AS PALAVRAS DAS IMAGENS 16

MAIS UNS POEMAS EM REUNIÃO

 (ilustraram mais algumas das minhas fotografias, em particular sobre os sítios, publicadas no facebook, durante os últimos meses)

 

Na Índia...

Na Índia,
Posso ver o céu
Puro, cheio de aves,
Neblinas ou tormentas;

Na Índia, fui ver o mar
Que trouxe Vasco da Gama
E um pedaço de pátria
Capaz de querer e de fama;

Na Índia, posso ver a terra
Que a criação fez ditar
Berço, celeiro e jardim
Dos seres vivos que encerra;

Mas, oh!
Na Índia, fui ver um homem
De alma larga e doçura
Capturado numa teia
Que o HOMEM faz de amargura.

Um retrato do dia, em Portugal, em 2013

Estas pernas bem batidas,

miudinhas, 
varicosas,
reclamam, querem elástico
pr’ainda correr, 
viscosas!

Mas preciso de comer
não digo um boi
mas num prato
raso que seja,
que o chato
é vir outro de bandeja,
anafado porventura,
e até herói de pintura,
lesto, prontinho e cordato
com uma mão no coração
e a outra a limpar-me o trato,

Ai ao jeito do ladrão!

"Quando a injúria é enorme

Ou mata ou fica disforme."

Leão da estrada 

Essa do leão à entrada,
quado se passa na estrada,
da propriedade privada
ser ameaça alçada
ao ladrão e à facada…
e até ruge ou mesmo brada,
digamos que é comezinho!

Hoje o ladrão vai certinho.
Leva polícia e armada,
leva o leão e a fiada
e se deixa, deixa nada.

 À vista das estátuas do lago, no Rossio

 Irra! Que amor é este?!

Em sedução é perfeito
E os corpos, oh se apetecem.
Gozam o dia e a noite...
Só que privados de leito!

Uma descrição da fotografia colhida no surpreendente largo de Camões, em Lisboa

Se olharem fixos no óculo
a teia em metal,
que sobe
para a janela brilhante,
que encanto
fiam que dobe?

Oh!
Um vulto predominante…
mas surpreendido...
a fumar!

A cores brilhantes outonais na Gardunha

“Se tais laivos houvesse sem eu ver

Não seriam esta vista que dá pasmo.
Se eu não visse a morte acontecer,
Ah! nem cores, nem presença. Que sarcasmo!

Numa passagem por Paredes de Coura... corredoura

Coplas:

A bicicleta e o cão

não me deixam. E se eu poiso!
As rodas correm tão longe…
E o amigo?

Onde quer que oiso.

Mas tu fustigas a fome?!
Olha que quando se é pobre
Comem o teu, em primeiro,
E quando sobra, se deixam,
Ainda pastam o cheiro!

(In) tolerância (passagens facebookianas, quando da morte da Mandela) e uma certa forma de as usar

 Se o tema é tolerância

Fica bonito dizê-lo.
Mas lendo algumas palavras,
Que longe deste modelo!

É o caso, que é deprimente!
Campeões da “liberdade”,
Virem, ferrando o dente
A adversários diletos
Gritando: à prisão, sois certos.
Valeis a mesma maldade!

 Ruínas (Convento do Seixo – Fundão)

 Ah! Como o viço lhe espreita!

E implora: "nunca desfeita".

Mas olha: o frontispicio
Já não resiste à escora.

Possa o passo, ora visto,
Tomar isso, sem demora.

 (algum tempo depois de ter escrito estes dísticos, uma boa notícia: o presidente da Câmara do Fundão anunciou a intervenção desta)

Duas vidas

Ah!

Quem é feliz nos seus dias,
e já não teme amanhã,
encheu a vida.!

- Completa-a,
fado.
Oh! Chegou rasa…
encheu vã!

Olha a convergência! 

Convergência, pois então!
- Ó privado vai pr’ó público
Que este é fiche. Cinco estrelas!
Desanda pois que ele é rico
E esperas. Ficas com elas!

Parlapatão… parlapatão…
Parlapatão…

Uma chave deve haver

Uma chave deve haver

que explique o rombo que estreme
esta barca que nos cabe
na viagem que já dura,
governada, 
rota escura,
por timoneiros, ao leme,
revezados, vez a vez. 

Se acaso estão à espera
sabem de trilho seguro.
Tomam depois o convés
rodando a barca ao través,
vaidosos!
É o apuro!

Uma chave deve haver
que explique. 
Mas, oh! quem sabe?
Quem sabe, mas, e o diz?!

Em viagem... aeroportos...

tomar o (m)ar, ir aos céus
viagens longas... prudentes;
a Índia é calma, tranquila...
tem cautela... quer presentes!

Quase presentes...

"Vasto é o oceano das palavras sagradas

Que iluminam o universo
Com visão divina."

The Holy Vedas, Clarion Books

 Goa

"A Roma do oriente" -
Teve essa fama outrora;
Herança, riqueza, gente
De paz.
Aromas, gostos; igrejas;
Pavões; campos verdes;
O Camões na sua estátua
Guardada
Da praça da Goa velha
Onde pousei as cerejas.
Lá dentro estavam inteiros!
Vi os mártires cristãos;
E mártires outros,
Primeiros
A dar a vida;
Dos outros.
Entrei. Senti-me tão perto
Do longe ali memorado.
Inteiros! Terra distante:
- Bem vindos
Senhores de fora!

Observatório

Uns dizem que o bom mundo é outro,

E sábios parecem ser.
Mas, oh!, que provas já deram?!
- Oh! fizeram este a valer!

Um "novo" mundo a montar?

Recordo o que eram regras:
norte... guias e claras.
Que horror! Fazem-nas cegas! 

Inverno

(palavras desacertadas)

Não resisto a este feeling -
Já vistos em seu reinado.
Prometem, claro - “vai novo!”
Saindo tudo dobrado.”

Cais do Sodré...

À janela acesa
Já não mora lá;
A rosa princesa
'Inda viverá?

Que noite tão escura; 
Que água de fada!
O fogo crescia
Na rosa deitada.

Tão só que ela era;
Tão branca, tão pura
No leito onde a hera
Trepava da rua.

Quem vem p'ra ficar?
A hera que espera
Ou tu a chegar
Ungido de cera?

É verdade que está mal…

É verdade que está mal
O que temos ora aqui.
Mas não se julgue que vale
Só porque falam de ti.

Pode olhar-se miudinho;
Pode ver-se com largueza.
É mal tão vasto. Adivinho?
Não é precisa destreza?

Não te iludas é na causa
Que uns dizem ser exclusiva.
Repara bem: houve pausa
No golpear que nos priva?

Os que falam, oh que sábios,
E insistem que é mal de agora
Fazem lembrar alfarrábios:
Velhos, usados, de fora.