A cada dois anos, o mês de outubro é marcado pela escolha de nossos representantes, seja na esfera municipal, estadual ou federal.  Desta forma, a cada dois anos, a enxurrada de informações que nos é imposta em virtude das campanhas eleitorais torna o processo no mínimo cansativo e, em muitos casos, até mesmo bizarro.

Se prestarmos atenção ao horário destinado à propaganda política na televisão aberta, em que os candidatos aos mais diversos cargos tem a oportunidade de expor suas idéias e buscar o voto do telespectador, é possível perceber o total despreparo da grande maioria destes candidatos. Não há, em grande parte, o mínimo de conhecimento acerca de como realizar uma campanha eleitoral, de quais ferramentas de marketing podem ser utilizadas, de que maneira é possível construir uma imagem idônea, capaz de efetivamente convencer a opinião pública e tornar-se decisivo para o resultado das eleições.

Assim, o que temos, geralmente, é um conjunto de candidatos travando verdadeiras batalhas entre si, onde muitas vezes o marketing pessoal cede espaço para o detrimento da imagem alheia. Explico: quantas vezes somos bombardeados com informações negativas sobre um determinado candidato no lugar de informações positivas ou exposição de idéias do candidato que faz questão de atacar o outro?

O processo eleitoral, tomado desde o momento em que o indivíduo torna-se oficialmente candidato a algum cargo e o momento em que toma posse deste deve ser encarado como um processo de gestão de marketing, onde “a propaganda é a alma do negócio”, tal como nos diz o ditado popular. Entretanto, o marketing eleitoral pode ocorrer sozinho ou vir a agregar valor ao marketing político, já realizado por candidatos à reeleição.

O marketing eleitoral é basicamente aquele realizado durante o período eleitoral. Manhanelli (2011) coloca alguns exemplos de ferramentas amplamente utilizadas no marketing eleitoral:

  • Pesquisas e sondagens;
  • Criações artísticas, como jingles;
  • Publicidades impressas, como santinhos, folhetos e outdoors;
  • Publicidades eletrônicas, como vídeos nas mais diversas mídias, inclusive internet;
  • Publicidades radiofônicas, a exemplo dos spots em rádios.

As pesquisas e sondagens visam verificar como anda a imagem do candidato perante os eleitores que ele pretende conquistar. Já as publicidades impressas são antigas conhecidas de todos os cidadãos, pois diariamente temos nossas caixas de correio abarrotadas de santinhos, malas-direta e outros instrumentos de difusão das idéias destes candidatos.

As publicidades eletrônicas, com o advento da internet, podem provocar uma timeline cheia de lixo cibernético nas redes sociais, considerando que o nível de conhecimento da grande maioria dos candidatos acerca do marketing eleitoral e política é basicamente nulo. Já o uso de mídias radiofônicas torna-se essencial para que a propaganda eleitoral atinja um número ainda maior de possíveis eleitores.

Neste contexto, é possível falar ainda dos jingles, utilizados em todo material publicitário que for veiculado em meios sonoros. Ele está em todos os lugares: na TV, no rádio, na internet e, principalmente, naqueles carros de som que passam na frente da sua casa, do seu trabalho, muitas vezes em horários inapropriados:

O jingle eleitoral não é uma manifestação musical espontânea que nasce de um movimento social ou cultural, de massa ou segmentado; é uma peça publicitária. Ele é intencionalmente produzido. Sua criação parte de uma vontade e uma orientação específicas, tendo como intuito a persuasão [...] O jingle representa uma parte do conjunto de peças publicitárias que compõem uma campanha eleitoral. Entre santinhos, outdoors, bandeiras, cartazes e anúncios na internet, no rádio e na TV, não tenha dúvida: no final, é do jingle que você vai se lembrar (MANHANELLI, 2011, s.p.).

O marketing eleitoral pode ser irritante, por muitas vezes. E isto ocorre justamente pela falta de conhecimento.  Pela necessidade desenfreada de se conquistar um cargo público às custas dos eleitores. Pela idéia errada de que o cargo público eletivo é a garantia de dias melhores para o candidato, que se esquece que o seu cargo existe para garantir o bem estar da população acima de seu próprio. Percebe-se, portanto, que o marketing realizado durante as campanhas eleitorais é um marketing pessoal, uma luta de egos, onde cada candidato agarra-se à chance de ingressar ou permanecer na vida pública com unhas e dentes.

Isto ocorre pela falta de conhecimento também de marketing político. “O marketing político deve ser visto como um meio pelo qual o político promove o bem-estar e o desenvolvimento de seus eleitores e não como um meio de ludibriá-los” (MANHANELLI, 2004, p.21).

Existe uma diferença entre o marketing político e o marketing eleitoral. O marketing político é algo mais permanente, é quando o político no poder se preocupa em sintonizar sua administração com os anseios dos cidadãos. Isso acontece através de pesquisas regulares, boa assessoria de comunicação, correção em possíveis falhas, publicidade dirigida etc. Já o marketing eleitoral aparece na hora do "vamos ver", quando todos os candidatos saem à procura de um mandato (FIGUEIREDO, 1994, apud MANHANELLI, 2011, s.p.).

O que falta em nossa sociedade é consciência sobre a relevância do marketing político e eleitoral. Apesar da evolução das legislações concernentes à Administração Pública e às responsabilidades dos agentes públicos, quando chegamos no período eleitoral, mesmo aqueles que possuem certo conhecimento sobre o assunto parecem sucumbir à tentação de ludibriar eleitores e desconstruir a imagem do candidato adversário.

Este processo de construção do conhecimento sobre direitos e deveres, e sobretudo, sobre o marketing político e eleitoral deve ser abarcado também pelos eleitores. O descaso do candidato para com o bem estar da população cresce na medida em que o mesmo percebe que os eleitores não possuem conhecimento, estando à mercê de propagandas enganosas.

O marketing político, quando realizado de maneira correta e tendo por alvo, claro, um candidato correto, tende a aproximar os cidadãos da Administração Pública, tornando possível uma participação mais ativa da sociedade no tocante às decisões sobre assuntos que lhes são correlatos. Do contrário, permaneceremos constantemente sendo ludibriados por idéias durante o período eleitoral de candidatos que, quando eleitos, revelam a que vieram: seu próprio bem estar. 

Referências

MANHANELLI, Carlos. Jingles eleitorais e marketing político: uma dupla do barulho [Livro eletrônico]. São Paulo: Summus, 2011.

MANHANELLI, Carlos Augusto. Marketing pós-eleitoral: técnicas de marketing. São Paulo: Summus, 2004.