O FRIGORÍFICO OURO! 

Professor Me. Ciro José Toaldo

Escrever a respeito do que se tem na memória não é fácil, mas, por meio dela existe a possibilidade para se inspirar e rememorar belas experiências proporcionadas pela vida. Neste breve artigo de opinião, cito as lembranças que trago a respeito do ‘Frigorifico Ouro’ que se encontra em ruínas, na Rua Ernesto Hachmann, no município de Capinzal, no Estado de Santa Catarina. Na atualidade este imóvel pertence à família Farina, que é oriunda do ex-prefeito, daquela cidade, chamado: Celso Farina (in memoriam).

Essas lembranças são ligadas com meu pai, Brenno José Toaldo (in memoriam) que sempre trabalhou neste estabelecimento. Até o início de 1980, era conhecido como Frigorifico Ouro, de propriedade de uma sociedade de nome ‘Indústria Reunidas Ouro’ que acabou sendo comprado pela Perdigão.

Em meus sonhos tenho divagado com lembranças positivas, como dos apitos deste Frigorifico e da Madeireira Hachmann, que ficava muito próximo de nossa casa; estes avisos sonoros tinham a finalidade de chamar os operários ao trabalho ainda pela madrugada.

Contudo, também tenho as lembranças negativas, pois como neste local se formou uma ‘vila de operários’ que acabava fugindo dos padrões oficiais para a época, pois como não fazia parte do centro da cidade, essas características, aliadas com outras, fazia com que essa região fosse ‘marginalizada’ por estar fora dos padrões sociais da época. Escrevo com tristeza a respeito deste estigma que acabei sentindo na própria pele, tanto no Colégio Mater Dolorum, onde estudava, bem como em outros locais da cidade, onde era visível a de como éramos tratados por residirmos na região daquele frigorífico. Com o passar do tempo e nas várias experiências, a própria existência demonstra que este lugar era privilegiado e, portanto, os preconceitos, deveriam ser esquecidos. Atualmente, com orgulho e muita nostalgia guardo o saudosismo dos belos momentos positivos vivenciados nesta região onde nasci!

A situação atual do prédio deste frigorífico que se encontra em ruínas, levou-me a escrever este artigo, imaginando que outras criaturas poderão também ajudar para que essa relíquia histórica seja preservada, pois ela faz parte do acervo da História de Capinzal e seria uma perda irreparável deixar esse patrimônio desaparecer. Sinto o coração apertar e profunda tristeza, em cada visita na casa de minha mãe Romilda, que mora quase ao lado deste imóvel, ao ver tamanha situação de abandono.

Este empreendimento histórico leva-me a as mais variadas lembranças: meu pai era um humilde pesador de porcos; meu avô materno, do qual herdei meu nome, era um exímio saboeiro; a maior parte de nossa vizinhança trabalhava neste frigorífico. Com ajuda de Luiz Carlos Borin, tentaremos lembrar alguns nomes de operários, diretores e cargos diversos ligados com essa empresa, sem a preocupação de nominar vivos e falecidos: Paulino Dambrós, José e João Prando, Avelino Carletto, João Batista Furtado, João Orando, Augusto Hoth, Francisco Levandoski, Stefano e Olivaldo Helt, Horácio Azevedo, Aleixo Susin, José Souza, Pedro Borin, Fracasso, Cantelli, Santo Golin, Catalã, João Zanella, Iracema Vieiro Correa, Vilmo Moron, Selma Furtado, Luiz Valdir Gomes, Basílio, Hermes e Danilo Scarton, Tito Carelli, Gomercindo Proner, Zulmiro Pizoni, Tio Rogério, Alziro D’agostini, Luiz e Ênio Bonissoni, Dileto Bertaiolli e outros tantos que também fizeram parte desta dessa empresa que não conseguimos lembrar.

  Aliás, era um local de muita movimentação, pois gradativamente foi abatendo porcos, bois e até aves, tendo a fabricação de banha, salame, copa e outros derivados da carne suína. Lembro-me de grandes carregamentos de vagões e caminhões com os produtos levados para os grandes centros do Brasil.

Ainda a respeito da vila operária, como na empresa, ela era movimentadíssima, havia cinco ou seis ruas, onde se encontravam as casas de madeira feitas para os trabalhadores, com uma incrível presença de pessoas, crianças, jovens e idosos que conviviam de uma maneira harmônica que é difícil compreensão para a atualidade. Outro aspecto que devo ressaltar, diz respeito a uma rua que não ficava naquela vila operária descrita anteriormente; conhecia como ‘Rua do Meio’, atualmente é designado de Rua Alexandre Thomazoni, onde também havia casas, onde residiam os meu tio Dileto e Zulmira Novello, além dos outros operários do frigorífico, como Alcir Silva, Mauro Pique, Adalberto e Itelvino Golin, Gildo Grotto, João Dalmolin, Schwingel, Kloss e Szemansqui. Agradeço ao Bonifácio Szemansqui por ajudar a lembrar destes nomes. Muito próximo do frigorífico ficava o memorável Bar do Seu Arlindo e Dona Amante Bertola que não posso deixar de registar!

Tantos nomes, colegas, amigos e belas histórias que se perpetuam na memória, entretanto, na penúltima edição do Jornal A Semana o registro foi feito para que na posteridade não ocorra o esquecimento e seja valorizada essa brilhante História de criaturas, não importa a sua atribuição, estes heroicos trabalhadores deixaram suas marcas e contribuíram para a prosperidade deste querido, amado e abençoado Capinzal.

Ainda não chegamos ao fim! Até o próximo.