Marrocos. Alternância linguística na escola primária, outro desafio
Por Lahcen EL MOUTAQI | 10/09/2019 | EducaçãoA exclusividade da nova reforma adotada pelo Ministério da Educação, da Formação Profissional, do Ensino Superior e Pesquisa Científica, não apenas é baseada e orientada de acordo com uma visão estratégica 2015-2030 projetada pelo CSEFRS, mas ela parece ser regida pela lei-quadro recentemente adotado 51-17 pelo governo.
O ponto forte desta lei é que ela constitui a estrutura jurídica que regulamenta toda prática pelo setor do ensino. Por seu aspecto constrangedor, ele permitiu aos anos de improvisação e controvérsias ideológicas. Todas as medidas a ser tomadas são limitadas no tempo por um cronograma estabelecido por esta lei-quadro.
Ainda de acordo com esta lei-quadro, uma multitude de medidas devem ser adotadas pelas autoridades governamentais, em colaboração claro, com os diferentes parceiros, para melhorar o desempenho da escola marroquina em termos da:
- Inovação e adaptação de currículos, de programas, da formação e abordagens pedagógicas;
- Introdução de uma engenharia linguística, cujos princípios são estabelecidos pela lei-quadro;
- Revisão do sistema de orientação;
- Reforma do sistema de avaliação e certificação.
No entanto, dois aspectos principais desta lei provocaram controvérsia e controvérsia, a saber: o fim do ensino superior público gratuito e da diversidade linguística.
Para o primeiro ponto, não entrar em detalhes, pois um decreto de implementação poderia esclarecer as coisas e trazer informações sobre os assuntos.
Minha intervenção a este respeito se limita a questão da engenharia linguística, conforme mencionado na lei-quadro (artigos: 27; 31):
Essa engenharia adotada, ela reflete obviamente sobre a política de linguagem, a qual é baseada sobre os seguintes princípios:
- A prioridade é dada ao papel funcional das línguas adotadas na escola marroquina;
- A fluência do aluno nas línguas oficiais ([Arabe, Amazigh) e as estrangeiras; considerando o Árabe a língua principal do ensino (primeira língua da escolarização); a posição da língua Amazigh é a desenvolver dentro da escola marroquina, de acordo com um plano de ação nacional claro e em conformidade com as disposições da Constituição;
- A introdução da diversidade linguística, de forma progressiva (no final do ensino médio qualificado, o aluno deve ser capaz de dominar a língua árabe, de se comunicar na Amazigh e dominar pelo menos duas línguas estrangeiros), usando uma abordagem progressiva (do bilinguismo ao plurilinguismo);
- A adopção do princípio da alternância linguística através do ensino de determinadas matérias, em particular as de dimensão científica e técnica, na (s) língua (s) estrangeira (s);
- A apropriação funcional de línguas estrangeiras pelo aluno desde tenra idade.
No que diz respeito ao árabe dialetal, a lei-quadro não levantou esse assunto; em contra partida, ela decidiu sobre a questão das línguas de ensino adotadas em todos os níveis.
Para a questão da diversidade linguística, levantada pela lei-quadro, trata-se de uma escolha educacional estratégica, que apóia as orientações da Visão Estratégica no campo do domínio das línguas ensinadas e da diversificação das línguas do ensino.
Essa escolha não é aleatória, pois visa, através da alternância linguística a:
- consolidar o domínio das habilidades linguísticas entre os alunos;
- corrigir o impacto dos desequilíbrios nos rendimentos internos e externos da escola marroquina;
- Assegurar esta coerência linguística entre ciclos, especialmente entre o ensino escolar e superior;
- Estabelecer a eqüidade e a igualdade de oportunidades para os alunos marroquinos, sejam eles de instituições públicas ou privadas, para atender as seções bilíngues (bacharelado internacional) e depois prosseguir facilmente o ensino superior.
Ninguém, portanto, pode negar o papel e a importância da proficiência linguística na qualidade da aprendizagem, no sucesso acadêmico do aluno e na integração social e profissional.
Segundo os expertos na matéria pedagógica ( ciclo primário), vínculo direto com o que está acontecendo na sala de aula, o que suscita uma preocupação comum de elevar o nível de nossos alunos e melhorar a qualidade da produção de do produto educacional, compartilhando a concepção e a reflexão sobre o assunto da alternância linguística, colocando as seguintes interrogações:
Como qualquer medalha tem seu lado oposto, qual é o impacto da francificação das disciplinas não linguísticas (DNL) no ciclo primário?
(As disciplinas envolvidas são as matemáticas e ciências (desperto científico)).
- - Os professores dispõem de ferramentas concretas (guia de alternância linguística, recursos digitais confiáveis etc.) para facilitar a tarefa?
As escolas estão bem equipadas com material didático para apresentar essas disciplinas de uma maneira diferente (demonstração, manipulação, experimentação ...)? ;
Todos os professores se beneficiam de formação / enquadramento ou acompanhamento sobre alternância linguística?;
Os inspectores envolvidos receberam formação real sobre estes novos conceitos, nomeadamente: a engenharia linguística, a diversidade linguística, o bilinguismo e alternância linguística?
É certo que a diversificação das línguas de ensino é uma escolha estratégica, adotada após cuidadosa reflexão, mas o que se pergunta se não consititui um desafio a ser enfrentado para alcançar os objetivos esperados?
Não somos pessimista, mas temos que essa alternância linguística favorece o desenvolvimento de habilidades de linguagem em detrimento de habilidades disciplinares.
Para evitar reproduzir os fracassos e os desequilíbrios lingüísticos gerados pela apressada arabização da matemática e das ciências por três décadas, e reportar o desafio para um retorno à língua francesa dessas disciplinas não linguísticas (DNL), a este repeito uma panóplia de medida deve ser tomada:
- Pôr em prática a alternância linguística para essas duas disciplinas de maneira progressiva e em todos os níveis, dando tempo aos professores para se formar ou se auto-formar nas diferentes práticas que facilitam sua tarefa;
- Assegurar primeiro a articulação primária /colegio para garantir essa coesão entre os ciclos;
- Conceber e implementar ações pedagógicas de apoio para atender às necessidades de linguagem dos alunos;
- Desenvolver guias ilustrados ou glossários de vocabulários de noções e conceitos científicos;
Iniciar os alunos a trabalhar com mapas mentais para entender, memorizar e revisar seus cursos (desperto científico);
- projetar e implementar sessões de treinamento contínuas em benefício dos inspectores sobre o assunto, para uma possível multiplicação e apoio em campo;
- Desenvolver livros didáticos sobre esses dois assuntos, permitindo que os alunos passem do árabe padrão para o francês padronizado;
- Adotar métodos ativos baseados nos conhecimentos, nomeadamente a demonstração, a investigação e a resolução de problemas;
- Evitar abordagens tradicionais baseadas na transmissão de conhecimento;
- Adotar abordagens participativas e colaborativas (abordagens baseadas em tarefas);
- Transformar e mudar as práticas de ensino, por exemplo, adotando a pedagogia reversa, usando as ferramentas oferecidas pelas TIC, para acostumar os alunos a preparar seu curso com apóio, especialmente para o desperto científico, usando vídeos; a sessão da sala de aula pode se transformar em uma grande sessão de brainstorming;
- Assegurar vínculo entre disciplinas (transversalidade e descompartimentalização);
- Ensinar matemática e ciências por projeto e treino;
- Diversificar técnicas de animação e os métodos de trabalho, favorecendo o trabalho em pequenos grupos, com o objetivo de envolver os alunos na construção e no aprendizado ...
A organização de um sério debate sobre o tema da alternância de idiomas, do qual participem todas as partes interessadas, podendo enriquecer esses pontos e propor outros caminhos a ser explorados, mais de forma eficaz e eficientes.
Lahcen EL MOUTAQI
Professor universitário- Rabat