Marrocos: o Papa e o Comandante dos Crentes em prol do Diálogo Inter-religioso
Por Lahcen EL MOUTAQI | 01/04/2019 | ReligiãoAo convite do rei Mohammed VI, o Papa Francisco realizou uma visita a Rabat, Marrocos, 30 e 31 de março 2019, um turnê apostólico sob o signo do desenvolvimento do diálogo inter-religioso, a compreensão mútua entre os seguidores de duas religiões e a promoção dos valores de paz e tolerância.
Tal visita veio após 34 da visita histórica de João Paulo II ao Reino, 19 de agosto de 1985, refletindo um grande sentido para o diálogo inter-religioso, pelo qual o Comandante dos Fiéis se posiciona como um ator fundamental.
De fato, se não há instituição no Islã do tipo do papado, o que levanta um problema de representatividade, tem além disso interlocutores que se impõem naturalmente. Este é o caso do Rei de Marrocos, como o descendente do Profeta, Comandante dos Fiéis e líder do rito Maliki, praticado na África do Norte, África Negra e em muitas comunidades muçulmanas em todo o mundo. O rei é, portanto, um parceiro essencial para o papa, sobretudo porque considerado da linha de frente na luta contra o desvio extremista e a favor do diálogo inter-religioso. A esse respeito, a visita do papa ao instituto da formação dos sacerdotes do islã, foi uma oportunidade de o papa tomar conhecimento do papel do instituto, fundado pelo rei Mohamed VI para combater as ideologias que caricaturam o islamismo e o seu sentido.
De fato, a visita do papa é considerada uma parceria ganhar-ganhar. O para Francisco consolida sua política em favor do diálogo inter-religioso e enfatiza os valores comuns que unem os seguidores das grandes religiões monoteístas, que acreditam no mesmo Deus. Por outro lado, o Marrocos pode destacar aos olhos do mundo seu modelo religioso tolerante e aberto. Além disso, dentro do Reino de Marrocos, milhares de cristãos da África subsaariana vivem, podendo praticar sua religião livremente. Além disso, os marroquinos de crença judaica se lembram da proteção que o Sultan Mohammed V tem concedido a sua comunidade contra os alemães e as leis anti-semitas de Vichy, desfrutando naturalmente da plena liberdade de culto e seus assuntos familiares foram resolvidas, de acordo com a Lei hebraica antes de seus próprios tribunais.
É neste contexto que o rei Mohammed VI acolheu pessoalmente o Santo Padre, logo o seu vôo se pousou no areoporto de Rabat, uma atenção extremamente rara que marca a importância deste encontro aos seus olhos. É importante enfatizar que o diálogo muçulmano-cristão não data de hoje. De verdade, a visita do Papa a Marrocos coincide com a celebração do 800º aniversário do encontro entre Francisco e Sultan Malik al Kamil. 1219. De 1219 a 2019, de Francisco de Assis a Damietta , ao Papa Francisco no Marrocos, há, portanto, o desejo de promover uma compreensão cordial entre as duas religiões e os dois lados do Mediterrâneo. Uma vez que o que ameaça nosso mundo é precisamente a ideologia do "choque de civilizações", sob o lima de extremistas de todos os lados. Tornando a crise instrumento que ameaça o futuro da humanidade, e risco para o desaparecimento de civilizações, cujas fundações são principalmente espirituais.
A globalização foi marcada pelo sentimento de perda ou de ausência de sentidos. Ainda mais que a aculturação envolve o perigo de destrução e do desintendimento das raças. Podendo constituindo um deslizamento inexorável para um mundo desumanizado, mercantil e despiritualizado. Sob o efeito da globalização, definido como um sistema globalizada, padronizado e de utilidade, combinando a padronização das culturas e a exaltação do indivíduo, sem lareira nem lugar, a humanidade corre assim o risco de ser privada do "elemento ético da vida"
De fato, o diálogo não deve ser um slogan. Nem deve ser reduzido aos belos discursos proferidos em conferências ou encontros internacionais. Nem deve ser confundido com a busca de sincretismos indesejáveis; mas sim deve promover trocas frutuosas no respeito mútuo de identidades e diferenças, sem ser minimizadas nem exageradas. É essencial especificar que aliança não significa confusão ou alinhamento. Portanto, para tornar-se prática, a aliança deve basear-se em alicerces sólidos, objetivos e específicos. Isso implica promover em ambos os lados um melhor acesso ao conhecimento de outras religiões e de outras civilizações para entender melhor as convergências e destacar claramente os valores compartilhados.
E por isso que precisa de uma aliança espiritual para agir em comum e trabalhar em prol da inserção de ideais éticos e valores humanas no tecidos sociais. Seja uma aliança de civilizações, resultado dos laços de duas grandes religiões monoteístas, indispensáveis para construir um mundo, baseado no consenso espiritual, para não se tornar um cupinzeiro padronizado.
Por fim a batalha pelos valores espirituais constitui uma luta geopolítica, onde os líderes e atores se realizam. Por isso, que é importante sublinhar o papel fundamental de Marrocos no diálogo islâmico-cristão, graças ao empenho constante de um soberano esclarecido e voluntário.
Lahcen EL MOUTAQI
Professor universitário- Rabat- Marrocos