LITERATURA POPULAR - O LAGARTO QUE ARMOU UMA CILADA PARA SEU RIVAL CARCARÁ
Publicado em 11 de junho de 2020 por Jose Wilamy Carneiro Vasconcelos
O LAGARTO QUE ARMOU UMA CILADA PARA SEU RIVAL CARCARÁ
1
No interior do sertão cearense
Um causo intrigou alguém
Pois as coisas foram piorando
Na família do Seu Quem-quem
Um passarinho da Caatinga
Alertou a bicharada com mandinga
Encabulando o povoado de Araquém.
2
Disse ele que o lagarto teria aprontado
Para seu arqui-inimigo “O Carcará”
Os dois viviam duelando por um território
Nas redondezas do nosso Ceará.
O Carcará disse pro sagui ser bicho esperto
Sobreveria até no deserto
Matando a bicharada no Saara.
3
O Lagarto sentiu-se ofendido
De tocaia, analisou a situação
Contratou a amiga onça
E seu primo camaleão
P’ra fazer uma armadilha
Armou a arapuca numa ilha
Para pegar o Carcará num alçapão.
4
Uma semana se passou
O lagarto armou com o irmão Teiú a cilada
Para seu inimigo Carcará ser fisgado
Numa trama bem montada
Uma perseguição maldita
Que encucou o bicho Jaguatirica
Pois a briga estava armada
5
A bicharada tomou ciência
Da tal arrumação
Pois o Lagarto e o Carcará
Querem ser os maiorais do sertão
A Vaca berrou em alto tom
A Seriema completou:Todo animal é bom
Deus nos fez como sua criação.
6
Aí veio Dona Anta
Fez um discurso no desfiladeiro
Colocou a bicharada contra o Carcará
Pois ele tinha que morreu primeiro
O carcará pega, mata e come
Ele nunca sacia sua fome
Dizia Luiz Gonzaga cancioneiro.
7
A situação ficou caótica
Toda bicharada dava um parecer
Não chegaram a um acordo
O Lobo-Guará avisou! Já passa do entardecer
Os dois são grandes inimigos
O Galo na porteira disse - Todos correm perigo
O bicho homem é que nos faz perecer.
8
Numa tarde ensolarada
O Carcará rondava no alto de uma Colina
Do longe avistou seu inimigo Lagarto
Com sua visão aguçada e cristalina
O Lagarto na encosta tomando sol
Espichado que nem príncipe em arrebol
Preto torrado, cheirando criolina.
10
Dona Onça, velha amiga traiçoeira
Escreveu uma carta e pôs no penhaço
Avisando o causo para o Carcará
Disse-lhes que o Lagarto chamou-o de palhaço
Amigo Carcará preste bem atenção
O Lagarto quer lhe prender num alçapão
E de sua carne fazer um churrasco.
11
O Carcará de longe viu a carta
Que Dona Onça lhe escreveu
Da armadilha ficou puto da vida
Com a notícia que a Onça lhe deu
Contratou seu primo Gavião
Pra tocaiar seu parente Camaleão
De prontidão o Reino Animal respondeu
12
Uma rebelião tomou de conta
No interior e sertão do Ceará
P’ra desfazer a tal intriga
Do Lagarto com o Caracará
Pois os dois viviam numa intriga
Com os bichos criaram uma fadiga
Pr'a resolver o causo só o Juiz Tamanduá
13
No dia seguinte uma mensagem apareceu
Deixada pela pomba Asa Branca
No cerrado com sua asa levantada
Trouxe uma bandeira de Paz e Bonança
Reuniu toda a bicharada
Com uma tremenda bailada
Na festa dos bichos com a esperança
14
No dia da festa a bicharada
Fazia fila para o encontro
Pois queria ver o Carcará e o Lagarto
Desfazer a intriga nesse conto
São Francisco de Assis apareceu
Pois o santo a Jesus prometeu
Num jumento em seu lombo.
15
Quando de repente surgiu
A Deus o Largato pediu-lhe perdão
Onça a falsa amiga ficou envergonhada
E o Carcará na escuta do paredão
A bicharada toda reunida
Com a promessa cumprida
Todos faz parte da Criação.
16
Lá de cima Deus acompanhava
Os bichos no interior do sertão
De repente ouviu uma voz
Eram os anjos com uma canção
Todos os bichos são iguais
Para Deus são imortais
Até o jumento é nosso irmão.
TEXTO E CRIAÇÃO DE JOSÉ WILAMY CARNEIRO.
Esta é uma obra intelectual. Todos os direitos resguardados ao autor da obra conforme lei em vigor.
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Wilamy Carneiro é poeta, cordelista e professor. Uma de suas paixões é a Literatura Popular de Cordel. Desde de seus 12 anos escrevia versos rimados numa folha de papel almaço avulso fornecido por sua genitora. É também cronista, memorialista, historiador e escritor. Autor dos livros EINSTEIN e Sobral - A Cidade Luz. Escreveu Tempo de Sol em 2018. É autor de um livro de crônicas " Um Passo a Mais". Em Fortaleza, na primeira FLINAU ocorrido no Náutico Atlético no Ceará com o lançamento do Livro " O Zé dos Sonhos" - Tudo se Pode Sonhar. Como historiador, no dia 20 de Dezembro de 2018, lançou na Casa da Cultura de Sobral uma obra histórica de contos e causos de sua cidade berço, com o título - " Os Estados Unidos de Sobral." É Membro da ALMECE – Academia de Letras dos Municípios do Ceará. Patrono da Cadeira Nº 97 do Município de Forquilha no Ceará.