O LAGARTO QUE ARMOU UMA CILADA PARA SEU RIVAL CARCARÁ

1

No interior do sertão cearense

Um causo intrigou alguém

Pois as coisas foram piorando

Na família do Seu Quem-quem

Um passarinho da Caatinga

Alertou a bicharada com mandinga

Encabulando o povoado de Araquém.

2

Disse ele que o lagarto teria aprontado

Para seu arqui-inimigo “O Carcará”

Os dois viviam duelando por um território

Nas redondezas do nosso Ceará.

O Carcará disse pro sagui ser bicho esperto

Sobreveria até no deserto

Matando a bicharada no Saara.

3

O Lagarto sentiu-se ofendido

De tocaia, analisou a situação

Contratou a amiga onça

E seu primo camaleão

P’ra fazer uma armadilha

Armou a arapuca numa ilha

Para pegar o Carcará num alçapão.

4

Uma semana se passou

O lagarto armou com o irmão Teiú a cilada

Para seu inimigo Carcará ser fisgado

Numa trama bem montada

Uma perseguição maldita

Que encucou o bicho Jaguatirica

Pois a briga estava armada

5

A bicharada tomou ciência

Da tal arrumação

Pois o Lagarto e o Carcará

Querem ser os maiorais do sertão

A Vaca berrou em alto tom

A Seriema completou:Todo animal é bom

Deus nos fez como sua criação.

6

Aí veio Dona Anta

Fez um discurso no desfiladeiro

Colocou a bicharada contra o Carcará

Pois ele tinha que morreu primeiro

O carcará pega, mata e come

Ele nunca sacia sua fome

Dizia Luiz Gonzaga  cancioneiro.

7

A situação ficou caótica

Toda bicharada dava um parecer

Não chegaram a um acordo

O Lobo-Guará avisou! Já passa do entardecer

Os dois são grandes inimigos

O Galo na porteira disse - Todos correm perigo

O bicho homem é que nos faz perecer.

8

Numa tarde ensolarada

O Carcará rondava no alto de uma Colina

Do longe avistou seu inimigo Lagarto

Com sua visão aguçada e cristalina

O Lagarto na encosta tomando sol

Espichado que nem príncipe em arrebol

Preto torrado, cheirando criolina.

10

Dona Onça, velha amiga traiçoeira

Escreveu uma carta e pôs no penhaço

Avisando o causo para o Carcará

Disse-lhes que o Lagarto chamou-o de palhaço

Amigo Carcará preste bem atenção

O Lagarto quer lhe prender num alçapão

E de sua carne fazer um churrasco.

11

O Carcará de longe viu a carta

Que Dona Onça lhe escreveu

Da armadilha ficou puto da vida

Com a notícia que a Onça lhe deu

Contratou seu primo Gavião

Pra tocaiar seu parente Camaleão

De prontidão o Reino Animal respondeu

12

Uma rebelião tomou de conta

No interior e sertão do Ceará

P’ra desfazer a tal intriga

Do Lagarto com o Caracará

Pois os dois viviam numa intriga

Com os bichos criaram uma fadiga

Pr'a resolver o causo só o Juiz Tamanduá

13

No dia seguinte uma mensagem apareceu

Deixada pela pomba Asa Branca

No cerrado com sua asa levantada

Trouxe uma bandeira de Paz e Bonança

Reuniu toda a bicharada

Com uma tremenda bailada

Na festa dos bichos com a esperança

14

No dia da festa a bicharada

Fazia fila para o encontro

Pois queria ver o Carcará e o Lagarto

Desfazer a intriga nesse conto

São Francisco de Assis apareceu

Pois o santo a Jesus prometeu

Num jumento em seu lombo.

15

Quando de repente surgiu

A Deus o Largato pediu-lhe perdão

Onça a falsa amiga ficou envergonhada

E o Carcará na escuta do paredão

A bicharada toda reunida

Com a promessa cumprida

Todos faz parte da Criação.

16

Lá de cima Deus acompanhava

Os bichos no interior do sertão

De repente ouviu uma voz

Eram os anjos com uma canção

Todos os bichos são iguais

Para Deus são imortais

Até o jumento é nosso irmão.

  

 

TEXTO E CRIAÇÃO DE JOSÉ WILAMY CARNEIRO.

 

Esta é uma obra intelectual. Todos os direitos resguardados ao autor da obra conforme lei em vigor.

 

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Wilamy Carneiro é poeta, cordelista e professor. Uma de suas paixões é a Literatura Popular de Cordel. Desde de seus 12 anos escrevia versos rimados numa folha de papel almaço avulso fornecido por sua genitora. É também cronista, memorialista, historiador e escritor. Autor dos livros EINSTEIN e Sobral - A Cidade Luz. Escreveu Tempo de Sol em 2018. É autor de um livro de crônicas " Um Passo a Mais". Em Fortaleza, na primeira FLINAU ocorrido no Náutico Atlético no Ceará com o lançamento do Livro " O Zé dos Sonhos" - Tudo se Pode Sonhar. Como historiador,  no dia 20 de Dezembro de 2018, lançou na Casa da Cultura de Sobral uma obra histórica de contos e causos de sua cidade berço, com o título - " Os Estados Unidos de Sobral." É Membro da ALMECE – Academia de Letras dos Municípios do Ceará. Patrono da Cadeira Nº 97 do Município de Forquilha no Ceará.