MARIELLE vive e sobrevive à “Miséria da filosofia”. (*)

Com toda dissimulação que lhe é peculiar, Pondé, porta-voz da classe burguesa brasileira, resolveu achar que pode pautar as condutas e ações dos movimentos e partidos de esquerda. Com a intenção de influenciar parte da população e proteger interesses eleitorais da classe, econômica e social, que defende; afirmou, no Jornal da Cultura, poucos dias após o assassinato de nossa vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, que “Eu acho que a intenção do Psol, ela é sim marcadamente eleitoral; porque não tem muito o que fazer então ele quer marcar esse espaço ...”; “ .... Eu espero que os grupos mais a esquerda não caiam na besteira de pegar essa tragédia e transformar em objeto de propaganda política. ....Uma tragédia, uma desgraça como essa; alguns podem querer usar como ferramenta de market para atrair votos ....Se isso for parar no horário eleitoral vai ser de péssimo gosto e eu temo que se vire inclusive contra as intenções da esquerda.

Nada mais impróprio e patético! Mas, esta postura lamentável, não é privilégio de filósofos medíocres; uma parcela, felizmente, minoritária da população, insiste em resolver os graves problemas da violência em nosso país, por meio do fuzil. Não é preciso ser especialista em segurança pública para constatar que a violência nas grandes metrópoles brasileiras é fruto das imensas desigualdades sociais impostas pelo sistema capitalista.

O Psol, não só vai lembrar, até as eleições, a covardia de um assassinato hediondo e, defender as bandeiras levantadas pelo seu mandato, reafirmar as injustiças e opressões sofridas pelos mais pobres e denunciadas pela nossa vereadora; como vai incorporar suas lutas em todos os eventos daqui pra frente; seja no dia Internacional das Mulheres em 8 de março; seja no dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial em 21 de março;  seja no dia da consciência negra em 20 de novembro; ou seja nas eleições gerais de 3 de outubro.

Atribuir oportunismo ao Psol por levantar as bandeiras defendidas pela companheira e vereadora do Rio, Marielle Franco; é pretender calar nossa voz. Não vão conseguir! O assassinato de Marielle é também um ataque ao Psol, a seus milhares de filiados, militantes e simpatizantes. É um ataque direto aos 46.502 eleitores que votaram e depositaram suas expectativas na candidatura da companheira Marielle e que também foram calados. Oportunismo seria se o Psol se utilizasse desse crime covarde e hediondo para ganhar votos, por exemplo, em atividades da Fiesp, Febraban ou de partidos conservadores; que, por interesse de classe, apoiam financeiramente candidaturas que defendem interesses de grandes grupos econômicos com intenção apenas de acumulação de capitais. Produzir mercadorias, explorar força de trabalho para se apropriar do mais-valor criado pelos trabalhadores e gerar lucro, são apenas meio. O verdadeiro objetivo do “Modo de Produção Capitalista” encarnado no grande capital(ista) é acumular grandes volumes de capitais para expandir sua atuação sobre seus concorrentes.

De duas, uma. Ou, Pondé ignora que a luta de classes é uma característica básica do sistema capitalista e que toda luta de classes é uma luta política, uma luta pela defesa de interesses antagônicos entre classes sociais e econômicas muito desiguais, ou, ele esqueceu de que não está do nosso lado nesta luta; do lado dos trabalhadores.

Vou me servir das palavras de Frei Beto; este sim, com autoridade e história, em defesa dos trabalhadores, para pautar nossa agenda:

Os assassinatos da vereadora Marielle Franco, do PSOL, na noite de 14 de março, no Rio, e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes, equivalem ao do estudante Edson Luís, no Calabouço, em 28 de março de 1968. Este representou o desmascaramento da ditadura militar e de sua natureza cruel, sacramentada pelo AI-5, a 13 de dezembro de 1968.

Os tiros que ceifaram a vida de Marielle atingem todos nós que lutamos para que, nas palavras de Jesus (João 10, 10), “todos tenham vida e vida em plenitude”. A morte dos mártires comprova que em vão a injustiça busca predominar sobre a justiça. Gandhi, Luther King, Chico Mendes são apenas alguns exemplos de como os mortos comandam os vivos.

Marielle é, hoje, uma mulher insepulta. Seu exemplo de vida, seus ideais políticos, sua garra em prol das comunidades marginalizadas nas favelas e das crianças e jovens excluídos de direitos básicos como educação, haverão de perdurar em todos nós que fizemos da vida oferenda destemida para que todos tenham vida.”

Esta é a dimensão que Pondé, devido a seu posicionamento, conservador e em defesa da classe econômica dominante, dentro da luta de classes, não tem capacidade de enxergar: Marielle é uma Mulher insepulta porque daqui pra frente suas ideias e lutas políticas serão sempre lembradas por todos os militantes que defendem o socialismo e a liberdade; e por isso será sempre uma inspiração para todos nós. Daqui pra frente, Marielle estará sempre presente em todas as manifestações e passeatas da classe trabalhadora. E estará presente sim, em todas as futuras eleições que tiver um Partido que, de fato, defenda os interesses dos mais pobres, dos trabalhadores e todos os excluídos pelo sistema capitalista; um sistema extremamente injusto e opressor.

Se tentaram nos calar, não funcionou; pois na verdade colocaram um megafone nas mãos de cada um que acredita que um outro sistema econômico mais justo e um mundo melhor para se viver são possíveis.

Há 135 anos, também no dia 14 de março, morria, aos 65 anos, Karl Marx. No próximo dia 05 de maio, vamos comemorar 200 anos de seu nascimento. Marx, foi também, sempre perseguido por aqueles que consideravam suas ações e atitudes uma ameaça a seus projetos de enriquecimento e acumulação de capitais às custas da exploração dos trabalhadores.

Os que o perseguiam e o caluniavam, foram literalmente esquecidos e expurgados da história. Marx, daqui a pouco mais de um mês, será lembrado e comemorado em todos os países do mundo por milhões de homens e mulheres que lutam por um mundo sem exploração; onde trabalhadores e trabalhadoras possam fazer de seu trabalho meio de satisfação profissional, com criatividade e livre de opressões, rumo à verdadeira emancipação do ser humano. O ser social somente será plenamente livre e realizado em toda sua plenitude quando a produção for fruto da cooperação do trabalho, através de cooperativas de trabalhadores, e não da superexploração do trabalho assalariado por parte de uma minoria de grandes capitalistas.

“Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, etc., mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e atividades são tragadas pela cobiça.” (Karl Marx.)

Nossa jovem Vereadora e grande companheira socialista Marielle Franco, de apenas 38 anos, não estará entre nós para, juntos, comemorarmos. Foi um crime covarde e hediondo encomendado por facínoras com intuito também de resguardar esquemas financeiros que vão contra os interesses da classe trabalhadora, maioria da população.

Marielle era, acima de tudo, uma lutadora pelos direitos humanos. Combatia as injustiças, a miséria e a opressão; pois sabia, como todos nós que militamos na defesa do socialismo, que não passamos apenas por mais uma crise cíclica do capitalismo; estamos diante de uma crise estrutural do capital. A concentração do capital, para viabilizar sua acumulação, chegou a um nível autodestruidor como nunca visto antes no capitalismo. Marielle também sabia que não travamos apenas uma luta de classes tradicional inerente ao sistema capitalista. Na atual fase imperialista-financeira do capital fictício, não é mais imprescindível produzir mercadorias para acumular capitais. Existe uma luta intraclasse entre os próprios grandes capitalistas. O capital financeiro especulativo avança sobre o capitalista industrial, sobre o capital produtor de mercadorias. Existe uma luta intraclasse entre o grande capitalista financeiro e o grande capitalista industrial. Marielle tinha consciência que atravessamos uma crise de civilização. Ela sabia que era preciso incomodar a consciência dos que acham que não existe vida para além do capitalismo. Sabia que era necessário fazer o bom combate; sabia que era preciso deter a onda conservadora e fascista que ronda a sociedade brasileira e que insiste em destruir conquistas de décadas de luta e mobilização da classe trabalhadora. Marielle tinha consciência que era preciso combater o ódio e o preconceito de uma parcela considerável da classe média conservadora, que perdeu, literalmente, o bonde da história e acha que direitos, conquistas sociais e justiça são privilégios apenas de sua classe.   

Marielle pagou com a própria vida por não ter se omitido e se calado diante da violência e barbárie que atinge principalmente o povo negro, os mais pobres e a juventude de nosso país; sabia que era preciso lutar para contribuir para a superação do racismo no Brasil. A intervenção militar não é no Rio de Janeiro. A intervenção das forças militares não existe em Ipanema, Leblon, Lagoa, Barra da Tijuca, Icaraí e demais bairros de classe média-alta da cidade do Rio de Janeiro. A intervenção militar se dá apenas nos bairros mais pobres e nas comunidades e favelas espalhadas pela cidade. O capitalismo além de ser um sistema extremamente injusto e excludente, para a maioria da população, é também segregador e preconceituoso. Só não o é, na hora de extrair e se apropriar do mais-valor criado pelos trabalhadores. Nessa hora, pouco importa se a mão de obra é da favela ou do Jardim de Alá, encravado entre os bairros de Ipanema e Leblon. De acordo com o Instituto Data Favela, as favelas do Rio de Janeiro contam com mais de dois milhões de habitantes e, juntas, se constituiriam no sétimo maior município do Brasil. Os moradores, cidadãos brasileiros dessas comunidades, devem ser tratados com respeito e dignidade pelo Estado Brasileiro. Isto não é um favor do Estado Brasileiro; é uma obrigação constitucional. O Brasil precisa mudar! E o Brasil vai mudar! O Brasil e o Mundo já sabem que Marielle foi assassinada porque incomodou interesses de grupos mafiosos. O Brasil e o Mundo precisam saber quem matou e quem mandou matar Marielle.

Marielle será sempre lembrada pela maneira como viveu e travou a luta de classes e não como morreu! É dessa forma que MARIELLE FRANCO será lembrada por suas companheiras e companheiros de luta! O PSOL e toda sua militância estão de luto; e a cidade do Rio de Janeiro teve mais um dia que não foi maravilhosa.

(*) A Miséria da Filosofia. Livro escrito por Karl Marx para criticar Proudhon, outro filósofo de sua época.