Surgimento da ideia
A escolha do tema surgiu depois de um dia em que fui lecionar no 9º ano A, na Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida, com uma camiseta escrito LIBRAS (na frente), atrás indicava os nomes dos alunos e o meu nome estava na lista. Os alunos ficaram curiosos sobre o curso. Eles comentaram que tem amigos e parentes surdos, porém apenas "conversam" usando mímicas. Então, percebemos que era um número muito grande de surdos e que seria bom, se todos pudessem conhecer a LIBRAS e desenvolvê-la de forma segura. Os alunos pediram para eu ensiná-los e, como a carga horária do curso de LIBRAS é muito grande, pensei nas TICs para me auxiliar nesse desafio e tornar essa interação LIBRAS x TICs algo seguro que trouxesse o saber aos meus alunos. A direção escolar se interessou pelo projeto e me apoiou, os outros professores diziam: "eu queria ser um dos alunos", mas devido ao horário ninguém apareceu. Creio que capacitar os docentes seria um outro projeto a realizar futuramente.





Organização do trabalho de grupo
Após aceitação do desafio traçamos nossos passos de estudo da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Foi algo muito organizado, pois o tema é complexo e extenso. Envolvi nesse estudo 35 alunos, em alguns momentos estudamos em grupos e outras não. Através das TICs, o projeto desenrolou numa abordagem colaborativa, o aluno em interação com o surdo, e com outros "curiosos" em aprender LIBRAS, efetivaram o estudo em questão. No início, usamos o recurso impresso "Dicionário de LIBRAS", do autor CAPOVILLA. Estudamos profundamente a comunidade surda, o correto alfabeto, depois passamos para a escrita do nome em datilologia (escrita usando as letras do alfabeto). Nesse instante a sala sempre variava: sentados em grupo de dois integrantes, cinco, em círculo, etc. Assim que o alfabeto se fixou, partimos para a "LIBRAS em Contexto", onde palavras são representadas por quase sempre um sinal apenas. Em cada aula eles aprendiam por volta de 50 sinais de diversos gêneros: cumprimentos, comida, cores, animais, família, verbos, etc. Procurávamos o laboratório de informática, onde eles consultavam o dicionário de LIBRAS. Neste, cada palavra é ilustrada, tem seu conceito, seus sinônimos e a maneira de "se falar com as mãos". Por ser poucos computadores, eu trabalhava com metade da sala no laboratório e a outra ficava na biblioteca (ao lado) treinando com o colega os sinais aprendidos no CD e comigo. Achei interessante quando ouvia a conversa entre os alunos: "Não, não é assim que se faz... é assim! Viu como é fácil!?" A outra ferramenta sugerida (propositalmente) foi consultar em casa (trabalho em grupo de cinco integrantes, pois nem todos tinham computador com Internet) o meu Blog educativo: Múltiplas Linguagens (www.vantone2.blogspot.com), onde há um ícone à esquerda que aborda LIBRAS e eles têm acesso ao dicionário on-line de lIBRAS em casa. Assim, eles exercitariam, um ajudando o outro a aperfeiçoar seus sinais, aprenderem com segurança e atingirem o seu equilíbrio. Lembro-me que os alunos que tinham contato constante com surdos, ensinavam-lhes a consultar o Blog Múltiplas Linguagens para treinarem também.





Planejamento do projeto
Os alunos do 9º ano junto à Professora de Língua Portuguesa e LIBRAS (Vaneide) e funcionários da comunidade escolar tornaram um sonho real: é possível efetivar a inclusão! Nessas poucas aulas, no mês de Outubro de 2009, os alunos aprenderam a LIBRAS em sala de aula e continuaram essa aprendizagem em casa. Alguns comentaram comigo: "Sabe professora, à tarde eu voltei aqui e treinei sozinho no laboratório!". Enfim, o aluno passou a caminhar com "suas próprias pernas", ele é autônomo em seu conhecimento construído por ele mesmo, é a pedagogia da autoria sendo aflorada! Percebi que a maioria já conhecia os recursos tecnológicos, os poucos que não conheciam eram orientados por mim e pelo seu grupo. Notei que alguns alunos não faziam os sinais corretamente, pois tinham algum dedo "quebrado" no passado e que não procurou um médico no momento. Outros se queixavam (no início) de dores nas mãos, pois era difícil cada movimento (eu exigia movimentos perfeitos). Por conviverem com surdos, alguns faziam gestos, mímicas e não LIBRAS. Eu comentei que isso seria alternativa para aquele que não sabe a verdadeira linguagem e que cabe a eles se interagirem, agora, somente através do conhecimento gerado em nossas aulas; seria um bem à comunidade o que fariam: propagar, de forma correta, o uso da LIBRAS. Uma das últimas tarefas, foi propor comunicação com a comunidade surda através do meu Orkut, pois todos são menores. Entraram e puderam conferir que há muitas comunidades que defendem a idéia da LIBRAS. Passaram a fazer contatos com alguns surdos (meus amigos) através do e-mail. Por último, solicitei uma pesquisa em grupo de cinco integrantes sobre os cuidados na gravidez para evitar que a criança nasça surda. Usaram diversos recursos orientados por mim: revistas, Internet, livros, CD-ROM e apresentaram em forma de seminário. Alguns até arriscavam em fazer alguns sinais em LIBRAS, durante a explicação. Foi algo onde notei que os alunos construíram um conhecimento sólido e ideias sugiram: eles sentiram que seriam úteis na sociedade se aquele conhecimento adquirido fosse repassado a outros. Então, os meus alunos decidiram ser multiplicadores!




Comprometimento dos grupos e finalização do projeto
O Projeto MÃOS QUE FALAM criou fama, a cada dia, eram alunos e mais alunos interessados em participar. Decidimos que depois da conclusão deste, os próprios alunos do 9º ano a seriam "multiplicadores" da LIBRAS. Assim, eles utilizariam o laboratório de informática em outros horários (sempre há alguém da escola por perto olhando o usuário). Percebi que não houve, em nenhum momento, aluno disperso, com indisciplina. Eles perceberam o quanto o tema era sério e exigia concentração: eles seriam os multiplicadores na E.E.N.S.A. Aqueles que não têm computador em casa com Internet, procuravam frequentar a casa do colega ou irem à escola para treinarem os sinais através do Blog Múltiplas Linguagens. Atingidos os objetivos traçados instiguei meus alunos a sonharem sempre mais, pois a inclusão do surdo só será realidade a partir do momento em que todos dominarem a LIBRAS. Percebi que o Projeto não terminou no mês de Outubro. Ele continua para cada aluno, com seus desafios sendo superados, a cada momento em que vê alguém surdo tentando sobreviver, tentando se interagir ao próximo.



































Registros marcantes
Primeiramente deixo claro que um professor tem que estar sempre pesquisando, assim será um docente que levará informações aos alunos que as transformarão em conhecimento. E como pesquisadora, observei momentos de alegria e outros não. Vi a ansiedade dos alunos em querer aprender "tudo" de uma só vez (alegria misturada a agonia em mim). Mostrei que muita informação em um só dia não seria possível, pois o cérebro tem seu limite e, também, haveria muita dor nos membros superiores. Foi triste saber a história de como "aquele dedo" não ficava reto. Muitos quebraram o dedo , e por medo de serem reprimidos pelos pais, suportaram a dor por meses. Enfim, medo, falta de diálogo, constrangimento diante dos pais. Percebi que seria bem melhor se o laboratório de informática fosse maior e ventilado, caberiam todos os meus alunos e as aulas seriam mais rendáveis. Senti o envolvimento dos alunos sendo ampliado a cada dia, em cada aula. Vi o conhecimento sendo construído diante dos desafios em cada aula. Notei o quanto eles se interagiram, a amizade entre meus alunos ampliou, em grupos ou "sozinhos" sentiram a necessidade de falarem com a mesma língua pensando no ser humano: o surdo! A forma de avaliação foi tão positiva que os vejo hoje como multiplicadores da LIBRAS na comunidade escolar. Eles participaram das atividades de forma disciplinar; passaram a ensinar algumas palavras a outros professores; respeitaram o espaço do outro no momento de aprender, falar e ouvir; manusearam os suportes (livros, CD, revistas, computadores com Internet) com muito cuidado, pois ali estava um tesouro! Uma parte em que os alunos amadureceram muito foi no Seminário. Eles pesquisaram em grupo e apresentaram aos colegas suas conclusões e suas ideias. A escola apoiou e continua apoiando esses "multiplicadores", têm acesso ao laboratório de informática para ensinarem LIBRAS àqueles que querem e aos alunos surdos.




Conclusão
Através das tecnologias de informação e comunicação os alunos da 9º ano A, aprenderam LIBRAS durantes o mês de Outubro com a Prof. Vaneide, na Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida ? Ilicínea. Os alunos ampliaram o domínio em informática, passaram a identificar os ícones com mais facilidade no CD e no Blog Múltiplas Linguagens, criaram suas próprias estratégias de aprendizagem da LIBRAS, perceberam que mímica (a prática anterior de se comunicar) é bem diferente da LIBRAS (a práxis correta), perceberam que há várias comunidades surdas no Orkut e que, infelizmente muitas famílias não sabem evitar a surdez em seus filhos. O que os levaram a sentir mais responsabilidade em propagar algo na comunidade sobre o assunto. O Projeto MÃOS QUE FALAM continua para cada aluno, pois hoje são "multiplicadores da LIBRAS", procuram ensinar em outros horários os alunos que querem e aqueles que são surdos. Seguem os passos que os ensinei: alfabeto bem feito, apresenta o dicionário impresso com sinais e passam ao dicionário on-line (CD e o link disponível no Blog Múltiplas Linguagens). Por ser um projeto de inclusão, acredita-se que seja interdisciplinar, porque palavras de todas as disciplinas foram disponibilizadas à aprendizagem, e também, para se interagir há necessidade de diálogo, portanto, para isso acontecer há a necessidade de falarem a mesma língua.




Nome completo do(s) autor(es) responsáveis pelo registro dos resultados do projeto:
Vaneide Damasceno Cunha Arantes