A literatura brasileira, pautada no discurso do imaginário, vem sendo modificada e revalorizada no decorrer dos anos. Atualmente para os estudiosos da literatura nacional, tem-se a literatura brasileira contemporânea como foco, porém faz-se de extrema necessidade entender as escolas literárias de divergentes épocas que ajudaram no despertar dos estilos literários livres que hoje conhecemos.

Pode-se afirmar que uma nova literatura sempre nascia em consequência e oposição à outra. Assim, de acordo com Tufano (1998): o nosso primeiro estilo literário “Barroco” (século XVI a XVIII) surgiu em uma época de reafirmação das vertentes católicas em resposta à Reforma de Lutero, traz como características centrais o reflexo do período histórico: a fé e o medo do pecar, as trevas versus a luz, as antíteses e as hipérboles como conotação desses valores que eram afirmados e reafirmados através do Cultismo (uso de linguagem rebuscada, culta, extravagante, repleta de jogos de palavras e do emprego abusivo de figuras de estilo, como a metáfora e a hipérbole) e Conceptismo (é marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico que utiliza uma retórica aprimorada. A organização da frase obedece a uma ordem rigorosa, com o intuito de convencer e ensinar). Um grande produtor dessa época é o Padre Antonio Vieira com seus sermões.

Já o estilo que se segue: o Arcadismo (século XVIII e início do século XIX), não partilha dessa valorização dos dogmas católicos/religiosos. O homem na literatura árcade deseja aproveitar o momento (carpe diem), retornar ao campo, viver na simplicidade, dessa forma, até a linguagem simples da literatura árcade vai de encontro às características desse movimento. Por isso, como afirma Veríssimo (1998), “O arcadismo foi mais que uma escola, um estilo literário.” Tomás Antonio Gonzaga reúne todas essas características árcades em sua obra: Marília de Dirceu.

No século XIX, o surgimento do Romantismo, didaticamente, dividido em três fases apresenta-se como uma preocupação com os valores nacionais inicialmente (1ª fase – Nacionalista, Gonçalves Dias e José de Alencar são os principais nomes). Num segundo momento, o egocentrismo fala mais alto e se percebe o Ultra-romantismo sendo destaque, no qual enfatiza-se a preferência dos nossos autores pelo pessimismo, pela morte, característica essas bem representadas nas obras de Álvares de Azevedo. Num terceiro momento, a poesia condoreira ganha espaço, sendo a expressão das preocupações políticas e sociais do brasileiro (a abolição e a república) nos versos de Castro Alves.

Em resposta oposta a todas essas fases do nosso Romantismo, surge o Realismo e o Naturalismo, no qual a criação literária reflete os estudos científicos e a realidade tal como é. Nessa escola literária, o notório se faz presente nas críticas sociais, um exemplo de obra literária em prosa que concentra todas essas características é O cortiço de Aluísio Azevedo.

Na poesia, o Parnasianismo – contemporâneo ao Realismo – valoriza a forma poética acima de tudo, os parnasianos chegam a ser bastante rigorosos na métrica, rima e uso do vocabulário, nesse contexto a forma supera a preocupação conteudística. A tríade parnasiana é composta por Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira.

Já no final do século XIX, Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães, valorizando a musicalidade e o vocabulário sugestivo, iniciam o Simbolismo em nosso país.  Contrapondo a descrição dos objetos (característica da poesia parnasiana), os simbolistas estimulam os leitores a sentir as emoções, vivenciar sensações e sugestões e buscar o indefinível.

Contudo, no início do século XX, viver como os nefelibatas (aqueles que vivem nas nuvens, termo usado no século XIX para se referir aos simbolistas) seria o mesmo que fechar os olhos para os problemas mais complexos já enfrentados pela nossa sociedade e para que isso não ocorresse, temos na literatura os autores do Pré-modernismo que expõem essa realidade da crítica social em suas obras. Assim, a denúncia da existência de dois Brasis (um em crescimento nas principais capitais e um esquecido pelos governantes nas cidades interioranas) aparece nos livros: Triste fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto, Urupês de Monteiro Lobato e Os Sertões Euclides da Cunha.

Após essa alerta delatada no Pré-Modernismo, as mudanças na literatura foram vistas como necessárias e emergenciais, sendo debatidas e expostas na Semana de Arte Moderna que ocorreu em Fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Apesar desse evento ter sido alvo de críticas e vaias, os efeitos deste nas diferentes artes foram evidentes e a iniciação do período chamado modernista se efetivou.

Assim, dividido em três fases (Fase de luta e contestatória, Fase intimista – esta também conhecida como fase psicológica - e fase Pós–Modernista), nesse sentido, os poetas, contistas e romancistas da série literária do Modernismo brasileiro, nesses últimos anos de militância crítica, não pararam nas experiências de vanguardas e por vezes têm retomado a “tradição” de nossa literatura (COUTINHO, 2004).

O Modernismo possibilitou a liberdade de criação artística dos nossos autores, sem perder o foco na denúncia social e nas criações imaginárias da literatura. Hoje, o Modernismo é sinônimo da junção libertária de todas as características e experiências das escolas literárias anteriores e manifestação das diversas e incontáveis criações desprendidas (ou até mesmo presas) de padrões.

REFERÊNCIAS:

COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. 7ª edição. São Paulo: Global, 2004.

TUFANO, Douglas. Estudos de língua e literatura. 5ª ed. refor. São Paulo: Moderna, 1998.

VERÍSSIMO, José. Historia da literatura brasileira: de Bento Teixeira (1601) a Machado de Assis (1908). Edição comemorativa. São Paulo: Letras e Letras, 1998.