LITERATURA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA
Por Henrique Araújo | 11/06/2010 | Literatura 16.1.A ÉPOCA:
A partir de l945 os povos tiveram uma nova visão do mundo. Foi um período de reorganização depois de uma enorme guerra que envolveu quase todos os países. Os mapas do globo foram alterados, os prejuízos foram enormes, de modo que necessitavam de um novo começo. Esta guerra abriu os olhos de muita gente que passou da fase de importação de produtos, para a industrialização do próprio país (como é o caso do Brasil).
O avanço das comunicações foi grande: rádio, televisão, cinema, correio, jornal, revista, livro, etc. Foram aperfeiçoados os processos de impressão. Houve grandes progressos no comércio e na indústria, na medicina e nas ciências em geral. Começa a era do automobilismo, das conquistas espaciais, o mundo tornou-se pequeno.
Também foi uma época de muita angústia, muito sofrimento, muito sangue jorrou pela terra. Um período de muitas guerras, desde a mais simples a mais sofisticada (nuclear). Apareceram conflitos armados entre vários países do mundo. EUA e URSS se envolvem na corrida armamentista. Mortes e terror por toda parte.
A mentalidade do povo já não era mais a mesma. Apareceram várias seitas, correntes
filosóficas, grupos de idealistas, etc. A literatura também mudou. Já que tudo favorecia, nada melhor que ser uma literatura visual, ligada à pintura, escultura, arquitetura. Foi o que aconteceu. Estas mudanças ocorreram principalmente na poesia, mas a prosa e o teatro também embarcaram. Tais mudanças se passaram em vários países, nos Estados Unidos, na Inglaterra, em Portugal, na França e no Brasil. As artes começam a influenciar muito a literatura: artes plásticas, arquitetura, música, cinema, etc.
Alguns poetas aproveitaram todo este visual e começaram a escrever ou compor seus trabalhos, seguindo tudo aquilo que viam ou observavam. Assim apareceram os precursores: Sartre (Situation II: Quiest-ce que la Littérature?) Ezra Pound (New Direction-Cantos), Fernando Pessoa (Ode, Marítima, Poesias Inéditas) , Rilke (Sonetos, Orfeu, Elegias de Quino), Valéry (la Jeune Parque, Le Cinetiere Marin), Kafka (O processo, Metamorfose, Colônia Penal), Eliot (The waste Land, Four Quartets), e mais Cummings, Mallarmé, James Joyce, Lecante de Lisle. Lançaram as bases de uma nova literatura.
16.2.PERÍODO DE TRANSIÇÃO NO BRASIL:
Após 1945 no Brasil a transformação foi enorme. Essa mudança aconteceu em todos
os setores da vida. Os conflitos sucederam-se: suicídio de Vargas, renúncia de Jânio, revolução de 1964, governos militares, alarmante inflação, crise do petróleo, queda do cruzeiro, enorme dívida externa, problemas gerados pelo AI-5, Lei de segurança nacional, greves, etc. Mas não foram só problemas. Imensos bens apareceram: fundação da nova capital (Brasília), abertura de novas estradas, criação e expansão industrial, principalmente automobilística, criação de faculdades, multiplicação de bancos, editoras, jornais e livros. O progresso foi visto em todos os recantos.
A pintura, arquitetura e a música deram grande ajuda à literatura. Passaram a andar de de braços dados.
16.3.POESIA CONTEMPORÂNEA:
Aos poucos novos valores vão surgindo na poesia. Além de aproveitarem a inspiração nas coisas atuais, os autores querem provar que também aproveitaram a lição dos antigos, o primitivo. Alguns dizem que a poesia atual é a volta ao primitivismo, ao homem que desenhava caracteres nas paredes das cavernas.
Por volta de 1950 alguns autores se reuniram em São Paulo para debater sobre a nova fase literária. Este grupo era formado por Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari. Eles lançam a poesia concreta. A eles se juntam mais tarde Geir Campos, Cassiano Ricardo, Edgard Braga, José Lino Grunewald, Mário da Silva Brito, Pedro Xisto e Ronaldo Azeredo. Inúmeros autores participam do movimento. Lançaram a revista "Noigandres" e "Invenção".
Também já percebíamos uma inovação no mesmo sentido em : Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira e Ronald de Carvalho. Também encontramos vestígios da nova fase em Souzândrade que escreveu sempre fora do seu tempo. Ele escreveu: "Harpas Selvagens" em 1893 já com as características da poesia de hoje.
Em 1967 o poema-processo que muito se aproxima da escultura e da pintura surgiu. Aproveita-se o espaço visual, o poema desdobrado em séries de diferentes versões gráficas, poemas desmontáveis, poesia para ser vista, sem utilização de palavras. Este tipo de poema foi criado por Wladimir Dias Pino.
Em 1962 Mário Chamie cria o movimento Práxis no Brasil. Surge o Poema-Práxis. Segundo o autor: "É o que organiza e monta esteticamente uma realidade situada, segundo três condições de ação: a)Ato de compor; b)A área do levantamento da composição; c) O ato de consumir.
Atualmente na poesia refletem os conflitos da sociedade. É um grande desabafo de um povo oprimido, pobre, angustiado, sofrido. Os temas também estão voltados para o lado erótico, sensual e sexual.
16.4.CARACTERÍSTICAS GERAIS:
São muitas as características da poesia atual. Elas variam do Concretismo ao Poema-Processo e Poema-Práxis, mas há uma semelhança entre ambas:
a)Reformulação da "arte pela arte",objeto artesanal (forma disciplinada);
b)Valorização do ritmo e da forma;
c)Temática humana universal, valorização do homem(universal);
d)Ausência de sinais de pontuação;
e)Valorização do espaço em branco;
f)Estrutura ideogramática, apelo à comunicação não-verbal;
g)Aproveitamento da linguagem de propaganda, de recortes de jornais, revistas, etc.
h)Valorização da pintura, escultura, música e decoração;
i)Mensagem geometrizada;
j)Leitura pluridemensional, leitura não discursiva;
l)Valorização da palavra em si, contra o verso como unidade rítmica;
m)A reformulação do poema que não deverá ser outra coisa, senão poema:
n)Aproveitamento do tape, do cinema, da fotografia (imagens).
Entre os principais poetas e obras temos:
1.João Cabral de Melo Neto (Recife 1920-2000) Passa quase toda a infância em sua terra natal. Muda para o Rio. Vai para o exterior, pois é diplomata. Viaja para vários países representando o Brasil. O autor retrata em sua obra o problema humano. Seu trabalho é obra-prima, porém sozinho no seu estilo. Não participa de grupos poéticos. Obras: "Pedra do sono", "O engenheiro", "O cão sem plumas", "O rio", "Duas águas", "Morte e vida Severina", "Quadema", "Museu de tudo", "Poesias completas", "Educação pela pedra", e outros.
2.Décio Pignatari (Jundiaí 1927.....) Formado em Direito. Encontra-se com os irmãos Campos e passa a frequentar a casa deles. Trocam idéias sobre música, cinema, artes plásticas e poesia moderna. Fundam a revista "Invenção" e "Noigandres". Lançam juntos o Concretismo. Obras: Noigandres l,2,3 e 4 (participação), "Poesia, pois é poesia", "Contra comunicação", "Semiótico e literatura", “Comunicação Poética", "Informação, linguagem, comunicação", "Semiótica da arte e da Arquitetura".
3.Haroldo de Campos ( S. Paulo 1929- 2003) Formado em Direito. Publica seus primeiros trabalhos no clube da poesia. Rompe com o clube e participa do lançamento do poema-concreto. Colabora na revista "Invenção" e "Noigandres". Obras: "Xadrez de estrelas", "Signância quase céu", "Dante 6 contos do Paraíso", (tradução), "A arte no horizonte do provável" (ensaio), "Morfologia do Macunaíma", "Operação do texto", "Metalinguagem", "Ideograma", "Ruptura dos gêneros na literatura Latino-Americana", "Deus e o diabo no Fausto de Goethe".
4.Augusto de Campos (S.Paulo 1931....) Irmão de Haroldo. Colabora com o irmão. Publica seus trabalhos nas mesmas revistas. Obras: "Caixa Preta", "Poemóbile", "Revisão de Kilkeney" (tradução), "Verso reverso, contra verso" (tradução), "John Donne: “O dom e a danação (tradução), "20 poemas E .E.Cummings " (tradução), " Balanço da Bossa ( e outras bossas)", "Poesia, anti-poesia, antropofagia", "Teoria da poesia concreta" (Parceria com H.Campos e Décio.)
5.Wladimir dias Pino ( Rio 1927.......) Viveu quase sempre em Cuiabá. Diagramador, paisagista e programador visual. Colaborou com o visual de alguns carnavais de rua em Cuiabá. Colaborou com os indicadores visuais com a reunião da SBPC na UFMT. Funcionário da UFMT onde publicou algumas de suas obras (Atualmente residindo no Rio de Janeiro). Seus trabalhos são vertidos para diversas línguas. Colaborou com a criação do Concretismo e criou o Poema-Processo. Obras: "Os corcundas", "A máquina ou a coisa em si", "A ave", "Poema espacional", "Sólida", "Numéricos", "Processo: linguagem e comunicação" (Participação).
6.Outros: José Lino Grunewald: "A idéia do cinema"; Pedro Xisto: "Haikais & Concretos"; Edgard Braga: "Extralunário"; Ronaldo Azeredo: "Participação em Noigandres" ; José Paulo Paes: "Joaquim", Mario Chamie: "Lavra Lavra", "Revista Práxis"; Millor Fernandes: "Tempo e Contratmpo"; Ferreira Gullar: "Um pouco acima do chão"; Domingos Carvalho da Silva: "Rosa Extinta"; Bueno da Riveira: "Mundo Submerso", Péricles Eugênio da Silva: "Sol sem tempo".
16.5. PROSA CONTEMORÂNEA:
O Regionalismo continua. Os temas variam. Também permanece o romance psicológico, porém com uma sondagem do interior mais profunda. Permanência da prosa urbana. Aparece o realismo fantástico (linguagem simbólica). A intenção do autor está por trás do que ele diz. Uso de metáforas e outras figuras. O homem é o tema central, o elemento angustiado. São muitos os escritores desta fase.
1.Guimarães Rosa (Cordisburgo MG 1908 - Rio 1967) Formado em Medicina, foi diplomata em vários países. Morreu três dias depois do ingresso na ABL. Sua obra é originalíssima. Usa um linguajar difícil, cria novas palavras. Sua obra não foi bem estudada ainda. É um dos grandes valores da literatura brasileira atual. Obras: "Sagarana", "Corpo de Baile", (Manuelzão e Miguillim, no Urubuquaquá) "Noite do sertão", "Grande sertão Veredas", "Primeiras estórias", "Tutaméia", "Terceiras estórias"," Estas estórias".
2.Clarice Lispector (Ucrânia URSS 1926 - Rio 1977) Veio com 2 anos para o Brasil. Estudou Direito. Acompanha o marido (diplomata) para vários países. Escreveu muito. Obras: "Perto do coração selvagem", "A cidade sitiada", "A maçã no escuro" ,"A paixão segundo G.H", " Água viva", "Alguns contos", "Um sopro de vida"e outros.
3.Adonias Filho (Itajuípe Ba 1915- 1990) Outro renovador na literatura Brasileira. É um verdadeiro criador de contexto novo. É também crítico. Obras: "Memórias de Lázaro", “Os servos da morte", "Corpo vivo", "O forte", "Léguas de promissão".
4.Outros autores: Mário Palmério: "Vila dos confins", " Chapadão do Bugre"; Dalton
Trevisan: "Novela nada exemplar", "Cemitério de elefantes"; José Cândido de Carvalho: "Olha para o céu,Frederico", "O coronel e o Lobisomem"; José Mauro de Vasconcelos: "Meu pé de Laranja Lima","Barro Blanco"; Bernardo Élis: "Veranico de Janeiro"; Paulo Dantas: "Purgatório"; Herberto Sales: "Cascalho", Samuel Rawet: "Contos do Imigrante"; Autran Dourado: "Ópera aos mortos"; José Condé: "Caminhos na sombra"; Rubem Fonseca: "Os prisioneiros"; Lygia Fagundes Telles: "Ciranda de Pedra"; Fernando Sabino: "O encontro marcado"; Moacyr Scliar: "Deuses de Raquel", e outros.
16.6: TEATRO:
É a continuação do teatro moderno. Mostra a decadência dos valores patriarcais, a favela, os problemas humanos. Cai muito para o lado erótico e sexual. Autores: Ariano Suassuna - "Auto da compadecida", "A pena e a lei" ,"O santo e a porca"; Gianfrancesco Guarnieri: "Gimba", "Eles não usam Black tie", "A semente", "O filho do cão", "Botequim"; Oduvaldo Viana Filho: "Corpo a corpo", "Chapelinha Futebol Clube", "A longa noite de cristal"; Plínio Marcos: "Dois perdidos numa noite suja"; Jorge de Andrade: "Vereda da Salvação", "As confrarias", "A moratória", "O telescópio", "Pedreira das almas"; Augusto Boal: “Roda viva", "Revolução na América do sul", "Arena Contra Zumbi"; Chico Buarque de Holanda: "Calabar", "Gota D'água", "Ópera do Malandro"; Dias Gomes: "Sucupira: Amea-a ou deixe-a", O pagador de promessas", "A invasão", "A revolução dos bichos", Vinicius de Moraes: "Orfeu da conceição"e outros.