“Manda quem pode; obedece, quem tem juízo”

      Mais que um dito popular, essa expressão monta de apontamentos históricos nas relações acordas entre os patriarcas do início da história das famílias e seus métodos de educar. Assim era determinado para que as ações dos aprendizes, fossem justas para com quem as ensinou e construtivas para quem as aprendeu. Valendo-se, mais uma vez de recortes que existem como lições, está escrito: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais, porque isso é justo. Honra teu pai e tua mãe, que é o primeiro passo para o teu crescimento. Para que vivas o prazer de vencer por todo o seu tempo. E vós, pais, não provoqueis à ira os vossos filhos, mas orientai-os na disciplina e admoestação de quem sabe o que precisa ser feito, sempre.”

        Nesse sentido, sempre que nos vem à mente o percurso que deve fazer a formação de uma criança, embrião do agente maior que há de dar segmento ao grande projeto elaborado pela e para a espécie humana, para reinar sobre as demais espécies, com maestria, segurança e habilidades que somente aqueles que assimilaram os ensinamentos, desde os primeiros passos, os primeiros atos, as primeiras ações e reações. As atitudes do pai dão a seus filhos habilidade, destreza e caráter para viverem uma vida dentro da escala de valores que os dignifiquem.

                Mandar corresponde à postura de comando de forma franca onde tanto quem manda, quanto quem deve cumprir sintam-se partes integrantes de um mesmo processo onde não haja, necessariamente, quem manda e quem obedece, mas sim, a convicção de que os objetivos os mesmos e em benefício de todos. Um pai pode e deve falar sempre a verdade. Muitas vezes, os adultos ficam indecisos entre falar a verdade e ferir, ou maquiar a verdade para proteger: um equívoco. É preciso ser verdadeiro, sempre. Imagine-se uma situação onde uma pequena criança queira e esteja sendo incentivada e motivada para a prática de um determinado esporte. Essa conquista é tão importante para o pai, como para a criança. O pai, no afã de fortalecer o filho diz que a corrida com obstáculo é facílima: “Se jogue, meta a cara sem medo, não há nenhum risco, você é o melhor”.  Como essa frase vai atuar na cabeça da criança? Ele falou a verdade? E se ele dissesse: “A corrida é muito importante como aquecimento para tantas outras atividades, mas é preciso atentar para os obstáculos, para os riscos, para os cuidados, mas é preciso tentar, você tem condições. Para aprender é preciso começar, tentar, cuidar, observar, persistir até vencer. Muitos tentam, o importante é participar. Vamos lá?”

       Quais os efeitos dessa outra versão da verdade, na cabeça da criança que ainda não tem a segurança da experiência em vencer ou perder? Observa-se que as duas expressões do pai são verdadeiras. Mas a primeira induz que a criança precisa vencer, sem temer, porque não há riscos. A vida é um risco. Caso a criança perca a corrida frustrar-se-á. “Não compare com outras crianças” tem sido a súplica de crianças que precisam viver seus primeiros erros sob o olhar de alguém que a motive a acertar, que a estimule a aprender com os erros, sem se frustrar, sem se sentir menor, memos inteligente, menos posta, menos bonita, menos segura, menos hábil, menos... Esse sentimento na criança é uma cicatriz que a acompanhará por muito tempo trazendo grande desânimo, tristeza e frustrações. Autoestima é a chave para que a criança se sinta igual, comum, capaz, sem necessariamente ser melhor que ninguém, afinal, ela precisa ser. Simplesmente ser.

       Quando se discute a dificuldade que existe hoje em manter e preservar boas relações entre adultos e crianças, recorre-se sempre aos extemos que a sociedade atual tem imposto: criança e adulto, rico e pobre, seguro e inseguro, certo e errado, bonito e feio, direita e esquerda, culto e inculto, capaz e incapaz... como se não houvesse o meio termo, o caminho da conquista, a possibilidade de se migrar de um estágio para outro, como se as chances de aprender e fazer diferente fosse privilégio de alguns em detrimento de outrem. A vida não é feita de extremos e, nos casos em que assim se proceda, onde está a motivação para ser diferente? Se uma prova foi perdida, não existe uma outra oportunidade para que ela seja vencida com sucesso? Em que bases estão os pilares da formação humana, cujo processo é infinito enquanto houver vontade de crescer?

                Quando se cobra dos pais firmeza de propósitos, não se está negando que os pais modernos não estejam agindo adequadamente na condução da criação dos seus filhos. O que se alerta é para os instrumentos que vêm sendo utilizados por alguns que, com o fito de protegê-los terminam por tirar deles a oportunidade de aprender e dar valor a tudo o que a vida lhe proporcione por meio de conquistas e desafios.  Por vezes, por acreditar que o filho está seguro do que lhe foi transmitido, pais não percebem que outras influências chegam mais perto do seu filho. Mais perto, porque não se constatou se os limites que foram postos para serem observados, foram, de fato, obedecidos.  Não se avalia que sejam os pais omissos porque sejam mais cômodo, mas o que se teme é que suas práticas estejam confundindo diálogo com compreensão; quem manda, porque manda, quem obedece, porque tem que obedecer. Que as crianças entendam que elas não têm que obedecer porque os pais querem, ou porque elas não saberiam tomar as decisões mais acertadas, mas sim, porque a EXPERIÊNCIA dos pais precisa ser testemunhada pelos filhos fazendo a devida triagem entre os desafios vencidos e como foram vencidos e os empecilhos que, no seu tempo não foram ultrapassados por falta de firmeza.

        Essa firmeza que hoje, o pai deve ensinar ao filho para que não insucesso não se repita. Os tempos são outros, é verdade, mas o exemplo positivo do pai é a lição de casa de hoje do pequeno que antes de ouvir o pai já dominou a tela do celular, onde “falsos profetas” já disseram que era melhor ir de encontro “ao coroa”.  Os pais desses “falsos” profetas são os grandes concorrentes para a presença firme e segura de pais que levam a sério a formação dos seus filhos. E o mais grave é que, muitas vezes, os pseudo pais dos amigos do seu filho, por serem mais despojados e “modernos” terminam exercendo sobre o seu filho uma influência muito mais marcante pois é transmitida para o seu filho, como sendo o exemplo vivo de quem tem outra visão de verdade, valores, qualidade de vida e compromisso. É mais ouvir do amigo como o pai desse resolveu um determinado problema do eu sentir na pele a mão firme de um pai que age com princípios e tem por princípio ser rígido na defesa de uma educação segura e duradoura.

       Observa-se, frequentemente, que quando um pai repreende o filho ou declara que aquilo que ele fez não está correto, a resposta imediata é sempre a mesma: “Mas na minha turma todo mundo faz, eu não tenho IPHONE mas meus amigos todos têm, quando irei fazer aquele viagem ao exterior, todos os meus colegas da escola vão, eu tirei nota baixa, mas a maioria da sala tirou também...” a sua resposta precisa ser firme e sincera: “NÃO SOU PAI DELES. Sou seu. Ao seu tempo, se isso for o melhor para você e para nós, você terá. Não o que os outros têm, mas o que você precisa ter, porque podemos lhe dá”.

                Falar a verdade vai muito além quando se tem diante de si um filho, um aluno, um amigo inteligente que busca resposta para tudo o que lhe é apresentado, especialmente, para o que lhe é imposto. No caso de uma imposição de pai para filho; professor para aluno esse gatilho da contra- argumentação está mais do que preparado, por isso é necessário expressar-se de modo construtivo ao dizer essa verdade para ele. Inicialmente é imperativo que se examinem quais as quais as suas intenções nesse recorte: está disposto a ouvir a opinião contrária da criança e não bater de frente, como se estivesse a medir forças? Está seguro que não está pensando ou agindo pelos outros, ou influenciado por orientações pouco seguras? Está sendo claro, direto e objetivo, de modo que a criança entenda o porquê daquela posição, baseada em que argumentos previamente conhecidos da criança, como custo-benefício, capacidade, tempo qualidade, durabilidade, vantagens, desvantagens, alternativas que os levaram àquela “discussão”, para juntos decidirem pela melhor decisão: a posição do pai, responsável por quaisquer consequências, inclusive pela satisfação e segurança do filho e da família como um todo.

          Assim é que se diz a verdade. Mas essa mesma verdade precisa ser o espelho decidido a ser vivenciado por todos os membros daquele clã, como sendo a melhor decisão para todos. Nesse caso, jamais poderá haver contradição entre o discurso aberto para o filho e as atitudes que vivenciadas efetivamente por todos. Afinal, a família é para a sociedade, o que a criança deve ser para a família: o espelho.

  • Sebastião Maciel Costa