"LIVE": Gênero textual?

                                   Autor: Wallas Cabral

A comunicação humana é algo de suma importância para a vida das pessoas em sociedade. Nela, temos a linguagem que pode ser tanto verbalizada como não verbalizada. Quando se trata da linguagem humana, a linguagem não verbal envolve dança, imagens, símbolos, cores e som. Junto a ela, temos algo estrutural em forma de código que chamamos de "língua". 

As palavras, os fonemas, a relação de uma palavra com outra; a progressão de um texto, de um tema; tudo é a expressão da língua na sociedade. E nesse ponto de vista, existem muitos tipos de textos. Como classificar esses textos para facilitar a comunicação e a lógica de um pensamento? Para isso precisamos entender a ideia de gênero. Por exemplo, na classificação fisiológica, existem gêneros feminino e masculino porque gênero é um conjunto de características que fazem a diferença de uma coisa da outra. No campo LINGUÍSTICO, "gênero" é um conjunto de forma e características "relativamente estáveis" (porque variam), de acordo com o linguística Marchuschi; mas que possuem uma certa semelhança. Portanto, um gênero textual é um conjunto de características que fazem a diferença entre um gênero e outro. Nesse sentido, vale a pena entendermos mais um exemplo: uma entrevista escrita é um texto verbal. Uma receita de bolo também é um texto verbal. Mas perceba que esses dois textos têm características que os diferenciam um do outro. O primeiro, possui uma interatividade entre os interlocutores (a pessoa que pergunta, e a pessoa que ouve e responde). Já o segundo texto possui características diferentes do primeiro porque é como se fosse um manual de procedimento a ser seguido para construção de um alimento. Essas características fazem com que esses textos estejam em gêneros diferentes. O primeiro é um gênero textual "entrevista", e o segundo é um gênero textual "receita". E cada um deles ainda se subdividem em vários outros tipos de gêneros. No caso da receita, temos receita de bolo, receita de lasanha; ainda encontramos diferenças na receita de prescrição médica e receita para relacionamento em firma de manuais de orientação etc.

Assim, encontramos muitos gêneros como: poema, romance, novela, filme, série, reportagem, debate e live, dentre muitos outros gêneros. Ainda de acordo com a maioria dos pesquisadores da área da linguagem, os gêneros textuais estão dentro de tipos textuais: descrição (características), narração (história), instrução (injunção), argumentação (fundamentação do assunto-tema), exposição (informações) e prescrição (Manual com determinadas decisões).

Com o passar do tempo, muitos tipos de textos foram usados para comunicação humana dentro do código da linguagem. Antes, o poema era o gênero de maior tecnologia, considerando aquilo mais usual e prático para expressar um pensamento na comunicação daquela época. Hoje, em plena era da informatização, temos a tecnologia da comunicação voltada para as "lives". 

De acordo com professor Anderson Nascimento Reis, de inglês, Live temstem como tradução literal "vivo" e que semanticamente, no ponto de vista da ideia, pode significar "transmissão ao vivo". Reforçando essa definição, em uma breve pesquisa na internet, encontramos o conceito de "Live" como transmissão em ondas sonoras via rádio e que hoje é usada para transmissão ao vivo, audiovisual. Sendo assim, características fazem com que esse estilo de situação se encaixe em um tipo de gênero. Por isso que o conceito "live" ao mesmo tempo é amplo. Usado muito no YouTube, Instagram, Google meet, zoo entre outras ferramentas, a Live tomou corpo de diversas maneiras para diversos públicos e subdividem-se em outros gêneros tecnológicos de acordo com os públicos-alvo. 

Assim, falar em "live" é dizer ao mesmo tempo que é algo que serve para comunicação contemporânea. por isso que é uma forma textual verbal e não verbal e por isso mesmo se classifica em um gênero específico, cuja característica principal é a transmissão ao vivo. Dessa maneira, considera-se "live" toda forma de transmissão e por isso que é bom a especificidade desse tipo de gênero novo para melhor compreensão dos ouvintes em seus objetivos e forma de expressão: "Live no Instagram", ou "live no Google meet", ou "live no YouTube" e daí por diante. Afora o debate EA possível polêmica sobre esses termos serem de fato uma live, a discussão aqui temo objetivo de a fomentar a discussão com mais reflexão e não nos fecharmos sobre as terminologias do que é e do que não é uma live. Há quem ache que vídeo-conferência não seja Live, mas aí teríamos que ter critérios linguísticos, estéticos e funcionais para determinar o que não seria uma live.

Portanto, se alguém ainda tem dúvida  de que o "Google meet" seja uma live, assim como é também considerado live a transmissão ao vivo no "YouTube", acredito que agora essa dúvida não possa prosseguir tanto tanto assim porque, de fato, tem indícios para ser live, especialmente por ser algo feito "ao vivo". Na live, deve, assim, ser especificado o suporte em que ela está. Vale acrescentar que a transmissão ao vivo não quer dizer que é simultânea no tempo que a pessoa observa, mas sim, que ela foi feita numa sequência sem uma preparação de leitura ou esquema decorado previamente, ou com muitas edições. É por isso que às vezes alguns YouTubers, quando "falham", colocam a tela preto e branco para ficar com efeito mais engraçado; e, mais uma vez afirmo, que isso depende muito do público-alvo a ser alcançado.

As "lives" têm edições mínimas quando são gravadas e deixadas em público, mas são transmitidas no momento da fala para um público que geralmente possui interatividade com quem faz. Ou, se for em forma de conferência, são espontâneas sem textos pré-estabelecidos. De qualquer forma, é um universo novo, mas que estabelece um ponto de partida de gênero textual em forma de áudio e vídeo, o que faz dele ser um texto amplo na linguagem e ao mesmo tempo possuir uma linguagem não verbal (que está em constante transformação para subdivisões de muitos outros gêneros). 

É por isso que os gêneros de acordo com Marchuschi são relativamente estáveis. Eles variam no tempo e no espaço e na intenção do ser humano quando se fala da riqueza de comunicação que, de longe, possui critério, características, intenções e significado lógico-estrutural. Bem vindo a um novo Gênero textual que ainda está em constante transformação. A discussão sobre o que é e não é uma live não termina aqui. Muito ainda tem para se debater. Mas no trato de um gênero em que se transmite a fala ao vivo de um interlocutor, então propomos que a live seja um gênero e que as suas subclassificações possíveis gêneros derivados dele.