O LÚDICO COMO FACILITADOR DO DESENVOLVIMENTO DOS PROCESSOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DAS CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL I.




Elaine da silva Cabral ¹ 

Orientadora: Rosaria Maria de Castilhos Saraiva ²

  



RESUMO


Tendo como ponto de partida leituras, pesquisas e discussões referentes a importância das atividades lúdicas destinadas às crianças com idade escolar, esta pesquisa buscou verificar o lúdico dentro da sala de aula e a sua utilização como ferramenta de ensino dentro do seguimento do ensino fundamental I. A princípio realizou-se um levantamento a partir de argumentação teórica com o intuito de constatar a eficácia do uso do lúdico para auxiliar nos processos de ensino e aprendizagem, estimulando o desenvolvimento social, cognitivo e físico da criança. Para a elaboração da pesquisa foram utilizadas pesquisas bibliográficas e leituras de alguns autores que são referência neste tema, com a finalidade de constatar também a importância da utilização de atividades lúdicas para o desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento, de modo que estes sejam pensados para o uso dentro e fora da sala de aula. Esta pesquisa permitiu uma reflexão a respeito não só do uso do lúdico dentro do ambiente escolar, mas também a preparação dos educadores a respeito da ministração de aulas mais dinâmicas e interessantes, evidenciando a importância de se utilizar atividades que estimulem e desenvolvam uma educação que atribua significados a vida dos seus alunos.


Palavras-Chaves: lúdico. Alfabetização. Letramento. Ensino fundamental I.



INTRODUÇÃO


O brincar dentro do contexto educacional, proporciona não só um meio real de aprendizagem como também permite que os adultos compreendam mais sobre as crianças e suas necessidades. No âmbito educacional isso significa ser professores capazes de compreender onde as crianças “estão” em relação a aprendizagem e desenvolvimento geral, o que, por sua vez, dá aos educadores o ponto de partida para proporcionar novas aprendizagens.

Sabe-se que nem todos, mas alguns educadores buscam métodos diferenciados para trabalharem com a ludicidade, ou seja, utilizam de forma a auxiliar que a criança desenvolva suas capacidades, porém alguns não dão importância a essas brincadeiras que auxiliam e contribuem para a construção do conhecimento.

O tema contribuição do lúdico no processo de alfabetização e letramento das crianças do ensino fundamental I foi escolhido, a partir das vivências viabilizadas no período de estágio no ensino fundamental. O contato com o ensino fundamental oportunizou observar que alguns educadores deste segmento, por fundamentarem-se na pedagogia tradicional, utilizam métodos de ensino considerados ultrapassados apenas com foco nas avaliações de caráter somativo.

No cenário do ensino fundamental a proposta lúdica não é devidamente valorizada, muitas vezes é deixada de lado, dando lugar a atividades reprodutivistas, uma espécie de copia e cola. Neste sentido, constatou-se que as atividades que deveriam auxiliar no desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento baseiam-se em exercícios sem contextualização, como por exemplo: cobrir o pontilhado das letras, ditados, juntar sílabas, entre outras. Estas atividades não demonstram o devido cuidado com o desenvolvimento da leitura e da escrita voltada para as práticas sociais. São propostas apenas com o intuito de conhecer os traços e os sons das letras, ou seja, sem uma perspectiva de formação crítica ou preocupação com a emancipação dos alunos. 

Com essa pesquisa sobre a contribuição do lúdico no ensino fundamental e a sua relação com os processos de alfabetização e letramento, o ensino oferecido neste segmento por estar mais voltado para a transmissão de conteúdos, evidencia que alguns educadores acreditam que a ludicidade não auxilia no processo educativo, alguns dizem que o lúdico acaba dificultando e atrapalhando a construção do conhecimento. Dentro deste pensamento tradicional, as crianças são colocadas em contato com um ensino que não leva em consideração e nem valoriza a sua infância e a sua cultura. 

Em contrapartida, quando se trata de uma educação efetivamente preocupada e comprometida com a formação integral dos seus alunos, acredita que o lúdico deve ser concebido como uma ferramenta importante para o desenvolvimento não só da leitura e da escrita, mas de todas as habilidades e competências da criança. 

O brincar já não pode ser visto apenas como momento de entretenimento, ou seja, a brincadeira deve ser pensada de modo que auxilie na construção do conhecimento. É preciso deixar de lado a visão preconceituosa e tradicional que considera a brincadeira perda de tempo e uma espécie de passatempo, de modo que seja capaz articular os conteúdos curriculares com as práticas instigantes oferecidas através do brincar. Deste modo, foi formulado o seguinte problema de pesquisa: como o lúdico pode facilitar o desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento das crianças do ensino fundamental I?

A pesquisa tem como objetivo geral analisar a contribuição do lúdico nos processos de alfabetização e letramento das crianças do ensino fundamental I. Para o atendimento deste objetivo geral, foram traçados os seguintes objetivos específicos: caracterizar o lúdico: histórico, relação com a escola, contribuições, lugar no currículo; caracterizar o ensino fundamental: histórico, legislação, currículo, formação docente, rotina; conceituar os processos de alfabetização e letramento: histórico, legislação, literatura e a sua relação com o lúdico; apresentar a escola e os professores investigados; apresentar e analisar o trabalho desenvolvido com o lúdico na escola investigada e de que modo contribui para o desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento.

As questões que norteiam a pesquisa são: Como surgiu historicamente o lúdico dentro do ambiente escolar?; Como o lúdico contribui para a transformação da educação?; Qual o lugar do lúdico no currículo do ensino fundamental?; O que estabelece o currículo do ensino fundamental sobre as práticas pedagógicas?; Como relacionar o lúdico com os processos de alfabetização e letramento?; O que a literatura diz sobre os processos de alfabetização e letramento?; De que modo os professores podem trabalhar com o lúdico na sala de aula?; Como o trabalho com o lúdico contribui para o desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento?.

Este trabalho foi realizado com base em uma revisão bibliográfica, que segundo Gil (2008), refere-se a ”um levantamento bibliográfico atualizado e fundamentado em materiais já elaborados, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. A pesquisa foi embasada a partir da legislação brasileira que norteia a educação, e também alguns autores que abordam sobre a temática e dão ênfase no trabalho como: Kishimoto, Soares, Kramer, Ferreiro e Teberosky, entre outros. Com a realização da revisão bibliográfica a respeito do estudo, possibilitou-se uma reflexão aprofundada sobre o tema e a compreensão do fenômeno estudado.

A história referente ao lúdico, salienta que a brincadeira é uma atividade existente desde os primórdios da sociedade e deve ser compreendida como um elemento da cultura, e que o brincar  é uma atividade natural de todo ser humano desde a sua infância.

           O ensino fundamental ao longo da história da educação brasileira sofreu diversas modificações estruturais, inclusive em sua nomenclatura. A legislação e o currículo destinado ao ensino fundamental evidenciam que as características dessa faixa etária devem ser respeitadas no ambiente escolar, e o ensino organizado em torno dos interesses manifestados pelas crianças. 

           A compreensão do uso da ferramenta lúdica mostra que as atividades que a utilizam, contribuem para o desenvolvimento integral dos alunos, a partir da brincadeira o aluno busca compreender o mundo que o cerca, sendo levado a construir sua própria forma de adquirir conhecimentos.

         A construção de uma aprendizagem significativa exige que os educadores criem espaços interdisciplinares, ou seja, espaços que possibilitem não somente contemplar a realidade dos seus alunos, mas ampliá-las. Para atribuição de significados os educadores podem estabelecer a relação direta entre a aprendizagem e a brincadeira, de modo que não sejam dois processos distintos, mas sim complementares. 

           Neste sentido, para o oferecimento de uma educação significativa, o educador tem o lúdico como ferramenta disponível para auxiliar nos processos de ensino e aprendizagem,  e para que esta educação efetivamente aconteça, o lúdico deve estar presente na organização do currículo, no planejamento e nas atividades. Estes elementos devem ser pensados de modo que permitam à criança fazer aquilo que lhe é peculiar, como por exemplo: imaginar, criar, brincar, aprender, interagir e assim produzir cultura.

           A literatura referente aos processos de alfabetização e letramento mostra que a alfabetização é o processo de aprender e conhecer as letras e palavras. Já o letramento refere-se a apropriação do significado dessas palavras e na inserção do aluno na sociedade letrada em que vive. 

A história apresenta que as primeiras tentativas de organizar a educação do país começaram em 1876, onde esse período foi marcado pela implementação dos primeiros métodos de ensino de leitura e escrita, com base em abordagens sintéticas como o método alfabético.

          A relação dos processos de alfabetização e letramento com o lúdico mostra que o lúdico pode ajudar durante os processos de aquisição da leitura e da escrita, sendo este colocado como uma ponte para auxiliar na melhoria dos resultados, permitindo compreender o universo da criança e utilizar o que lhe permeia para atingir uma aprendizagem mais eficaz e significativa.

          O presente trabalho trata-se de uma pesquisa empírica, qualitativa, que envolve um estudo exploratório sobre como o lúdico pode facilitar o desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento das crianças do ensino fundamental I. Os dados serão coletados através de documentação direta intensiva por meio de leituras e pesquisas bibliográficas. Essa pesquisa será complementada com documentação indireta de fontes primárias, onde serão consultados livros didáticos, planos de aula, provas e o projeto político pedagógico da escola.

Visa contribuir para que educadores e outros estudantes de pedagogia compreendam o quanto o lúdico na sala de aula pode promover o desenvolvimento de habilidades como: autonomia, cooperação, descoberta e raciocínio; pois, o brincar é um instrumento de aprendizagem e deve ser concebido como parte do processo educativo da criança.

        Desta forma, a relação do lúdico com o ambiente escolar surgiu com a necessidade de auxiliar as atividades lúdicas ao planejamento e a rotina da turma, de modo que acredita-se que  jogos e brincadeiras auxiliam no desenvolvimento da aprendizagem. 

           Sendo assim, espera-se que os estudantes de pedagogia e os educadores reflitam sobre a sua prática pedagógica, e a partir disso passem a utilizar o lúdico como ferramenta de auxílio para o desenvolvimento das atividades dentro da sala de aula, com a finalidade de permitir que a alfabetização e o letramento aconteçam de forma mais leve e agradável, ou seja, tirando um pouco a pressão que o ambiente escolar exerce sobre seus alunos.

Por isso justifica-se este estudo, de modo a socializar os avanços teóricos e legislativos, apresentando a contribuição do lúdico dentro do ambiente escolar, articulado ao desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento, de modo que o mesmo auxilie para a transformação da realidade encontrada nas escolas.


A POSSIBILIDADE DA LEITURA E ESCRITA ATRAVÉS DA BRINCADEIRA 


Este estudo apresenta uma reflexão sobre a importância dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento integral das crianças. Trazendo um breve histórico de como estes que por muito tempo fizeram parte da didática de grandes educadores do passado, e hoje já não surgem como ferramenta de auxílio no processo educativo. 

O problema de pesquisa sobre como o lúdico pode facilitar o desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento das crianças do ensino fundamental I, tem sido discutido por muitos autores na literatura, onde objetiva investigar de que modo as atividades lúdicas contribuem para o desenvolvimento das práticas de leitura e escrita. 

Kishimoto destaca que:

A palavra lúdica é derivada do latim ludus, que significa brincar, divertir-se infantilmente, que tem caráter de jogar. Esta definição aponta para a estreita ligação entre o lúdico e a criança, fato que nos desperta para análise da importância do lúdico em todo desenvolvimento da criança e consequentemente na sua aprendizagem (KISHIMOTO, 2000, p.30).


Deste modo, Kishimoto relata que na Grécia antiga os ensinamentos se davam a partir dos jogos, e que os índios ainda nos dias atuais, utilizam a ludicidade para transmitir ensinamentos e costumes. Ressalta ainda, que o jogo associado à educação tiveram os primeiros estudos na Grécia e Roma, e o uso tinha como finalidade ensinar as letras. Entretanto, com o surgimento do cristianismo, este aspecto foi sendo deixado de lado, pois a educação oferecida nesta época era voltada para a disciplina e obediência.

De acordo com Sant’Anna e Nascimento (2011), ao se falar em infância na sociedade ocidental, logo se pensa no ato de brincar e com isto, fica evidente que a brincadeira é uma ação que auxilia na distinção de criança e adulto, demonstrando a visão antagônica entre o brincar e trabalhar. 

O lúdico se faz presente no contexto escolar constantemente, porém em muitas das vezes ele é erroneamente concebido apenas como uma forma mais fácil de aprender. Esta forma equivocada de colocação é explicada pelo fato do lúdico ser visto apenas como uma possibilidade e não como uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem, que atualmente tem se tornado mais utilizada, entretanto não é muito valorizada. 

Huizinga (1980 apud FORTUNA, 2000, p. 09), sintetiza que o lúdico pertence à cultura, ou seja, acredita que este aspecto é parte da história dos seres humanos, que está presente na realidade de todas as culturas e classes sociais. Os seres humanos interagem com o lúdico antes mesmo de estarem efetivamente no mundo, ou seja, quando a criança é apenas um feto em formação e a mãe sem intenções, através de toques na barriga brinca com seu bebê, está utilizando a brincadeira, para oferecer estímulos, oportunizando o contato da criança com o lúdico pela primeira vez.

O contato com a brincadeira é aberto a todo ser humano independente de sua classe social ou poder aquisitivo, ou seja, todos na infância de diferentes formas têm contato com a brincadeira, alguns tem mais oportunidades para brincar e outros tem menos, mas só estarem em contato com a brincadeira, são colocados em contato com elementos que ativam a sua criatividade e a sua imaginação, onde são levados a construir um mundo que é próprio delas. 

De acordo com Arend e Silva (2008), pensadores como Piaget, Wallon, Dewey, Leif e Vygotsky, consideram o lúdico como um dos aspectos mais relevantes para construção de uma aprendizagem significativa, acredita que um ensino que se utiliza desta ferramenta amplia espaços para expressões e interações, livres da cobrança e da pressão que o ambiente educativo possui sobre seus alunos. 

Para Kishimoto:

O jogo é um instrumento pedagógico muito significativo. No contexto cultural e biológico é uma atividade livre, alegre que engloba uma significação. É de grande valor social, oferecendo inúmeras possibilidades educacionais, pois favorece o desenvolvimento corporal, estimula a vida psíquica e a inteligência, contribui para a adaptação ao grupo, preparando a criança para viver em sociedade, participando e questionando os pressupostos das relações sociais tais como estão postos (KISHIMOTO, 2011, p. 26).


O lúdico no processo de ensino é concebido como elemento importante para construção do ser humano enquanto cidadão, destacando que todo indivíduo em sua infância, tem a oportunidade de estar em contato com esse universo lúdico através das suas experiências, e principalmente a partir das brincadeiras. É através do faz de conta que ela tem a oportunidade de criar e recriar situações, utilizando a  imaginação e a brincadeira como ferramentas de auxílio para a construção da sua identidade.

Fagundes (2017), ressalta que o brincar está presente na vida e na educação da humanidade desde os tempos mais remotos. Além de ser uma forma prazerosa de aprender, o brincar proporciona algo fundamental ao ser humano, a construção de sua independência e liberdade.

A brincadeira é uma ferramenta rica de significados, pois ao mesmo tempo que ela proporciona momentos de descontração e prazer, ela também auxilia na construção da criança enquanto cidadã. A brincadeira permite que a criança construa sua independência e visão de mundo de modo espontâneo, a partir do que a brincadeira proporciona a ela.

Ao decorrer do estágio supervisionado no período de observação das turmas do ensino fundamental de uma determinada escola, da rede municipal de ensino, do município do Rio Janeiro, percebeu-se o descaso e a falta de importância que os professores e pais dos alunos veem no momento de brincar das crianças. Criticam e muitas vezes ressaltam que aqueles momentos são perda de tempo, que as crianças aprendem mais se estiverem em sala de aula, com lápis e papel na mão.

Alguns educadores ainda se baseiam no modelo tradicional de ensino, estão mais interessados em aplicar os conteúdos programáticos, baseados em um currículo vertical, deixando totalmente de lado as brincadeiras. Dessa forma, as crianças estão sendo podadas em determinadas situações onde até o recreio que era momento de interação das mesmas, está sendo tomado.

Durante o desenvolvimento das atividades destinadas a compreensão das práticas de leitura e escrita são oferecidos exercícios repetitivos e monótonos, como por exemplo: cópias, ditados, cobrir pontilhados, etc. Atividades sem significados que não estabelecem relação com a realidade dos alunos, de modo que o conteúdo é transmitido a turma inteira da mesma maneira, ou seja, sem levar em consideração a infância ou a cultura das crianças. 

Nos dias atuais apesar de sugestões e orientações, o cotidiano escolar ainda apresenta algumas dificuldades com relação à utilização do lúdico na sala de aula, de modo que o mesmo facilite  o desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento.

A entrada das crianças no ensino fundamental é compreendida como um momento marcante e importante para o desenvolvimento delas enquanto cidadãs, que são munidas de direitos e deveres; acredita-se que é no ensino fundamental que as crianças são colocadas em contato com atividades que auxiliam na aquisição de conhecimento, valores e comportamento. 

Este seguimento traz experiências novas, ou seja, os espaços físicos são alterados, o tempo de duração das atividades é aumentado, as relações de convivência com o grupo são estimuladas, a proposta curricular e a própria rotina são modificadas. Entretanto, estas mudanças exercem influência direta na diminuição do tempo da brincadeira, em muitas propostas o brincar é visto apenas como passatempo.

A Base Nacional Comum Curricular destaca que o ensino fundamental, é dividido em turmas do primeiro ao quinto ano, e envolve alunos a partir dos seis anos de idade. Este segmento de ensino deve ter como principal objetivo priorizar as características específicas desta faixa etária. 

Desta forma, acredita-se que o lúdico deve fazer parte da construção dos processos de ensino e aprendizagem, onde a bagagem cultural e o conhecimento prévio trazido pelas crianças sejam considerados (BRASIL, 2012, p. 58).

O seguimento do ensino fundamental teve sua proposta ampliada, onde passou a ter a duração de 9 anos. Esta modificação apresenta em sua elaboração como principal objetivo a garantia do oferecimento para as crianças o acesso à educação com qualidade e com foco formação integral enquanto cidadão. Este é um dos vários direitos que são garantidos por lei a todas as crianças, onde são assegurados pela Constituição Federal de 1988 e fixados pela LDB, Lei Nº  9.394/1996.

Referente a esta ampliação, o Ministério da Educação (MEC) publicou um documento, chamado “Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade”. Destaca-se que a leitura deste documento permitirá reflexões relacionadas ao trabalho desenvolvido na escola e o papel que o ambiente educacional exerce na formação integral do aluno. A sua leitura e compressão permitem a ampliação do olhar sob a relação entre a educação infantil e o ensino fundamental. 

Este documento ainda servirá como base para discussões relacionadas a forma de como proceder sobre a transição entre estas duas etapas da educação, e no que se refere à articulação das áreas do currículo, o processo de aquisição das práticas de leitura e escrita e de como o brincar insere-se em todos esses processos. 

O Ministério da Educação destaca:

[...] a ampliação do ensino fundamental para nove anos, que significa bem mais que a garantia de mais um ano de escolaridade obrigatória, é uma oportunidade histórica de a criança de seis anos pertencente às classes populares ser introduzida a conhecimentos que foram fruto de um processo sócio-histórico de construção coletiva (BRASIL, 2004, p. 61-62).

Ainda no que diz respeito ao processo de normatização do ensino fundamental dentro do sistema de ensino brasileiro, vale ressaltar que a Lei Nº 11.114/2005, modifica a LDB e enfatiza a obrigatoriedade da matrícula das crianças com seis anos de idade no ensino fundamental; alterando os princípios propostos, do mesmo modo que a lei Nº 11.274/2006 que também apresenta mudanças na LDB. 

Sendo assim, o ensino fundamental foi ampliado para nove anos de duração reafirmando que a matrícula das crianças seja feita a partir de seis anos de idade, ficando estabelecidas que estas orientações se tornassem efetivadas pelo sistema de ensino até o ano de 2010.

Segundo o documento Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa: organização do trabalho escolar e os recursos didáticos na alfabetização, em BRASIL (2012), esta e várias outras mudanças, foram pensadas com a finalidade de oferecer maiores oportunidades de acesso a aprendizagem no período da escolarização obrigatória; levando a compreensão de que o fato de estar ingressando mais cedo no sistema de ensino permita e assegure que as crianças prossigam por mais tempo nos estudos, e com isto alcancem maior nível de escolaridade. 

Com a idade de matrícula das crianças no ensino fundamental antecipada, surgem novos questionamentos relacionados ao ensino oferecido a criança com idade de 6 anos, onde está criança agora já não faz mais parte da educação infantil. 

Estes questionamentos estão pautados na distribuição e disposição do espaço educativo, ou seja, mobiliário, brinquedos e jogos selecionados de acordo com a faixa etária, material didático, conteúdo curricular e profissional com formação adequada. Estes funcionários devem ter além de formação acadêmica a competência necessária para intermediar e facilitar o ingresso da criança neste novo segmento, de forma que a mesma se sinta acolhida, segura e respeitada. 

A Resolução CNE/CEB Nº 07/2010, implementa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 anos, onde salienta que o objetivo primordial desta etapa de ensino é a aquisição da leitura, da escrita, do cálculo, conhecimentos relacionados a natureza, ao uso da tecnologia e a compreensão do seu lugar na sociedade. 

Para Soares (2005), a partir do lúdico as crianças do ensino fundamental, entram em contato com os processos de alfabetização e letramento de forma mais natural, como durante o momento em que o professor lê textos para os alunos e escreve os textos que os próprios alunos produzem oralmente, utiliza músicas, leva as crianças a brincar com os sons das palavras, reconhecer semelhanças e diferenças entre as letras, manusear todo tipo de material escrito, como revistas, gibis, jornais, etc.

No ensino fundamental para que as habilidades e competências dos processos de leitura e escrita sejam desenvolvidas pelas crianças de forma natural, um recurso que está a disposição dos educadores e que colabora com este processo é a ludicidade, onde a mesma auxilia diretamente em seu processo educativo e auxilia para o seu desenvolvimento global.

Como enfatiza Borba (2007, p.34):

[...] podemos identificar hoje um discurso generalizado em torno da “importância do brincar”, presentes não apenas na mídia e na publicidade produzidas para a infância, como também nos programas, propostas e práticas educativas institucionais. Nesse contexto, é importante indagarmos: nossas práticas têm conseguido incorporar o brincar como dimensão cultural do processo de constituição do conhecimento e da formação humana? Ou têm privilegiado o ensino das habilidades e dos conteúdos básicos das ciências, desprezando a formação cultural e a função humanizadora da escola? Na realidade, tanto a dimensão científica quanto a dimensão cultural e artística deveriam estar contempladas nas nossas práticas junto às crianças, mas para isso é preciso que as rotinas, as grades de horários, a organização dos conteúdos e das atividades abram espaço para que possamos, junto com as crianças, brincar e produzir cultura.

O brincar pedagogicamente deve fazer parte do dia-a-dia das crianças. Desta forma, possibilitará o desenvolvimento das capacidades cognitivas, motora, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e de inserção social e a aprendizagem específica dos processos de leitura e escrita.

Ferreiro e Teberosky (1985), salientam que o ensino fundamental está destinado ao oferecimento de propostas que auxiliem no desenvolvimento e apropriação das práticas de leitura e escrita, onde tem a oportunidade de estimular a ampliação do processo de letramento.

Este é pensado dentro de uma perspectiva discursiva, ou seja, além de ser considerado como balizador das lacunas deixadas pela alfabetização, é também percebido como um processo que reflete dentro e fora do ambiente escolar, pois está preocupado com o uso da leitura e da escrita nas práticas sociais. Neste sentido, o lúdico é concebido como uma forma mais leve e agradável para construção de uma educação que visa a formação crítica e a emancipação dos seus alunos.

Fortuna afirma que:

Reiteramos que a contribuição do jogo para a escola ultrapassa o ensino de conteúdos de forma lúdica, “sem que os alunos nem percebam que estão aprendendo”. Não se trata de ensinar como agir, como ser, pela imitação e ensaio através do jogo, e sim, desenvolver a imaginação e o raciocínio, propiciando o exercício da função representativa, da cognição com o jogo. Brincar desenvolve a imaginação e a criatividade. Na condição de aspectos da função simbólica, atingem a construção do sistema de representação, beneficiando, por exemplo, a aquisição da leitura e da escrita (FORTUNA, 2000, p.10).


A educação oferecida no ensino fundamental que está devidamente preocupada com a construção de uma educação que atribua significados, acredita que a alfabetização, o letramento e o lúdico são indissociáveis. Neste cenário o ambiente lúdico é concebido como facilitador da aprendizagem, onde permite a verdadeira internalização da aquisição das práticas de leitura e escrita.

Segundo Kramer (2006, p. 20) 

Educação infantil e ensino fundamental são indissociáveis “ambos envolvem conhecimentos e afetos, saberes e valores, cuidados e atenção, seriedade e riso”. Porém sabemos que o ensino fundamental ao longo de sua história não tem considerado o corpo, o universo lúdico, os jogos e as brincadeiras como propriedade.


A instituição escolar esteja ela destinada a educação infantil ou ensino fundamental, deve ter seu espaço pensado de modo que oportunize as crianças o contato com aquilo que lhe é natural, como por exemplo: imaginar, criar, brincar, aprender, interagir e produzir cultura.

Segundo Goulart (2014), ao compreender que a criança do seguimento do ensino fundamental I aprende a partir das vivências, adquire noções espontâneas em processos interativos, envolvendo o ser humano por inteiro com suas cognições, afetividades, corpo e interações sociais. O brinquedo desempenha um papel de grande relevância para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa sobre as práticas de leitura e escrita.

Desta forma, fica evidente que não se pode separar uma coisa da outra e muito menos dispensar a brincadeira, pois ela é ferramenta essencial para compreender e começar a decifrar como a criança interpreta o mundo que a cerca. Neste sentido, a brincadeira também possibilita que o professor conheça melhor os seus alunos, de modo que o processo do brincar baseia-se naquilo que os sujeitos conhecem, vivenciam e carregam como bagagem cultural.

De acordo com o Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa: ludicidade na sala de aula em BRASIL (2012), o contato com as experiências culturais facilita e torna capaz a articulação da educação infantil e do ensino fundamental, pois para as crianças não existe essa distinção entre eles. Nada melhor do que a brincadeira para oferecer autonomia e liberdade para que as crianças possam se expressar apresentando aquilo que já sabem, e também ter a oportunidade de aprender coisas novas.

A leitura e a escrita na vida das crianças não só dentro do ambiente escolar, mas também em sua vida social são processos importantes. Ao longo dos anos muito se tem discutido sobre essas temáticas que do mesmo modo que são utilizadas no contexto escolar, também refletem na maneira que a criança se comporta e participa na sociedade enquanto cidadã. 

Diante deste cenário de transformações que a educação continua sofrendo ao decorrer dos anos, um dos temas fundamentais que está presente nas discussões é referente aos processos de alfabetização e letramento, que como os demais processos de ensino e aprendizagem podem ser pensados a partir de uma construção lúdica, ou seja, acredita-se que a brincadeira pode ser utilizada para atribuir significados e auxiliar na construção dos processos educativos. A Declaração dos Direitos da Criança, em seu Princípio 7º ressalta:

A criança deve ter plena oportunidade para brincar e para se dedicar a atividades recreativas, que devem ser orientados para os mesmos objetivos da educação; a sociedade e as autoridades públicas deverão esforçar-se por promover o gozo destes direitos (DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA, 1959).


A escola deve apresentar a leitura desde cedo para seus alunos. Independente da realidade financeira e da sua classe social, a leitura e a escrita devem estar presentes no contexto educativo de todos os alunos, e o oferecimento deste contato é função da escola e também do professor. “A alfabetização não é um luxo nem uma obrigação; é um direito” (FERREIRO apud MORAES, 2005). O primeiro contato da criança com as práticas de leitura e escrita deve ser pensado de modo a familiarizar a criança com este universo totalmente novo. 

O ensino pensado sob o prisma significativo considera o lúdico uma ferramenta que viabiliza a educação, pelo fato de fazer parte do contexto da criança desde o ventre da sua mãe. O lúdico quando utilizado de maneira intencional, permite que a aprendizagem não só das práticas de leitura e escrita, mas todos os processos aconteçam de forma mais natural.

Dentro desta concepção a brincadeira surge como facilitadora do processo de aprendizagem, pois permite ao aluno o desenvolvimento da alfabetização e do letramento sem que se sinta obrigado a aprender ler e escrever, dando espaço para que o aluno se conheça e principalmente se reconheça no desenvolvimento dos processos. 

No contexto educacional existem várias estratégias de ensino que favorecem o prazer do ato de ler e escrever e uma delas são as atividades lúdicas, que auxiliam e permitem que o educando crie a própria maneira de interpretar o mundo. Dentro do processo de aquisição das práticas de leitura e escrita, é mais relevante a qualidade do que a quantidade de atividades realizadas, ou seja, o modo de oferecer atividades que incentivem a leitura e escrita vale muito mais.

Piaget afirma que, pelo fato de o jogo ser um meio tão poderoso para a aprendizagem das crianças, em todo lugar onde se consegue transformá-lo em iniciativa de leitura ou de ortografia observa-se que as crianças se apaixonam por essas ocupações tidas como maçantes (ALMEIDA, 2009, p. 51).


Essas e outras formas de aprendizagem das práticas de leitura e escrita são estabelecidas para o auxiliar no desenvolvimento dos processos, com a finalidade de favorecer a ampliação das habilidades de ler e escrever tanto para o uso no dia a dia no contexto escolar, como para o a participação em sociedade. 

É imprescindível que os adultos que influenciam na educação das crianças, sejam conscientes à respeito da importância que a brincadeira exerce na formação educacional, social, psicológica e afetiva das mesmas. Compreendendo que o lúdico além de auxiliar no desenvolvimento da criança dentro do ambiente escolar, também reflete no favorecimento de uma vida social ativa.

O jogo está na escola mesmo contra a vontade do professor. E de acordo com Kishimoto (2011, p. 54)

[...] é preciso resgatar o direito da criança a uma educação que respeite seu processo de construção do pensamento, que lhe permita desenvolver-se nas linguagens expressivas do jogo, do desenho e da música. Estes, como instrumentos simbólicos de leitura e escrita de mundo, articulam-se ao sistema de representação da linguagem escrita, cuja elaboração mais complexa exige formas de pensamento mais sofisticadas para sua plena utilização.


Existe uma grande diferença entre atividades lúdicas, pois existem as livres que são aquelas destinadas para preencher e ajudar passar o tempo; e atividades lúdicas com viés pedagógico que são atividades pensadas para auxiliar no desenvolvimento cognitivo das crianças. Dentro deste pensamento a escola é o principal ator deste processo, pois deve investir e pensar em um ambiente com espaço adequado, que conte com a disposição de diversidade de materiais para ampliar o repertório das formas de conhecimento, como: obras literárias clássicas, modernas e contemporâneas, fantoches, brinquedos, brincadeiras, teatrinhos, entre outras atividades e materiais que incentivem a curiosidade e estimulem a imaginação. 

É muito importante que a criança de cinco anos, nessa fase seja estimulada com jogos lúdicos que enriquecem os esquemas perceptivos em vários fatores (visuais, auditivos e sinestésicos), operativos (a memória, imaginação, lateralidade, representação, análise) psicomotores. (coordenação fina) que define aspectos básicos que da condição para o domínio da leitura e escrita (BORBA, 2007, p. 33).


Ao decorrer do processo de aquisição das práticas de leitura e escrita, as crianças são colocadas em contato com diferentes elementos, como: letras, palavras, sons, textos, frases, etc. Elementos que despertam interesse e curiosidade nas crianças, o novo chama atenção e leva as crianças a demonstrar empenho em participar destas atividades.

 A brincadeira transforma os processos educativos tidos como maçantes, e esse fazer lúdico traz para dentro do processo de ensino e aprendizagem o sentido de que no contexto escolar o lúdico passou a ser considerado como um dos principais recursos dos processos de ensino e aprendizagem por viabilizar processos considerados complexos, tornando a aprendizagem significativamente mais leve. 

Refletindo a respeito das atividades educacionais, vale ressaltar que as crianças possuem pouca concentração, ou seja, elas dedicam pouco mais de 20 minutos a uma única atividade. Neste sentido, o professor deve utilizar a sua criatividade para prender a atenção dos seus alunos, a brincadeira vem ganhando espaço no cenário educacional justamente por ser considerada uma ferramenta importante para o desenvolvimento das atividades, pois ela aguça a criatividade e a imaginação.

A ludicidade cria espaço para que a criança demonstre maior interesse e envolvimento ao participar do que está sendo proposto. Fica evidente que ao entrar em contato com o lúdico, a brincadeira permite que a criança se reconheça.

É preciso, portanto, reconhecer que a escola tem como função principal orientar de forma sistemática, metódica, planejada, os processos de alfabetização e letramento, organizando o tempo escolar, para que a criança aproprie-se formalmente do sistema alfabético e das práticas letradas. Cabe ao professor incentivar os alunos, pois a motivação pelo prazer é o princípio de tudo e deve ser alimentada nesse processo de alfabetização. Alunos motivados se envolvem mais facilmente nas atividades e, consequentemente, estão mais dispostos a aprender (RODRIGUES, 2013, p. 19-20).


No ensino fundamental I, o lúdico vem sendo cada vez mais substituído pelo saber sistematizado, e com isso as atividades lúdicas acabam ficando fora do ambiente da sala de aula. A brincadeira acaba ficando restrita apenas para hora do recreio, onde as crianças podem se movimentar, expressar espontaneamente e demonstrar características específicas como ansiedade e agressividade. Outro momento que faz parte deste momento lúdico e que é esperado pelas crianças, são as aulas de educação física, onde acabam associando a aula de educação física como um momento de divertimento e livre expressão.

As atividades lúdicas são ferramentas capazes de fazer a diferença no processo educativo das crianças, pois além de favorecer a interação social, estimula a linguagem oral e escrita e facilita os processos de ensino e aprendizagem. Ao compreender a importância e utilizar a brincadeira na sala de aula para realizar as atividades propostas, o lúdico é concebido não só como ferramenta, mas sim como método de ensino com o intuito de tornar a aprendizagem mais natural. E é cada vez mais evidente que a brincadeira tem se tornado uma importante aliada na luta contra o desinteresse e consequentemente o fracasso escolar. 

Pensar o lúdico dentro do contexto escolar requer que os educadores tenham em sua formação uma fundamentação teórica bem fixada, prática e atenção para que possa levar em consideração a subjetividade e particularidade de cada criança, de modo a pensar que o seu repertório de atividades seja adequado a realidade dos seus alunos, respeitando o tempo e o espaço de cada um. 

É importante que as atividades lúdicas sejam pensadas, planejadas e sistematizadas para que possam atuar como mediadoras dos avanços educacionais, criando um espaço de possibilidades e situações que permitam que a criança interaja e aprenda brincando, estando sozinha ou no coletivo. Com isto, promovendo a ampliação dos conhecimentos e o desenvolvimento de diversas habilidades. 

A alfabetização, o letramento e o lúdico são inseparáveis. O ambiente lúdico favorece a aprendizagem e possibilita a internalização e a aprendizagem das práticas de leitura e escrita. O brincar pensado pedagogicamente deve fazer parte do cotidiano das crianças.

A leitura é basicamente, o ato de perceber e atribuir significados através de uma conjunção de fatores pessoais com o momento e o lugar, com as circunstâncias. Ler é interpretar uma percepção sob as influências de um determinado contexto. Esse processo leva o indivíduo a uma compreensão particular da realidade (SOUZA, 2002, p.22).


Desta forma, poderão ser desenvolvidas as capacidades cognitivas, afetivas, motoras, éticas, estéticas, incentivar a inserção social, relação interpessoal e aprendizagem específica da alfabetização e do letramento. Ao participar da brincadeira, a criança tem a liberdade de conhecer seu próprio corpo e espaço que a rodeia; e brincando a criança tem a possibilidade de aprender conceitos, regras, valores e também conteúdos relacionados a atitudes, conceitos e procedimentos nas mais variadas formas de conhecimento. 

O brincar é uma atividade própria da criança, sendo assim, a brincadeira é considerada a maneira da criança se movimentar e se posicionar diante do mundo que a cerca. Na alfabetização e letramento a brincadeira a partir do olhar pedagógico, não é só uma brincadeira, pois ela oferece espaços para que a criança brinque com propósitos e atribua significados a sua interação com os outros e com o ambiente. 

Estes e outros propósitos são pensados a partir da aprendizagem da leitura e da escrita partindo de uma perspectiva lúdica, com o intuito de desenvolver habilidades utilizadas no cotidiano, mas que também serão utilizadas para participação efetiva na sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS


Através desse trabalho foi realizado o levantamento de informações com a finalidade de tornar a discussão mais concreta a cerca da utilização do lúdico no cotidiano escolar, tendo como ponto de partida um levantamento teórico, com o intuito de retomar as concepções de alguns autores à respeito deste tema, permitindo desta forma a localização no tempo e também compreender a importância do uso do lúdico na escola, e de que modo ele contribui para o desenvolvimento dos processos de alfabetização e letramento.

Os dados foram coletados através de pesquisas bibliográficas de autores que são referência neste assunto, o material foi analisado a partir do levantamento teórico realizado, onde constatou-se haver uma certa compreensão sobre o que de fato é o lúdico e a utilização do mesmo como metodologia diferenciada de ensino. 

Neste sentido, evidenciou-se que o lúdico é considerado uma ferramenta de ensino importante, e que pode direcionar e auxiliar no aperfeiçoamento das práticas de leitura e escrita. Entretanto, nos dias atuais alguns professores não utilizam esta ferramenta por uma série de fatores, entre eles podemos destacar alguns como: o fato de achar difícil a conciliação do ensino sistematizado com a brincadeira, a falta de materiais diversificados e também a falta de incentivo por parte da equipe pedagógica.

Este trabalho possibilitou uma reflexão a respeito de como os professores estão desenvolvendo seu trabalho, e de que modo estão aprimorando e se dedicando para oferecerem uma melhor qualidade de ensino e aprendizagem para os seus alunos, mediante a presença de atividades que oportunize novas experiências. Dando destaque para a utilização da brincadeira como recurso e ferramenta que desperta maior interesse e curiosidade nas crianças, apesar de muitos se mostrarem presos a conteúdos e métodos específicos.

Devemos levar em consideração o aspecto de que o brincar faz parte da infância, logo deve ser valorizado e explorado dentro do ambiente escolar. Este estudo reforçou outros estudos e pesquisas, que defendem o uso das atividades lúdicas, por acreditar que o lúdico favorece e auxilia no desenvolvimento intelectual, físico, emocional, social e moral da criança.

Sendo assim, aos educadores que almejam fazer a diferença, cabe investir em sua formação profissional, estando sempre disposto a inovar o seu repertório de alternativas e estratégias de ensino, de modo que as atividades propostas sejam cada vez mais inovadoras, despertem o interessante e incentivem a participação dos seus alunos.

Colocar o lúdico na sala de aula significa ampliar os horizontes do trabalho, tornando-o mais prazeroso e significativo, pois a brincadeira permite que as crianças criem e recriem o seu entendimento de mundo, se desenvolvam e consequentemente aprendam dentro do seu ambiente de brincadeiras e fantasias.

Vale ressaltar que para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade com a utilização do lúdico, o educador deve contar com o apoio da direção, coordenação e também da família, de modo que este tripé esteja sempre incentivando, apresentando ideias diferentes e principalmente dando todo o apoio físico e moral para que o professor esteja constantemente na tentativa de diversificar as possibilidades político pedagógicas de ensino, e modificar de forma significativa a aprendizagem no ambiente da sala de aula. E, por fim, fica destinado as crianças a fantástica experiência de descobrir o mundo que a cerca, conhecer as pessoas a sua volta e a si mesma através das inúmeras experiências oportunizadas pela brincadeira.

Sabe-se que as interpretações apresentadas nesta pesquisa estão abertas a novas abordagens, novas metodologias, novas formas de atribuir significados e consequentemente evidenciar novos avanços a partir da pesquisa. Esta é uma investigação de caráter incompleto, que pode despertar o interesse de outros estudantes, de modo que possam utilizá-la como ferramenta para a realização de novas pesquisas referentes a este objeto de estudo. Acredita-se ainda que esta é uma pesquisa com abordagem empírico qualitativa, que está a disposição dos pesquisadores interessados, onde a mesma possibilita o aprimoramento das abordagens dentro e fora do ambiente escolar, e pode auxiliar diretamente no desenvolvimento de práticas de ensino e aprendizagem mais significativas.














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