Linguagens da Arte nos anos iniciais

 

Todas as crianças gostam de desenhar, pintar, colorir, brincar com tinta guache, cola colorida, dançar, cantar, ouvir música, imitar, fantasiar, e imaginar não importa qual a sua idade. Nas aulas de arte os pequenos têm a oportunidade de vivenciar essas experiências de caráter lúdico, além de contextualizar saberes. Nas atividades desenvolvidas nestas aulas sem que o educando perceba, o educador fornecem a aquisição de habilidades cognitivas e motoras aos seus alunos. As crianças que desenham, por exemplo, aprendem a escrever mais facilmente, já nas brincadeiras que envolvem massinha de modelar, argilas, areias sensoriais, gelecas entre outras, desenvolvem a noção de espaço e profundidade.  

A arte tem um papel fundamental na construção de um indivíduo crítico, fornecendo-lhe experiências que o ajudam a refletir, desenvolver valores, sentimentos, emoções e uma visão questionadora do mundo que o cerca. A ausência de uma educação com momentos artísticos deixa de lado o que proporciona prazer e alegria às crianças, todas as expressões de artes ajudam a construir o conhecimento e o saber deste indivíduo em formação.A arte, em todas as suas possibilidades, é um importante instrumento do desenvolvimento integral das crianças, o contato com diversidade cultural. Na arte há quatro linguagens que norteiam as produções em sala de aula, são estas artes visuais, música, teatro e dança.

Segundo o Currículo Básico Comum do Ensino Fundamental:

A interculturalidade e as interconexões entre as diferentes linguagens e formas de expressão da Arte - teatro, música, dança e artes visuais, formam os pressupostos sócio-filosóficos e didático-metodológicos que orientam a sistematização das competências e habilidades a serem consolidadas pelos alunos durante os Ciclos da Alfabetização e Complementar, com foco no desenvolvimento do pensamento artístico.

A Arte na escola deve ser vista como o direito de os alunos terem acesso ao patrimônio artístico da humanidade, valorizando as experiências estéticas, como forma de ampliar o conhecimento de mundo da criança. Também deve desenvolver a ludicidade e reforçar nos alunos traços de expressão artística pessoal, garantindo-lhes a capacidade futura de ter na arte um modo particular de comunicar-se com o mundo. (CBC, 2005 pag.203)

 

Os educadores devem se preocupar para que a arte na escola não fique reduzida às atividades de coordenação motora, decorativa ou um mero passatempo, mas que busquem atividades diversificadas e originais, fugindo das praticas estéreis e cansativas adotadas por muitos. As linguagens podem ser trabalhadas individuais ou integradas. Contudo faz-se necessário que o professor utilize os documentos do Cbc que são um guia para as praticas pedagógicas nas series iniciais. O documento se organiza em 4 eixos:

 

EIXO 1 – COMPREENSÃO E EXPRESSÃO EM ARTES VISUAIS: o ensino de Artes Visuais pressupõe um trabalho cujas experiências estão relacionadas aos materiais, às técnicas e às formas visuais, de forma a possibilitar, ao aluno, transformar seu conhecimento em arte.

EIXO 2 – COMPREENSÃO E EXPRESSÃO EM DANÇA: o ensino da dança pressupõe o desenvolvimento, no aluno, da compreensão de sua capacidade de movimento. A partir do momento em que ele entende o funcionamento do seu corpo, começa a se expressar com harmonia, sensibilidade e autonomia.

EIXO 3 – COMPREENSÃO E EXPRESSÃO EM MÚSICA: o ensino da música, por exigência legal, reside na ideia de reforçar e valorizar a herança cultural, artística e estética dos alunos, além de ampliar seus olhares e escutas sensíveis e formas expressivas, por meio de experiências estéticas e poéticas, com base nas inter-realidades que eles conhecem ou possam vir a conhecer.

EIXO 4 – COMPREENSÃO E EXPRESSÃO EM TEATRO: ensinar teatro compreende considerar a experiência de vida dos alunos, que envolve suas ideias, seus conhecimentos e sentimentos, e organizá-los. Para o aluno, a experiência teatral desenvolve a imaginação, a percepção, a emoção, a intuição, a memória e o raciocínio. Tem uma função integradora e possibilita a apropriação de conhecimentos sociais e culturais de sua comunidade.

 

Artes visuais além do desenho:

 

O processo de aquisição da linguagem visual iniciasse pela experiência do ato criativo, que promove um toque diferencial no desenvolvimento do ser humano, envolvendo todas as nossas potencialidades. O jogo de criar promove a interação entre os sentidos e a mente, entre o sensível e o inteligível. A integração do cultivo da sensibilidade, da percepção, da experimentação caminha em conjunto com a aquisição de informações, articulação do pensamento e construção do conhecimento. Na escola, mas especificadamenteno espaço da sala de aula geralmente é compreendida como o lugar onde a criança vai, todos os dias, para apreender, adquirir, obter, articular e produzir informações e conhecimento. Quando a escola dispõe de um espaço e um tempo para o Ensino de Arte, sem dúvida alguma este fato já nos coloca diante de uma postura educacional totalmente diferente da de uma escola que não comporta o Ensino de Arte.

Segundo Heloisa Ferraz:

 

Vivemos em um mundo de múltiplas visualidades e informações, com as quais os alunos também convivem e podem aprender a lidar com elas, expressando-se e comunicando-se. O desenho, a pintura a escultura, a gravura, a arquitetura, o design a fotografia, as artes gráficas, o cinema, a televisão, o vídeo, as artes tecnológicas, são possibilidades de linguagem visual que podem ser estudadas na escola, abrangendo aspectos do fazer e do apreciar as formas visuais, com infinitas maneiras. (FERRAZ,2009pág.178).

 

Introduzir nessas aulas metodologias diferenciadas, criativas, não demanda de grandes recursos. Os professores devem obter uma postura de se utilizar dos recursos nos quais a escola disponibiliza, e espaço de integrações disponíveis na própria comunidade.

 

A dança na sala de aula:

 

     A dança como processo educacional, não se resume simplesmente em aquisição de habilidades, mas poderá também contribuir para um desenvolvimento integral da criança. Para iniciar o trabalho com a dança é preciso levantar conceitos primeiramente sobre o corpo, a criança precisa entender que a dança é uma manifestação artística feita pelo seu próprio corpo, entender o espaço que seu corpo ocupa no meio e os movimentos realizados através da dança. Um dos primeiros artistas que se preocupou com a importância da dança na educação foi Rudolf Laban. Seus estudos se fundamentaram na possibilidade de se expressar através da dança. Segundo Laban os movimentos da dança influenciam na atitude interna e externa do homem diante da vida, como uma forma de manifestação de emoções e sentimentos.

Levando em consideração a abordagem triangular no ensino da dança, o professor deve contextualizar os tipos de danças, fazendo com que os alunos compreendam em quais locais se manifestam cada tipo de dança e como são os movimentos feitos, levar os alunos a apreciar a dança, através de vídeos ou apresentações dentro ou fora da escola e ensinar a criança a dançar e a se expressar através dos movimentos.

 

É preciso compreender que o ensino de uma dança tradicional não está necessariamente atrelado a uma abordagem pedagógica tradicional. O ensino da dança deve passar pela conceituação das diferentes tipos e manifestações, além de eles poderem conhecer diversas culturas e seus tipos de danças, esse trabalho deve ser realizado através de pesquisas realizadas em sala de aula.

 

[...] conhecimentos, valores e artefatos presentes na vida em sociedade são incorporados por professores e transmitidos ou apresentados como recursos didáticos, conhecimentos, valores e hábitos a serem aprendidos por alunos, nem sempre de forma consciente [...] relevante conhecer que aspecto ou parte das diferentes culturas coexistentes em dado contexto sociocultural contribuem para a formação de professores, bem como investigar se e como ocorre uma interação entre as diferentes experiências socioculturais [...] (ALMEIDA, 2007, p.149).

 

Através do trabalho com a dança é possível interligar as aprendizagens sobre a geometria, comunicação oral, expressão corporal, conhecimento a cerca de culturas e tipos de danças, coordenação motora e desenvolvimento físico. Os alunos devem realizar as aulas se movimentando através dos ritmos propostos, para que eles possam identificar os ritmos e diferentes tipos de dança, presente nas diversas culturas.

 

Música e o fazer musical:

 

Já é tempo de pensar e repensar nossas práticas pedagógicas, do trabalho com a música na escola, que deve ser de forma criativa, simples e alegre. Contudo, devemos nos atentar ao enfoque do aspecto metodológico do ensino de música, abordando três aspectos de como trabalhar música: o jogo, visto como ação para fazer música e como meio de expressão; o desenvolvimento do hábito de exploração do som para o enriquecimento das práticas; o uso do gesto como elemento integrante do movimento sonoro e musical.

O trabalho no processo de aprendizagem da música, deve despertar através de atividades práticas o sentimento do escritor Rubem Alves a cerca da beleza da música:

  Se fosse ensinar uma criança à beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, elas mesmo me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas. São apenas ferramentas para produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.

 

Bernadete Zagonel (2012) propõe uma mudança de postura ante o ensino de música, no qual algumas atitudes são enfatizadas e priorizadas em relação a outras. A autora define termos do vocabulário musical e suas práticas. Para ela, despertar no indivíduo habilidades e o gosto pela música é mais importante do que ensinar uma técnica.Sensibilizaro aluno para a música precede o ensino de conceitos, que a pesquisa e a descoberta de materiais sonoros são uma maneira mais rica de se entrar na música, do que o trabalho somente com as notas e instrumentos. Zagonel defende o fazer musical, este traz melhores resultados que o conhecimento teórico de conceitos. Mas o que é o fazer musical?

O fazer musical é o contanto entre a realização acústica de um enunciado musical e seu receptor, seja este alguém que cante, componha, dance ou simplesmente ouça. A produção musical ocorre à criação e a reprodução que geram três possibilidades de ação: interpretar, improvisar e compor. Somos intérpretes, quando cantamos ou tocamos uma música. Improvisamos quando espontaneamente cantamos sem saber a letra. Ao compor criamos canções que transmitem sentidos e sentimentos.

O fazer musical é uma prática milenar de diferentes povos e culturas. Através do contato com os sons da natureza e do manuseio de materiais naturais surgiram às primeiras flautas de bambu, os primeiros tambores (feitos de troncos de árvores e peles de animais). Segundo Teca Alencar de Brito:

[...] todo e qualquer material produtor ou propagador de sons: produzido pelo corpo humano, pela voz, por objetos do cotidiano, por instrumentos musicais acústicos, elétricos etc., e conforme já apontamos, pode se fazer música com todo e qualquer material sonoro. (Brito, 2003 pag. 59).

 

Assim pela constatação de Teca, o aluno pode se utilizar de qualquer material sonoro para fazer música. No dia a dia das salas de aula, a linguagem musical deve contemplar atividade como:

  • Interpretação e criação;
  • Jogos que reúnem som, movimento e dança;
  • Jogos de improvisação;
  • Construção de instrumentos sonoros e objetos sonoros;
  • Escuta sonora e musical: escuta atenta, apreciação musical;
  • Reflexões sobre a produção e a escuta.

 

Infelizmente ao decorrer da transição dos alunos nas classes escolares as práticas musicais, são deixadas e diminuídas, algo essencialmente presente na educação infantil, não continua inserida nas praticas pedagógicas.A escritora Tereza Mateiro Beatriz Ilari que estuda pedagogias em Educação Musical cita a pedagogia de ZontánKodály, no qual ela explica sendo:

Para Kodály, as aulas de música devem ser regulamente oferecidas nas escolas, de modo a propiciar o apreciar e o pensar musical, tornando a alfabetização e as habilidades musicais parte da vida do cidadão. Em sua concepção, ser musicalmente alfabetizado inclui o apropriar-se da música com a capacidade de pensar, ouvir, expressar, ler e escrever utilizando a linguagem musical tradicional. (Ilari, 2011 pág. 57).

 

A música colabora na formação total do ser humano, tornando-se parte de seu dia a dia na convivência escolar social (ou profissional) daqueles que dela participam. Nesse sentido, o uso da voz como fazer musical como iniciação para a musicalização permite que o ensino aconteça em grupo e possibilita a inclusão de participantes, independentemente de seu poder aquisitivo, pois não há necessidade de adquirir um instrumento.

 

O teatro como prática:

 

Podemos definir como teatro todo aquele acontecimento que envolve, como mínimo para sua existência, um ator, um espectador e uma intenção estética, ou seja, aquele que age (o ator), por meio de sua presença, de suas ações e com signos (verbais, sonoros, visuais, cenestésicos) que veicula , deve ter a intenção de atingir de modo sensível, sensorial e cognitivo, aquele que o assiste, o espectador. É importante o trabalho com o teatro nos anos iniciais do ensino fundamental, pois com esse trabalho é possível que o aluno conheça mais sobre as expressões artísticas, além de envolver os alunos ajuda também no desenvolvimento físico, social e cognitivo. 

O trabalho com o teatro em sala de aula deve acontecer por etapas, onde o professor deve introduzir aos alunos o que é o teatro e depois trabalhar como se monta uma peça, o papel do ator, diretor, do cenário e do figurino, e como funciona uma apresentação teatral. É preciso que o professor faça uma abordagem triangular sobre o teatro, ensinando a contextualizar, apreciar e fazer, dessa forma o aluno vai compreender o teatro em todos os seus aspectos contemplando essa expressão artística como um todo.  Com o trabalho do teatro é possível desenvolver a criatividade, linguagem oral, expressão corporal e a integração entre a classe. O teatro envolve também as emoções, que devem ser trabalhadas com as crianças.

O professor deve propiciar momentos em que os alunos criem formas de expressões em uma manifestação teatral, ensinando a dramatizar e a se transformar em um personagem, a criança pode ser quem ela quiser, e isso a encanta e a faz acreditar em si mesma, além de desenvolver sua autonomia. É preciso levar em consideração os conceitos prévios das crianças e a cultura em que elas estão inseridas, além de não unificar um ‘modelo’ de teatro mais ensinar as crianças, as diversas formas de compreender e se expressar artisticamente através do teatro. O papel da escola no ensino do teatro é fundamental nessa primeira fase da vida, por isso acredita que só a instituição escolar.

 

 [...] pode desenvolver um trabalho de alfabetização artística e oferecer a oportunidade de uma aproximação com a experiência teatral a todas as crianças, independente de suas diferenças socioculturais e econômicas – diferenças que, como se sabe, têm uma forte influência no espectador adulto nas salas de teatro (GAGLIARDI,1998, p. 68).

 

 Para organizar atividades relacionadas ao teatro, seguindo a abordagem triangular proposta por Ana Mae Barbosa, o professor deve trabalhar com o aluno sobre a contextualização do teatro, o papel dos personagens, o contexto em que se passa a história apresentada, analisando de maneira reflexiva a apresentação teatral.

Ele deve possibilitar aos alunos assistirem apresentações teatrais dentro ou fora da escola, para aprenderem a apreciar/observar essa manifestação artística. Para consolidar as aprendizagens dos alunos, o professor deve propiciar a criação de suas próprias apresentações teatrais, e assim consolidar todas as aprendizagens a cerca dessa arte que foram adquiridas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

 

BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação: leitura no subsolo, São Paulo: Editora Cortez, 1997.

Ferraz, Maria Heloísa Corrêa de Toledo. Metodologia do ensino de arte. 2. Ed. São Paulo : Cortez, 1999.135 p

MATEIRO, T.; ILARI, B. (Org.). Pedagogias em educação musical. Curitiba: Ibpex, 2011. 352p.

MORANDI, C. A Dança e a Educação do cidadão sensível. In: STRAZZACAPPA, M. Entre a arte e a docência: A formação do artista da dança. Campinas: Papirus, 2006. (Coleção Ágere)

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC?SEF, 2001.

Pillar, Analice Dutra (org.). A educação do olhar no ensino de artes.Porto Alegre : Mediação, 2003.

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS. Conteúdo Básico Comum – Artes (2005). Educação Básica - Ensino Fundamental (1a a 5a séries).