Resumo

 

O presente exposto tem como pretensão discutir por meio da literatura pertinente sobre a importância do ensino da norma culta sem discriminar a linguagem popular que os alunos levam para a escola.

 

Palavras- chaves: Bidialetalismo; Linguagem escolar e Linguagem Popular.

 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

 

Saber falar “bem”, significa ter a consciência de que há algumas regras que devem ser seguidas para expressar-se de forma correta, atendendo assim, as exigências formais, como por exemplo, entrevista de emprego, preenchimento de formulários etc.

Um dos objetivos da escola é ensinar os alunos a falareme escreverem corretamente utilizando a linguagem padrão da Língua Portuguesa.

Compreende-se que esse é um papel muito importante, entretanto, a escola precisa lembrar que sua clientela provém de diversas camadas sociais, bem como, distintas etnias, culturas e religiões. Além disso, seus alunos também apresentam níveis de desenvolvimentos cognitivos diferenciados.

Por meio destas afirmações entende-se que a variação linguística é notória, pois a linguagem é um objeto histórico, um saber que vai sendo transmitido de geração em geração, portanto inevitavelmente ela está sujeita a variação conforme o tempo e o espaço.

A linguagem sofre quatro tipos de variações, são elas a histórica, a social, a estilística e a geográfica.

  • Variação histórica: nesta há uma observação de pelo menos dois estados da língua, sendo uma a substituta e a outra a substituída, uma deve deixar de ser usada para que a outraprevaleça, as palavras que caem em desuso, passam a ser pronunciadas apenas por pessoas mais velhas.

  • Variação social: refere-se às diferenças linguísticas em que se percebe o status social do seu falante, bem como sua condição de gênero, seu grau de escolarização e sua idade por meio da linguagem utilizada.

  • Variação estilística: refere-se ao uso da linguagem formal ou informal, de acordo com a ocasião em que o falante está.

  • Variação geográfica: esta variação diz respeito aos dialetos regionais.

 

LINGUAGEM ESCOLAR x LINGUAGEM POPULAR: A ESCOLA COMO SÍMBOLO DE DESIGUALDADE

 

Numa sociedade competitiva como a nossa, em alguns casos a forma de como se fala causa preconceito aos que não utilizam à linguagem formal. Desta forma, a fala configura-se como uma roupa que precisa estar adequada de acordo com a ocasião.

Soares (2000) revela que a linguagem escolar, em alguns casos discrimina e inferioriza a linguagem popular. Conforme a autora a escola pública é uma lenta conquista das camadas populares e não uma doação do Estado. Sendo assim, ela enfatiza, que “não há escola para todos” (p.9),além disso, “ a escola que existe é antes contra o povo que para o povo” (p.9), para reforçar seu argumento Soares (2000) destaca que os alunos que entram na escola, nela não conseguem aprender ou permanecer até o fim.

Na perspectiva da ideologia do dom apresentada por Soares (2000) a culpa do fracasso escolar não seria da escola, visto que ela dá aos seus educandos a oportunidades iguais de conhecimentos, em que cada um deve ser responsável pelo seu desenvolvimento cognitivo e seu interesse em aprender.

Conforme essa ideologia o papel da escola seria de oferecer subsídios necessários para que os alunos possam se adaptar, se ajustar a sociedade de acordo com suas aptidões e suas características individuais. Desta forma, o fracasso escolar passa a ser de responsabilidade do aluno que é incapaz de se adaptar e se ajustar ao que lhe é proporcionado pela escola. (SOARES, 2000).

 

O BIDIALETALISMO COMO FORMA DE MINIMIZAR O PRECONCEITO

 

O bidialetalismo consiste em mostrar ao aluno que ele pode falar do seu jeito e do jeito que a escola pede.

Há dois tipos de bidialetalismo são eles o funcional e o para a transformação. No bidialetalismo funcional o aluno aprende a usar a linguagem adequando-a de acordo com o contexto do falante. No bidialetalismo para a transformação o aluno é estimulado a refletir sobre a sua linguagem que é discriminada socialmente.

Para Soares (2000) o bidialetalismo funcional é uma saída importante para que os alunos aprendam a utilizar o dialeto – padrão quando lhes for solicitado.

[...] além de reconhecer e respeitar a variação linguística, o bidialetalismo funcional traz em sua essência a atitude de incluir os alunos de português, falantes do que chama de “dialetos não-padrão”, no rol dos falantes do que chama de “dialeto-padrão”, permitindo a esses alunos o acesso às esferas de poder, dentro das quais o uso dos “dialetos não-padrão” é um fator de forte estigma social. (NOBRE, 2012, P. 79).

 

 

Destaca-se que é importante o aluno aprender a linguagem escolar sem desprezar a sua própria linguagem, entende-se que o bidialetalismo deve ser ensinado na escola desde os anos iniciais do ensino fundamental, para que desta forma, os alunos além de se sentirem respeitados pela escola, tenham vontade de prosseguirem com os estudos, diminuindo assim, os índices de evasão escolar que ocorrem a partir do segundo ciclo do ensino fundamental e principalmente no ensino médio.

Concluindo (se é que seja possível)

Compreende-se que o tema debatido aqui é imprescindível para que haja um ensino significativo e condizente com a realidade dos alunos. Sendo assim, este exposto teve como objetivo refletir de forma simplificada a relação entre a linguagem escolar e a linguagem popular refletindo sobre o preconceito linguístico, e demonstrando por meio dos estudos de Nobre (2012) e Soares (2000) a importância do trabalho com o bidialetalismo a fim de minimizar a estigmatização do aluno que fala “errado” conforme a concepção escolar e social.

Ao ensinar o uso da linguagem formal aos estudantes levando em consideração sua realidade, o professor demonstra o respeito e valorização do dialeto não-padrão dos seus alunos. Deste modo, conclui-se se é que seja possível, que o bidialetalismo é um importante instrumento pedagógico que valoriza e respeita forma de falar dos alunos sem estigmatizá-los.

 

Referências Bibliográficas

 

NOBRE. Wagner Carvalho de Argolo. Bidialetalismo funcional e o ensino de português: a necessidade de um ajuste normativo.Entrepalavras, Fortaleza - ano 2, v.2, n.2, p. 68-83, ago/dez 2012

 

 

SOARES, MAGDA. Linguagem e escola: Uma perspectiva Social. 17ª ed. 2ª impr. São Paulo. Editora Ática. 2000. (Série Fundamentos).