O caminho mais fácil que as pessoas utilizam para definir as coisas, é separando-as, sempre, em dois lados. O bom do mau, o preto do branco, o belo do feio, o certo do errado, o pequeno do grande, etc. Não querem perder tempo com complexidades, que os levam a um terreno perigoso, onde mora o "pode ser", o "quem sabe?" e o "talvez".
Todo mundo quer uma definição mais concreta, mais objetiva e mais palpável.
O que mete medo mesmo, é o que fazer com o cinza? E com o médio? O médio é a forma mais segura de se apresentar, mas ao mesmo tempo
é forma mais certa de ir se transformando em cinza, na cor e, principalmente, na forma.
E o morno?
A bíblia já nos dá uma dica: "seja frio ou quente, só não seja morno que eu te devoro".
E o "mais ou menos?" O "mais ou menos" é a coisa mais insuportável de se definir, se portar, de ser, de estar, de parecer.
A gente encontra alguém na rua e pergunta: -E aí, como vão as coisas?
- Mais ou menos.
Que respostinha. Nos vemos na obrigação de perguntar: - Mas porquê, o que aconteceu?
Daí vem um rosário de lamentações, começando com a morte do cachorro de estimação da Dona Lurdes (aquela vizinha que o marido perdeu a perna!), passando pela separação da filha mais velha ("logo ela que foi a última a desencalhar!") até chegar na operação de catarata do marido, que ficou dois dias no hospital e operaram o olho errado.
Isso tudo é o "mais ou menos"?
Pensando bem, não é uma explicação para "mais ou menos". Está mais para "mais ou menos, um inferno".
Temos que lutar para não sermos avaliados dessa forma, nem nos sentirmos assim "mais ou menos".
Nunca ouvi falar que os quadros de Salvador Dali, a pintura da Capela Sistina, o quadro de Mona Lisa ou até mesmo as atitudes desses roqueiros internacionais, alguém definiu como "mais ou menos".
Devíamos tentar pautar a nossa vida, no sentido de ela ser um algo mais, seja, tomando banho, tentando cantar nosso melhor e inventar uma nova coreografia para nos ensaboar, criando obras-primas ao imprimir toda a nossa inspiração ao cozinhar, seja lavando louça, criando novos malabarismos, seja no contato com nossos amigos e familiares, chamando-os para dançar, enquanto conversamos.
É claro, que evitar ser "mais ou menos", não significa ter um surto de hiper-atividade, que não nos dê a chance de repousarmos longamente, refletindo em silêncio, tendo nossos momentos de profunda intimidade, quietos e completamente imóveis, o que é muito salutar.
Sentir-se como "mais ou menos" é o mesmo que dizer que se está  "gordo ou magro", "feio ou bonito", "saudável ou doente", "rico ou pobre".
Precisamos definir nosso próprio estado de espírito e como nos sentimos, mas de forma clara, até mesmo para sabermos qual rumo tomarmos para a mudança de nossas vidas.
Confesso para vocês que não consegui passar tudo o que queria dizer, mas acredito que deu, "mais ou menos", para entender.
Sérgio Lisboa.
Sérgio Lisboa