LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE


Sempre houve, por parte das castas privilegiadas, civis ou religiosas, o monopólio do poder, dos bens, das riquezas e, inclusive, do saber.
No Egito, para terem acesso ao conhecimento, os neófitos eram obrigados a limpar o templo e lavar o piso. E o que recebiam dos sacerdotes em pagamento eram apenas migalhas de instrução, pois lhes restringiam o acesso aos papiros e ensinamentos.
Da mesma forma, durante a Idade Média, os nobres exploravam seus vassalos, retribuindo-lhes uma ínfima parte do que produziam em seus feudos.
As terras eram doadas pelos reis ou suseranos aos nobres e senhores de castelos. Porém muitos destes se recusavam a pagar ao rei ou suserano o imposto e os favores que lhes exigia em troca de suas marcas, baronatos, ducados e condados, enquanto por outro lado estes se armavam e exploravam os seus vassalos e empregados.
Enquanto os senhores dos castelos armavam pequenos exércitos e faziam frente às exigências do rei, os vassalos não tinham quem os defendesse contra a exploração dos senhores feudais que, por sua vez, lhes prometiam comida e proteção em troca de sua produção agrícola e de sua irrestrita obediência.
Foram praticamente mil anos de domínio e exploração.
Mas as coisas começaram a mudar a partir do momento em que se iniciaram revoltas no seio das classes oprimidas, exigindo um pagamento digno, que nada mais era do que uma justa contrapartida pelos bens, produtos e serviços que produziam quase de graça para os seus senhores.
Foi mais ou menos nesse tempo, porém em séculos diferentes, que surgiram as figuras exponenciais de São Francisco de Assis e Don Rodrigo de Bivar.
Ambos, a seu modo, em seu devido tempo e lugar, renunciaram à condição de fortuna e prestígio e passaram a lutar pela causa dos injustiçados, pobres e oprimidos. Francisco era filho de um comerciante italiano de tecidos e Rodrigo, de um nobre cavaleiro da corte do rei espanhol.
Francisco, depois de ter se armado cavaleiro e participado de algumas incursões militares, tomou conhecimento de que o patrimônio de sua família era formado de saques e despojos das cidades a que os mercenários tomavam de assalto; e então renunciou à fortuna do pai, devolvendo-lhe até as roupas que vestia, e assim, cobrindo-se de andrajos, saiu de casa, vindo a fundar, com seus seguidores, a ordem dos franciscanos, em favor dos pobres, dos doentes e desvalidos, da natureza e dos animais.
Rodrigo, depois de vingar seu pai num combate com o alferes do rei e mais tarde incompatibilizar-se com herdeiros de Fernando I, abandonou o castelo destes, onde vivia como um príncipe, e saiu a peregrinar, transformando-se na lendária figura de El Cid o Campeador, que deu de beber do seu próprio cantil a um leproso e foi capaz de tratar num mesmo nível de igualdade a um mendigo e um rei.
Passados mil anos ainda não aprendemos, de El Cid e São Francisco, essas verdadeiras lições de liberdade, igualdade e fraternidade, palavras que viriam a ser reunidas por Jean Jacques Rousseau e utilizadas como legenda pela Revolução Francesa, ao extinguir o feudalismo e os privilégios da nobreza, e que ainda hoje são adotadas como divisa, em seu estandarte, pela Franco Maçonaria.

(Luciano Machado)