LIVRARIAS DA AV. PAULISTA

Hoje em dia, as grandes livrarias vendem de tudo: DVDs, artigos de informática (o que você quiser!), televisões, celulares, CDs, liquidificadores, ferros, cafeteiras, jogos infantis, câmeras fotográficas, panelas elétricas, canecas decoradas, bolsas ecológicas, balas, chocolates e, é claro, livros.  As maiores livrarias parecem verdadeiros supermercados culturais.

Há vinte anos não era assim, nas livrarias se vendia livros e revistas. Filmes e CDs eram encontrados em lojas especializadas em comercializar obras de atores, cantores e bandas musicais. Eletrodomésticos se vendiam em estabelecimentos comerciais do estilo de Casas Bahia, Ponto Frio e outros que já desapareceram.

Do bairro Paraíso, onde moro, até a Faculdade Cásper Líbero encontro algumas das maiores livrarias de São Paulo: FNAC, Cultura, Martins Fontes. Sempre cheias, vendem também muitos livros e revistas, particularmente nos fins de semana quando os pais de classe média as visitam com seus pequenos filhos.

O ambiente lúdico proporcionado pelas livrarias estimula o interesse das crianças pela literatura infantil. Numa delas, o visitante “entra” no esqueleto de madeira de um dinossauro e procura o livro que quiser. A variedade de livros lindos, coloridos e até em 3D é imensa. A criança afunda, às vezes, literalmente, num mar de livros. Ela lê, ou brinca de leitora, enquanto os pais se deleitam ao ver o contato das folhas, imagens e palavras com seu rebento.

Atualmente, é possível sentar-se no tapete da livraria e ficar um bom tempo degustando um livro. O dono da loja confia  que a compra da edição é a consequência provável.

Numa tarde dominical de agosto, na livraria do dinossauro de madeira, a jovem mãe reclamava com o filho de, no máximo, cinco anos: “ Felipe, você já pegou três livros, vamos embora que o papai está esperando na pizzaria. Mês que vem você compra outros”

Nada do menino querer sair da barriga do dinossauro. Mas, como a paciência de mãe também tem limites, devolveu para a prateleira os livros que não estava disposta a pagar e levou o filho resmungante para o caixa.

Um turista estrangeiro, amante dos livros, ficaria com a impressão gratificante de que os brasileiros são devoradores de literatura. Mesmo porque pela última Bienal do Livro de São Paulo, em agosto deste ano, passaram cerca de 750 mil pessoas.

Triste engano. A média de livros por ano lidos por cada brasileiro, segundo pesquisa do Ibope de 2011, é de quatro livros, sendo que dois desses não são lidos até o final. Espontaneamente cada brasileiro lê apenas um livro por ano.

Mas, e as bibliotecas públicas, o que fazem para atrair crianças e adultos? O salário do trabalhador comum permite que ele compre livros para sua família? As bibliotecas das escolas públicas, que hoje se assemelham a austeros “santuários” de livros, não poderiam adquirir as formas coloridas e lúdicas que as livrarias da classe média têm?

Richard, aluno da oitava série de uma escola pública de São Paulo e morador do Jardim Ângela, um dos bairros mais pobres de São Paulo, nunca leu um livro inteiro.  Nem quer! A leitura é difícil e arrastada. Para passar de ano só precisa ler alguns textos curtos em sala de aula!

A biblioteca da escola é fria, empoeirada, com cadeiras duras e maltratadas – como as da sala de aula.

 Felipe e Richard estão separados por um abismo educacional. Provavelmente a diferença entre os pais de um e do outro também é gigantesca.

Pena que não seja possível encurtar a distância entre eles através, apenas, de bibliotecas accessíveis e divertidas.