Quino, um argentino tímido e criativo, fechou os olhos para sempre. Foi ele o criador da Mafalda, uma garota esperta e inteligente que questionava tudo: as relações familiares, a economia, a política, as guerras, a educação, o casamento e outras coisas mais.
Mafalta foi concebida, inicialmente como uma propaganda de uma loja de utilidades domésticas, mas foi recusada pelo jornal. Tempos depois ele apresentou os desenhos da Mafalda a uma revista que a publicou, tornando-se um estrondoso sucesso!
Meu primeiro contato com essa garota genial foi na casa de uma amiga que tinha várias revistinhas com as tiras da Mafalda em espanhol. Virei um fã ardoroso dela e devorei todas as revistas. Minha amiga disse: pode levar, eu já li todas. Levei e não devolvi mais. Mas como diz um velho amigo: “Nessa história de emprestar livros, revistas e discos, existem dois ingênuos. O que empresta e o que devolve”. Alguém levou as revistas lá de casa e também não devolveu, exatamente como eu fiz. Fui esperto e depois ingênuo (rs).
Tempos depois comprei a Mafalda completa, numa edição portuguesa para presentear minha filha no seu aniversário de dez anos. A tradução para o português de Portugal fica às vezes estranha e compromete algumas sacadas da menina precoce e inconformada, como também dos seus amiguinhos.
Quino já havia sepultado a Mafalda de suas publicações, pois já considerava esgotadas as ideias sobre a visão de mundo de uma menina revoltada com o estado de coisas. Ultimamente ele estava aposentado, depois de ter problemas de visão. Foi bom enquanto durou, mas chega um momento em que a personagem começa a crescer e o seu criador envelhecer. A Mafalda se tornou um problema para ele, pois era sempre visto não como um chargista, mas o criador da Mafalda, mesmo tendo publicado vários desenhos com outros personagens. Mas a Mafalda permanecerá para sempre entre nós, mesmo com a partida do seu criador aos 88 anos.
Mafalda, como personagem, é uma menina de classe média argentina que convive com todos os problemas inerentes a sua classe social. A mãe sofredora que transpira o dia todo para dar conta dos afazeres domésticos. Está sempre descabelada, desarrumada e cansada. O pai que dá duro em um escritório de alguma empresa em Buenos Aires que pega o metrô sempre lotado todas as manhãs e as tardes no retorno para casa. Quino não teve filhos e a Mafalda seria sua filha idealizada. Ele coloca na boca da garota aquilo que sentia e observava na sociedade em que vivia, num ambiente de classe média.
Mafalda e seus amiguinhos, representam os vários tipos humanos na sociedade em que vivemos. Mafalda é a garota de seis anos inconformada com a realidade política e social. A Suzanita é uma menina ambiciosa e fútil, que só pensa em um casamento com um homem rico e muitos filhos. Manolo, é um garoto obtuso, cujo pai é o dono de um armazém do bairro. Ele só pensa em ganhar dinheiro e não consegue entender quase nada do que a Mafalda fala. Outro personagem interessante das tiras do Quino, é o Felipe, um garoto ingênuo e puro que tem dificuldades para assimilar o mundo em que vive. Quanto aos pais da Mafalda, coitados, vivem em constante sobressalto com as sacadas geniais da menina.
Enfim, o Quino fechou os olhos para sempre, mas as suas historinhas com a esperta e genial Mafalda, ficarão para sempre entre nós. Em Buenos Aires onde nasceu, foi erguida uma estátua em sua homenagem para que seja sempre lembrada. Quem ainda não leu, aproveite o momento, pois vai se falar muito sobre ela e seu criador nos próximos dias.