Depois da seleção dos primeiros meses, o grupo entra em um período de relativa estabilidade. Agora, a situação se torna eufórica para a maioria de seus membros. A maior parte das pessoas possuidoras de um interesse profundo por assuntos espirituais gasta muito tempo de sua vida procurando por outras que também tenham interesses semelhantes, mas nunca se encontram. Muitas vezes se desapontam, e se acomodam em sua religião, profissão, e vida pessoal. Cumprem, sem convicção, os costumes de seus antepassados, porque não conhecem outro Caminho do Espírito; fazem seu trabalho sem recorrer ao seu próprio mundo interior, e constroem relacionamentos íntimos que só satisfazem às partes inferiores de seu próprio potencial. Alguns se enterram no meio das leis da existência terrena. Alguns se apegam à sua própria INTEGRIDADE, MAS NÃO PODEM ATUAR NOS NÍVEIS SUPERIORES QUE SABEM EXISTIR. Com o tempo, muitos começam a esquecer o ideal espiritual que possuíam há muito tempo. Às vezes, alguns se tornam cínicos, e param de se ocupar de tais assuntos, porque ninguém ao redor deles compreende. Até mesmo podem ceder, e começar a se adaptar aos padrões mundanos; param de buscar, e não reconhecem um contato quando o encontram.

Para os que continuam buscando e, afinal, encontram um grupo atuante onde outros são como eles, isto deve ser, inevitavelmente, uma experiência das mais extraordinárias. De repente, não estão mais sozinhos. Encontraram companheiros que fazem parte de uma Tradição esotérica viva. Este fato acende e ilumina todos os profundos pensamentos e sentimentos sobre a vida espiritual. Compreendem, neste primeiro fluxo de entusiasmo, que voltaram para casa; que estão com pessoas de sua própria espécie, à medida que percebem o que se estende atrás do Trabalho que está sendo feito. Além disso, têm um professor que os conduzirá através de todos os estágios de desenvolvimento, até um mundo completamente novo, onde muitas coisas lidas e imaginadas são confirmadas, e se tornam mais reais que as terrenas. Agora, portas fechadas se entreabrem, revelando facetas e outras realidades que nunca suspeitaram. Tópicos como a anatomia da alma são examinados em profundidade; diversos exercícios interiores proporcionam entendimento direto sobre as maneiras do espírito funcionar, e de sua tarefa em relação à psique. E o ponto de vista científico, o Universo é visto como a extremidade de um vasto iceberg cósmico. Muitos outros temas semelhantes se transformam em áreas de estudo e de prática, logo se tornando claro existir toda uma vida de exploração e de profunda realização.

O efeito dessa compreensão sobre os recém-chegados ao trabalho de grupo é, em geral, bastante profundo. Ficam intoxicados com a Kabbalah, e absorvem vorazmente tudo o que é discutido nas reuniões, seja a metafísica espiritual dos níveis angélicos, ou o fato físico de que o sistema nervoso central corresponde ao self do corpo. Todo assume um significado maior, e eles prestam atenção, escutando cada conversa ou observação que revele mais sobre o Ensinamento. Algumas vezes, esta atitude faz as pessoas perderem completamente a perspectiva do tutor como ser humano, pois creditam-lhe extraordinária beleza ou poder. Embora essa “transferência”, como os psicólogos chamam, seja em parte projeção, também contém mais realidade, porque o que é visto consiste de uma mistura de seu próprio estado elevado e daquilo que o tutor possa ser, de fato, no plano interno. O fenômeno de ver a “face atrás da face” durante um estado elevado não é desconhecido. Muitas pessoas, sob extensa disciplina, “percebem” desse modo, transferindo o nível físico de percepção para o da alma. No novo estudante, este fenômeno ocorre espontaneamente, porque a novidade de estar em um grupo é acrescentada ao poder sendo gerado, o qual estimula um êxtase e um grau mais elevado de consciência. Muitas vezes, isto é maior que qualquer coisa antes experimentada pelo estudante.

A atmosfera de um grupo há pouco formado é muito carregado, não só por causa da excitação de encontrar uma abertura para buscar o Caminho após se estar isolado por tanto tempo, mas também porque nesse estágio a face inferior da Árvore do grupo é preenchida, muitas vezes, por um influxo dos mundos superiores. Significa que a teoria em Hod e os exercícios em Nezah estão ambos operando, transmitindo e recebendo informações e técnicas. Isso faz com que todas as subtríades centralizadas ao redor do nível yesódico do ego fiquem muito ativas, dando ensejo a uma intensificação dos pensamentos, dos sentimentos e das ações, e também criando o princípio de uma identidade de grupo. O Yesod do grupo, ou Fundação, cria um sentimento crescente de companheirismo, e não pouca rivalidade, enquanto as pessoas se esforçam por sobressair e encontrar seus lugares na hierarquia do grupo, porque os indivíduos, até então, ainda estão sob o domínio de Nefesh, ou alma animal, e se comportam do mesmo modo que em qualquer situação social. A espiritualidade não é instantânea.

Muitas vezes, tal competição exibe o melhor e o pior das pessoas. Aqueles que pensam saber, sentirão, ao demonstrarem seus pontos de vista, que estão ajudando o tutor a explicar alguma coisa, enquanto mostram, casualmente, estar bem adiantados no Caminho. Outros, que sabem não saber nada, permanecerão silenciosos, ou perguntarão o que consideram perguntas ingênuas, que são, de fato, mais profundas que o interrogatório sofisticado, quase sempre sobre livros. Um espírito de competição é, muitas vezes, motivado pela boa vontade, e, assim, muitas alianças e amizades começam a se formar entre pessoas possuidoras de algumas coisas em comum. Por exemplo, profissionais como advogados e médicos gravitarão uns em direção aos outros, do mesmo modo que artistas e escritores, ou os homens de negócios. Esta afinidade natural é intensificada pelo Trabalho, e muitas pessoas, de repente, encontram amigos novos e para toda a vida com os quais podem socializar-se fora das reuniões.

Tudo isso, com freqüência, produz o mais fantástico sentimento de amor dentro do grupo. Muito do que se sente não é só o alívio de encontrar um círculo de amigos que partilham dos mesmos objetivos, e sim, uma família espiritual, na qual se está seguro e se é valorizado de uma forma que nenhum clã ou grupo social satisfaz. Este amor, contudo, é também o resultado da Graça que desce sobre as reuniões, porque com o conhecimento superior vem também a proteção celestial. A maioria das pessoas não perceberá a presença desse amor, exceto em momentos de silêncio durante as reuniões. Pode acontecer enquanto o grupo reflete uma pergunta, ou durante a pausa depois de um exercício interior, no qual a sala fica impregnada de uma nítida sensação de tranqüilidade. Esta atmosfera vem e vai, de acordo com a receptividade do grupo, embora o tutor, e mais um ou dois membros muito sensíveis ou experientes, saberão que está sempre ali pairando sobre eles.

Um dos resultados desta nova dimensão é que uma projeção espiritualizada às vezes coloca o tutor sobre um pedestal. Acontece de maneira espontânea, porque, para a maioria das pessoas do grupo, o tutor é, na verdade, a conexão espiritual, como o centro de Tiferet da Árvore do grupo. Assim, além de assumir as qualidades mágicas desta posição na mente do grupo, o tutor deve viver em conformidade e manter essa posição decisiva. Na verdade, se não o fizer, nada poderá, então, fluir da parte superior da Árvore do grupo, isto é, do Julgamento e Misericórdia, da Compreensão e Sabedoria, do Conhecimento e da Coroa, e chegar ao Yesod dos estudantes. Sentado no Trono de Salomão, o tutor deve ser o foco da operação, ou a realidade da Árvore não se manifestará. Assim, o tutor tem a responsabilidade de agir de acordo com os princípios ensinados. Isto não é fácil, porque embora neste ponto ninguém possa ver os defeitos do tutor, aqueles que de cima zelam pelo grupo os observarão, e os submeterão a testes para melhorar o seu desempenho.

O primeiro dos testes que surpreenderá o tutor, muito provavelmente, será a euforia do grupo. Muitos dos indivíduos aos quais foi concedida a oportunidade de ser um tutor se apaixonaram pela imagem que o grupo coloca sobre a cadeira. Isso faz com que o ego se inflame do ponto de vista yesódico, no qual o tutor adota os hábitos e posturas do que pensa ou sente ser um mestre. Isso acontece porque algum grau de conhecimento espiritual foi atingido, e, consequentemente, a tentação de acreditar que se está atravessando uma iniciação. É sabido, por exemplo, que algumas pessoas ao aceitarem a projeção do grupo se vestem como mestres, com os ornamentos tradicionais, assim como um ator, o que de fato realmente são. Sabe-se que tais indivíduos adotam o papel de saber tudo e distribuem julgamentos a um círculo devoto em eterna admiração, que tudo anota e reproduz numa perfeita imitação para mostrar como estão caminhando nas pegadas do mestre.

Quando um líder se torna enlevado pelo grupo, existe sempre um elemento de sedução mútua. Pode acontecer com a psique e com o corpo. Não são poucos os que caem nesta tentação, pois não é nada difícil para um tutor dotado de alguma liderança, ou de alguma fraqueza por elogios, ser seduzido a desempenhar o papel de ídolo. Estudantes carentes, ou os adoradores, extrairão tudo o que puderem, procurando conselhos e opiniões. Certas pessoas até mesmo perguntam ao tutor como conduzir suas vidas. Alguns tutores sucumbem ao papel, e perdem contato com a realidade ao esquecer os seus próprios limites. A tentação clássica, para os homens, é a inevitável moça bonita que aparece em qualquer grupo esotérico buscando o seu príncipe espiritual. Aqui, as condições de um caso amoroso serão facilmente criadas se o tutor der alguma abertura. A razão disso é que tais papéis arquetípicos carregam um fascínio, e, com ele, a possibilidade de um encontro sexual casual, que alguns tutores podem não estar aptos a resistir. Deve ser lembrado que mesmo Merlin, o mestre da magia, foi seduzido por uma bela donzela e aprisionado por ela. O poder do encantamento é evocado com muita facilidade durante o período de “lua-de-mel”. É a época em que Lúcifer, o inteligente e fortuito sedutor, aparece para testar o iniciado nesse ponto decisivo de sua função como tutor.

A “lua-de-mel”, em geral, dura de uns poucos meses até mais ou menos um ano. Depende do seguinte: se o grupo mantiver os mesmos membros, ou se houver uma constante mudança de pessoas que devem passar por esse estágio. Quando a novidade, afinal, se esgotar, e o tutor e o grupo atingirem um equilíbrio no processo de amadurecimento, então a verdadeira Kabbalah poderá começar. Não quer dizer que se perdeu tempo, mas que o êxtase inicial e as impurezas foram descartadas; e que existe suficiente substância, experiência e coesão dentro do grupo para que uma outra fase entre em operação. Não acontece de repente, mas surge de maneira lenta, enquanto o grupo atravessa um período auto-seletivo,saindo da crença supersticiosa em direção ao verdadeiro conhecimento.