estado marroquino. 

Todas estas variantes tornam a gestão dos resultados eleitorais por meios convencionais uma tarefa difícil, se não impossível.

Esses indicadores combinados ou dispersos, levaram aquila visão objetiva da afirmação da importância das próximas eleições, mas; olhando para o evento como um acontecimento político, longe da sua capacidade para decidir sobre os principais problemas de Marrocos, as eleições no Marrocos permanecem, infelizmente, uma forma de interfaice da indústria glamourosa do processo da falsa democracia, desvendando a legitimidade democrática do regime existente, sem confiancia para fazer uma ruptura do comportamento autoritário deste regime, pois o objetivo da competição eleitoral entre as forças partidárias e que permaneça confinado ao acesso a autoridade formal, desprovida do verdadeiro poder, alcançado e praticado longe da vontade e do controle do povo.

Lahcen EL MOUTAQI

Pesquisador Ph.D