Thiago B. Soares                                                                                                       

                Dizer da lógica é, entre outras coisas, usar metalinguagem, porquanto isso é argumentar sobre a formação do argumento ou sobre pontos de vistas construídos a partir de métodos inferenciais ou deducionais.

            Da lógica Aranha e Martins (2009, p.131) asseveram:

A lógica faz parte do nosso cotidiano. Na família, no trabalho, no lazer, nos encontros entre amigos, na política, sempre que nos dispomos a conversar com as pessoas usamos argumentos para expor e defender nossos pontos de vista. Os pais discutem com seus filhos adolescentes sobre o que podem ou não fazer, e estes rebatem com outros argumentos.

            Como afirmam as autoras, a lógica está presente em nosso dia a dia, haja vista a etimologia que elas mesmas trazem desse vocábulo, do grego logos, que pode significar expressão, pensamento, razão e etc.. Com isso dito, trabalhamos constantemente a língua como sendo uma das maiores expressões da razão humana, pela qual pensamentos são expressos e até mesmo combatidos. Em outras palavras, lógica e língua estão intimamente relacionadas, haja vista que promulgamos ideias fundamentalmente pelo uso da língua, fato que não se dá de qualquer forma, ou seja, pede uma organização da qual “todos” possam compreender, o que não é senão lógica. Nesse modo de pensar, a lógica pode ser concebida como intrínseca e extrínseca ao ser humano, dito de outra forma, a língua estrutura logicamente o pensamento humano tanto na gênese da língua (cf. Vigotsky, 2010) quanto no cotidiano.

            Num âmbito mais particular, ou seja, o da Filosofia, a lógica pode ser descrita pela contribuição de Japiassú e Marcondes (2006, p. 171) ao afirmarem: “Em um sentido amplo, a lógica é o estudo da estrutura e dos princípios relativos à argumentação válida, sobretudo da inferência dedutiva e dos métodos de prova e demonstração”. Nesse sentido, a lógica passa pela argumentação validada, quer dizer, argumentar sem validez é falsificar, de modo que o falso não é lógico. Diante disso, a lógica pode ser entendida como busca ou mesmo demonstração do verdadeiro em detrimento do falso. É sob esse prisma que praticamente todas as ciências se sustentaram e se sustentam caso contrário não seriam consideradas ciências verdadeiras.

            As ciências precisam possuir uma matriz de ideias, juízos e conceitos lógicos pretendendo retratar verdadeiramente o ponto de vista que assumem sob a realidade ou o ser humano, sendo a verdade que se arrogam derivada da lógica pela qual edificam suas teorias. Nesse sentido, as ciências chamadas de exatas primam por apresentar conjuntos de pressupostos logicamente demonstráveis na realidade objetiva, para tanto as articulam em “narrativas” epistemológicas, caso da Física, Química e suas derivadas, embora saibamos que muito da lógica usada nessas áreas não corresponde mais ao conhecimento atual delas, um pequeno exemplo, Newton e sua teoria gravitacional e Einstein com sua teoria da relatividade contrapõe-se em diversos pontos, mas é a lógica do primeiro que ainda vigora para explicar muitos fenômenos.

            Com efeito, outro campo que é afetado, ou ele próprio é parte integrante da lógica, é a Gramática, posto ser o arranjo lógico do uso da língua. Se a língua fosse tida como conjunto de regras lógicas, a Gramática seria o estudo da língua. Sabemos o quão importante é a compreensão dos níveis articulatórios da língua, fonético/fonológico, morfológico, sintático e semântico na produção de sentidos, dito com outras palavras, a lógica da língua.

            Em geral, a lógica se faz presente na organização sociocultural na qual vivemos pelo fato de estandardizar comportamentos aceitáveis, que, a seu turno, seriam índices de uma estruturação psíquica saudável. Nesse passo a Psicopatologia surge como o estudo, latu senso, da cisão da lógica de nossa vida psíquica, buscando com isso auxiliar o ser humano a (re)encontrar a lógica perdida. Segundo essa linha de raciocínio, uma psicose, que, em tese, é a perda do contato com a realidade, seria uma lógica distorcida geradora de comportamentos transtornadosem relação à lógica disposta pela sociedade.

            As expensas do que foi dito, o conhecimento é estruturado nas diversas ciências existentes sob a égide da lógica. A Biologia na época de Lamarck aceitava agradecida sua teoria da reprodução híbrida de certos angiospermas a partir de cruzamentos entre espécies diferentes, e os traços adquiridos e perdidos nas espécies por sua famosa “lei do uso e desuso”, mas que a não aceita mais por haver uma lógica mais propensa em demonstrar a verdade, qual seja, a teoria da evolução das espécies de Darwin - pela sobrevivência do mais forte.

            Portanto, a lógica compõe o modo como o homem vê e expressa o mundo na medida em que o ser humano compõe a lógica em suas múltiplas facetas de entendimento. Nesse sentido, Karl Popper nos ensina muito ao afiançar:

Minha teoria, em resumo, é esta: encaro a lógica como a teoria da dedução ou da derivabilidade, ou seja, o que alguém queira chamá-la. Derivabilidade, ou dedução, envolve, essencialmente, a transmissão da verdade e a retransmissão da falsidade: numa inferência válida, a verdade é transmitida das premissas para a conclusão. Isto pode ser usado especialmente nas chamadas provas. Mas a falsidade é também transmitida da conclusão para uma das premissas e isto é usado em desaprovação ou refutações, e especialmente na discussão crítica(1975, p. 279; grifo do autor).

            Assim, a própria produção do conhecimento é inevitavelmente trilhada pelo caminho da lógica, seja para criar o novo, recriar, ou simplesmente para refutar o velho em prol de uma “verdade melhor”, de forma que, entre outras coisas, sempre as lógicas dialogam entre si em um confronto ad ifinitum. Quem sabe talvez o poeta persa Omar Khayyam tenha lógica ao dizer: “Uns se vangloriam de uma ciência vazia. Outros continuam acreditando em belas virgens e no Éden. Quando o Véu cair, há de ver-se que todos se perderam longe, muito longe” (2007, p. 63).

Referências

ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4ª ed. São Paulo: Moderna, 2009.

JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de filosofia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

KHAYYAM, O. Rubaiyat. Blumenau, SC: Editora Eko, 2007. (Coleção: Clássicos do Oriente).

POPPER, K. R. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. Trad. Milton Amado. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1975.

VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Org. Michael Cole [et al.]. Trad. José Cipolla Neto; Luís S. M. Barreto; Solange C. Afeche. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.