Lugar de intelectual é longe do poder
Por Jean Carlos Neris de Paula | 15/02/2011 | PolíticaLugar de intelectual é longe do poder
O livro Os intelectuais e o Poder, de Norberto Bobbio, lançado em 1997 pela Editora Unesp, aponta dúvidas e opções dos homens de formação culta na sociedade contemporânea. A partir da análise da obra, é possível concluir que intelectualidade e Poder Político não combinam, já que a função do intelectual, segundo o geógrafo Milton Santos, é polemizar, criticar, questionar, enquanto a função do político é limitada ao possível, dentro de uma lógica própria, a qual foge da coerência para se aliar a diversos interesses, tornando-se incongruente.
Entretanto é verdade que existem políticos progressistas no Brasil, com boa formação intelectual, capazes de proporcionar mudanças significativas na esfera político-administrativa brasileira, mas estes não escapam de concessões que fogem de parâmetros inteligentes. Isso ocorre nas escolhas de ministérios e secretariados, na formação de líderes de bancada e de governo, bem como nas escolhas de presidentes do Poder Legislativo - congresso, senado, assembleias e câmaras -. É difícil julgar o presidente, os governadores e os prefeitos, na medida em que eles, para chegarem ao poder, precisam de apoio político e, quando eleitos, não podem governar sozinhos, continuando, assim, na dependência de aliados e de ampliação de apoio para crescerem na política. É toda essa sistemática própria que dificulta o governante de seguir um viés ideológico centrado na coesão intelectual, na ética, na criticidade e, sobretudo, na fidelidade aos ideais. Essas questões são conhecidíssimas de todos, e são muitos os exemplos de pessoas que, no poder, fizeram bem diferente do que escreveram e falaram. O Presidente FHC, por exemplo, chegou a recomendar que esquecessem os seus livros.
Por tudo isso, o ideal é que a intelectualidade esteja fora da política profissional, porém inserida nos espaços de discussão política, a fim de estimular a crítica pura, verdadeira, inteligente, visando à formação cultural de uma sociedade, sem cair na tentação do poder, o qual castra o raciocínio lógico e impede a criação de ideias livres das amarras do governo.