(*) Erica Patricia dos Reis Oliveira, Kédma Macêdo Mendonça, Luciana Rodriguês Maciel e Sibele Silva Leal Rodriguês.

As crianças devem ser preparadas para as perdas ao longo de suas vidas. A morte, por exemplo, é algo inerente ao ciclo da vida, mas o assunto na nossa cultura é um “tabu” - e são poucas as famílias que tratam do assunto de forma aberta e esclarecedora.

E, quando acontece uma perda nas relações próximas, instala-se a dificuldade de falar acerca do acontecimento e o agir se torna pesado, sobretudo com os “pequenos”.

Acreditamos que isso acontece devido aos adultos tenderem a acreditar que poupando as crianças de participarem do funeral e dos rituais de despedida estarão afastando-as do sofrimento. É como se, negando a morte, ela deixasse de existir.

Se para nós, adultos, passar por uma perda já é complicado, imagine como é essa experiência para uma criança. Quando ela perde um animalzinho de estimação, por exemplo, não é raro que os pais tentem substituí-lo rapidamente, evitando também tratar o tema com a seriedade e atenção que merece.

Não pensem que as crianças não compreendem nem sofrem pelo impacto causado por uma perda ou que se as afastarmos dos rituais funerários estão protegidas da dor e do sofrimento. Esse afastamento pode levar a que as mesmas cresçam sem enquadrar a morte e o luto no seu desenvolvimento.

Todas as perdas geram dor. A exemplo dos adultos, quando em luto as crianças podem sim manifestar saudades e o desejo de reencontrar a pessoa significativa que perderam. Se isso não acontecer, é provável que a mesma não tenha condições psicológicas para lidar de forma minimamente adequada com a situação. Como consequência, pode haver problemas futuros como distúrbios de ansiedade entre outros.

Nós, adultos, devemos evitar frases com duplo sentido que podem confundir as crianças, como dizer que “fulano foi viajar” ou “cicrano está dormindo”. Agindo assim, a criança poderá esperar que o falecido retorne ou acorde do seu descanso.

Um erro muito comum que observamos é tentar retirar tudo o que relembre o falecido da vida da criança para evitar que ela sofra. O ideal é incentivar que a memória de quem partiu esteja sempre viva por meio de fotos, vídeos e histórias.

Vivenciando o luto, é normal que a criança venha questionar os adultos sobre o que acontece depois da morte e os motivos que fazem com que as pessoas morram. Caso você se sinta pouco à vontade para falar sobre isso, converse com o seu filho e mostre que você também não tem todas as respostas e que é natural nos fazermos esses questionamentos ao longo da vida.

Toda perda implica em uma readaptação para continuar a viver sem aquele que nos deixou. Este processo influencia no desenvolvimento infantil e pode até mesmo afetar a capacidade de socialização e na forma de viver emoções e afetos – e, ainda, no estabelecimento de futuros vínculos.

Em uma das suas teorias sobre os estágios do desenvolvimento infantil, o franco-suíço Jean Piaget nos mostra que aproximadamente somente após os 10 anos de idade é que a criança passa a ter recursos necessários para compreender completamente os aspectos fundamentais que envolvem a morte. Sabendo disso, fica mais fácil compreendermos os questionamentos e as manifestações de cada fase do luto infantil, sejam protestos, desespero ou esperança.

Tende a ser mais fácil compreender como a criança vivencia emocionalmente a perda e o luto quando se conhece a forma como a morte é concebida ao longo do desenvolvimento cognitivo. Acreditamos que, à medida que o pensamento e a forma de abordar o mundo vão se desenvolvendo, a criança vai aperfeiçoando sua concepção sobre a morte.

Em todo o processo de elaboração do luto infantil, o importante é que a criança expresse seus sentimentos. Enfatizamos que, desde que a mesma tenha acesso às experiências desse momento, ela terá capacidade para elaboração do luto. Logo, entra em cena o principal papel da família: ajudar nos momentos de tristeza e incentivar a expressão dos sentimentos, inclusive os negativos, tais como raiva e culpa, que são considerados normais nessa etapa da vida.

Concluindo, para as crianças as fases do luto não são necessariamente rígidas. Cada uma delas, num contexto específico de perda, viverá com a extensão e a intensidade, com demora e ritmo próprios, num dinamismo evolutivo próprio e único. À medida que o pensamento e a forma de abordar o mundo vão se desenvolvendo, ela vai aperfeiçoando e alterando sua concepção de morte.

(*) Erica Patricia dos Reis Oliveira, Kédma Macêdo Mendonça, Luciana Rodriguês Maciel e Sibele Silva Leal Rodriguês, pedagogas, são professoras na rede municipal em Rondonópolis-MT.