1 INTRODUÇÃO

O Balanço de Pagamentos (BP) é o resumo contábil das interações econômicas de uma nação com as demais economias em um determinado período de tempo. Com base nesse balanço é possível avaliar a situação econômica internacional do país. De acordo com Kurgman (2010), o BP é composto pelas contas Transações Correntes (TC), Conta Capital, Conta Financeira e Erros e Omissões. A soma de todas essas contas gera o saldo do Balanço de Pagamentos. Este saldo representa as variações das reservas internacionais, um dos sinais mais usados para a avaliação da economia nacional.

“As reservas internacionais oficiais são ativos estrangeiros mantidos pelos bancos centrais como um amortecedor contra infortúnios econômicos nacionais” (KRUGMAN; OBSTFELD, 2010, p. 230). Sendo assim, as reservas internacionais são estratégicas para um bom funcionamento da economia. Giambiagi et al apud Prates e Rezende (2015) afirmam que foi precisamente uma baixa quantidade de reservas internacionais que causaram problemas que impediam o crescimento econômico no Brasil como, por exemplo, o estrangulamento externo.

No estudo apresentado por Prates e Rezende (2015), os autores afirmam que as reservas internacionais brasileiras crescem continuamente desde 2000.

No início do novo milênio, o total de reservas totalizava 32,6 bilhões de dólares. De 2000 a 2014, quando o valor foi de 369,8 bilhões, houve um crescimento de aproximadamente 1.000%, colocando o Brasil na sexta posição entre os países que mais detêm reservas internacionais. (PRATES e REZENDE, 2015, p. 15).

Prates e Rezende (2015) afirmam, porém, que o bom desempenho das reservas internacionais possa esconder problemas nas contas do Balanço de Pagamentos, uma vez que os resultados do saldo do BP servem como base para a taxa de câmbio da moeda nacional, o que impacta nos preços relativos dos bens produzidos internamente e os bens externos.

Isso é relevante pois, “a balança comercial foi a grande responsável pelos saldos positivos na conta corrente brasileira nos últimos anos” (LEÃO, 2010, p. 10). Leão (2010) afirma que durante e após a crise de 2008, muitas perdas na balança comercial foram causadas pela desvalorização do real, devido a empresas nacionais que substituíram suas receitas operacionais por receitas financeiras, provenientes do mercado especulativo do câmbio.

Além da vulnerabilidade devido as ações dos agentes, a balança comercial também apresenta o problema de ter grande parte da sua pauta de exportação baseada em comodities e pouca participação de produtos manufaturados e bens de capital, sendo deficitária nestas duas categorias.

A dependência das comodities é algo preocupante, pois tem muita volatilidade no mercado. Segundo Nascimento (2014), após a crise financeira de 2008, os preços das comodities já começaram a estagnar e a cair devido a diminuição da demanda e da renda externa. O autor afirma que, a melhora dos saldos do balanço de pagamento que é observado após o final da década de 90 não é fruto de mudanças estruturais nas pautas de exportações, mas sim da alta dos preços das comodities, impulsionada pela demanda chinesa e indiana.

O problema estrutural na balança comercial é a desindustrialização precoce da economia brasileira. De acordo com Nascimento (2014), a valorização dos preços das comodities levou a um aumento das reservas internacionais e, consequentemente, a uma valorização da taxa de câmbio. Porém, tal valorização cambial prejudica as exportações de manufaturados brasileiros, uma vez que ficam relativamente mais caros, e a demanda interna por bens manufaturados nacionais, já que os mesmos bens produzidos externamente estão relativamente mais baratos.

A suposta doença holandesa pode encontrar explicação na ascensão da indústria chinesa. Primeiro, pela necessidade de matérias-primas, o crescimento da indústria chinesa aumenta as exportações de commodities do Brasil; segundo, a apreciação da moeda brasileira e a depreciação da moeda chinesa combinados com a alta competividade da indústria chinesa e a baixa competividade da indústria brasileira, gera um processo de substituição da produção doméstica; terceiro, essa combinação não substitui apenas a demanda doméstica, mas também a demanda externa, ou seja, parte da redução das exportações brasileiras de manufaturados foi provocada pela alta competividade da indústria chinesa também no mercado externo (NASCIMENTO, 2014, p.32).

Tendo em vista os riscos presentes que uma reprimarização da economia pode ter na balança comercial, no saldo das transações correntes e das mudanças nas reservas internacionais, o trabalho tem como objetivo geral acompanhar a evolução do Balanço de pagamento, de 1998 a 2018, averiguando os impactos causados pela desindustrialização. Como objetivos específicos será explicado o balanço de pagamento e todas suas rubricas; a evolução histórica do BP, da balança comercial e das reservas internacionais e, por fim, as causas da desindustrialização precoce brasileira, como ela ocorreu e quais seus impactos econômicos ao longo período estudado.