Quando saímos para um acampamento, levando uma mochila e uma barraca nas costas, vamos para uma aventura, em que só lá, no meio da mata, ou qualquer lugar isolado que tenhamos escolhido, descobriremos se o que levamos em nossas costas foi realmente útil e o que, de nada serviu, a não ser como um peso a mais.
Um canivete, um fio de náilon, um isqueiro, podem ser instrumentos decisivos para uma melhor estadia no meio da mata, longe de recursos.
A experiência conta muito, no quesito "fazer as mochilas", pois quem já se aventurou mais vezes, geralmente, aprendeu o que é inútil e o que é imprescindível de se levar em uma jornada como essa.
As nossas escolhas naquele único momento de decidir o que vai e o que fica, para dentro da mochila, vão refletir quando estivermos lá, e corremos o risco de passar uma longa jornada, carregando o peso de um urso de pelúcia, um tanto inconveniente, quando precisarmos atravessar um rio com forte correnteza. Pode-se ter, também, a chance de, ao voltar, escrever uma tese sobre a dificuldade de se escalar um morro com sapatos de salto alto.
Essas aventuras podem ser comparadas com o que fazemos de nossas próprias vidas.
A mochila seria a nossa "bagagem de vida", que carrega o que somos, o que queremos ser e a forma como nos preparamos para enfrentar as dificuldades que virão. Ela pode ser modificada a cada aventura, nos adaptando e mudando as prioridades dos aparatos que achávamos que eram fundamentais para a nossa sobrevivência.
Tem pessoas que, mesmo tendo acampado, dezenas de vezes, sempre esquece de um item que as deixa vulnerável no acampamento, tem outros que não se preocupam em levar coisas que os ajude a sobreviver, e acabam prejudicando os demais, pois divide sua bagagem inútil com os companheiros, pesando a jornada dos outros com seus problemas.
De qualquer forma, comparando a vida com um acampamento, e nossas experiências com as mochilas e o que levamos com ela, e, quando não conseguirmos fazer uma fogueira, pois não aprendemos, nem levamos fósforos ou isqueiros; quando passarmos frio, durante a noite, por termos levado menos agasalho; quando tivermos que rasgar a comida por não termos levado uma faca; só mesmo acampando (ou vivendo), podemos concluir que temos que preparar melhor nossa bagagem.
Enquanto não aprendermos isso, o nosso único consolo será passar o resto do acampamento de nossas vidas, abraçados ao ursinho de pelúcia da imaturidade emocional ou na escuridão da falta de uma lanterna espiritual.
Sérgio Lisboa.