Leitura: História e Prática

Por Carolina Pessoa Varanda Leite | 23/09/2024 | Educação

          Quando falamos em práticas de leitura, é necessário contar uma breve história sobre a leitura, fazer um relato sobre as mudanças ocorridas ao longo do tempo, lembrando que a sociedade europeia colaborou e muito para essas transformações.

          Começamos por alguns aspectos da história da escrita, pois leitura e escrita são atividades que caminham juntas, não sendo possível separar uma da outra.

Petrucci (1999) diz que enquanto houver qualquer forma de produção de textos escritos, não poderá faltar a atividade de se fazer a leitura dos memos. A escrita surge com a principal função de comunicar; porém, em virtude das muitas transformações ao longo da história da humanidade, ela se revela também como fator fundamental para o desenvolvimento da civilização. Era impossível, com tantas mudanças que ocorriam nas artes, no comércio, nos transportes, na agricultura, no governo e nos meios de produção, o desenvolvimento de um povo sem um sistema de escrita.

          A escrita teve como passo fundamental para seu desenvolvimento por volta de 4000 a. C., quando a escrita passa a ser fonética. No início, esse povo tinha sua escrita baseada em símbolos, em milhares de pictogramas, sendo a língua escrita separada da língua oral. O princípio da economia foi fundamental para essa mudança ao passo que reduziu o número de símbolos e passou-se a utilizar sons. Sendo assim, a língua escrita estava passou a estar vinculada  à  língua  oral. Com a introdução do sistema fonético, o uso dos sons, possibilitou-se a expressão de diversas formas linguísticas. Os símbolos foram normatizados, para que pudessem ser desenhados da mesma forma por todos.

          Para chegar finalmente a utilização do alfabeto, do jeito que conhecemos, destacamos duas invenções:

  • Primeiro com os fenícios, que passaram a transcrever fonemas e não sílabas;
  • Segunda com os gregos, que passaram a utilizar as vogais;

A partir daí então, nasce a escrita alfabética em que a escrita passa a imitir a fala, ou seja, a língua oral. Assim, formalizou-se a escrita que exigia o estabelecimento de regras e a aprendizagem de normas e princípios para que ela pudesse ser dominada.

          Quando pesquisamos sobre a leitura dos primórdios das civilizações até a idade média, ela surge quando os sinais passaram a ser interpretados pelo seu som, dentro de um sistema padronizado e com seus sinais em quantidade limitada. Devemos ressaltar que desde o surgimento do alfabeto, a prática da leitura está fortemente associada à emissão sonora do texto.

A atividade de leitura, com os sumérios,  estava basicamente voltada para o trabalho e centrava-se na execução de tarefas envolvendo um reconhecimento de códigos simples. Nessa época, ler tinha o mesmo significado de contar, calcular, ponderar, memorizar, declamar, ler em voz alta. Poucas pessoas dominavam a leitura e normalmente essa atividade estava a cargo dos escribas, que escreviam e liam os textos escritos em tabuletas de argila.

Os egípcios também viam a leitura também com o sentido de declamar; aqui os escribas também liam as tabuletas em público e em voz alta. A utilização do papiro, foi óitma pois deixou mais leve e flexível do que as tabuletas de argila, tornando a leitura uma atividade mais ágil, mas ainda assim a leitura continuava a ser uma atividade direcionada para o trabalho.  Os textos não fugiam dos aspectos técnicos como contratos, decretos e procedimentos jurídicos. Outros tipos também como os textos religiosos e de magia, além das inscrições biográficas.

          O primeiro sistema de escrita foi criado na Mesopotâmia e começaram a se expandir para o oriente. Porém, a falta de material escrito sugere a pouca e primitiva atividade de leitura. AO que tudo indica, na Europa, os primeiros leitores foram os gregos. Existia um pequeno número de pessoas que faziam a a leitura e essa tinha um tipo oral. Quando a escrita alfabética estava plenamente desenvolvida, havia ainda poucas pessoas que liam. Os anos se passaram e a escrita aramaica passou a substituir a cuneiforme. Nesse momento a utilização da argila finda-se, dando lugar definitivamente ao papiro.

          Percebemos que ao contar a história da leitura, junto vem a história da escrita. Da mesma forma, também não é possível falar de leitura sem falar de religião. Assim, a religião teve papel fundamental quando ocorreu a transição da tradição do oral da leitura para a leitura silenciosa.

No contexto histórico, a religião foi responsável pela alfabetização de muitas pessoas. As religiões observaram na escrita uma excelente maneira de apreender, preservar e propagar os ensinamentos sagrados.  Assim, leitura e escrita ganhas forçam nas sociedades, com a literatura religiosa dominando, destacando-se a leitura em voz alta.  Por volta de 1000 a.C. os padres-escribas liam as tradições orais em voz alta e eram capazes de influenciar, controlar e dirigir a sociedade, pois, correspondiam a uma elite. Foi nesse período que a frase “assim estava escrito” adquiriu um caráter divino, que ainda persiste até os dias atuais (FISCHER, 2006).

          A tradição de leitura oral, enfraqueceu quando o acesso ao ler e escrever ficou mais amplo. A medida que a escrita alfabética foi se espalhando, a aprendizagem da leitura se tornou mais rápida e mais acessível, assim qualquer pessoa poderia aprender a ler depois de alguns meses de ensinamentos. Ainda assim, o número de livros manuscritos colaborava para uma leitura lenta. Nessa época, os livros reuniam, principalmente, textos sagrados e a leitura tinha um caráter religioso, onde sua prática supunha a necessidade de oralizar para compreender. Os textos deveriam ser memorizados e vocalizados, depois de retomados várias vezes, para que pudessem ser entendidos. O importante era armazenar o texto na memória.

Durante toda a Idade Média, a maioria da população não sabia ler e escrever. Os hábitos de leitura e escrita eram privilégios de uma pequena parcela da população, que normalmente era composta por integrantes da igreja e comerciantes. As primeiras escolas medievais começavam a surgir, instalavam e eram regidas pelas igrejas e mosteiros. Somente a partir do século XII, houve uma conscientização sobre educação, pois a formação se fazia importante no comércio, que utilizava a escrita.

Para ensinar leitura, nesse período, os mestres recorriam a métodos das escolas romanas, que era: das sílabas para as palavras, das palavras para as frases.  Os textos utilizados como materiais didáticos eram pouco variados, normalmente eram textos clássicos ou trechos bíblicos, em que os alunos decoravam, recitavam ou cantavam e às vezes utilizavam-se da escrita para melhorarem a memorização.

          Com a invenção da impressa, a leitura a partir da idade moderna passou por diversas transformações. A grande novidade para a formação leitora, foi a substituição da leitura em voz alta pela leitura silenciosa. Essa novidade, trouxe uma transformação que mudou o rumo da história da leitura, Johannes Gutenberg inventou uma prensa gráfica.

Embora já existissem na China e no Japão formas de impressão de textos, foi o nascimento da imprensa no século XVI que favoreceu mudanças significativas, à medida que ampliou a quantidade de livros, tornando-os mais populares e, consequentemente, colaborando para o aumento do número  de leitores. A chegada da imprensa, favoreceu a multiplicação do livro numa sociedade basicamente analfabeta, em que o essencial das relações era oral. Havia a predominância de discursos, sermões ou diálogos mais do que textos escritos, tratando-se de exposições em voz alta. O fato pode ser explicado, pois, numa sociedade em que a maioria é analfabeta, os textos precisavam ser compreendidos e a forma mais adequada era o meio da palavra oral.    

A forma de como fazer a leitura, do oral para a silenciosa não aconteceu de rapidamente. A forma oral ainda demorou muito tempo, principalmente na através da leitura pública. Os livros que eram impressos no século XVI deveriam se adequar a uma forma de leitura específica. Ainda assim, alguns textos podiam ser lidos de forma silenciosa, onde o contato se travava na intimidade do texto com o leitor e outros textos eram exclusivos para serem lidos em voz alta. Gilmont (1999) explica que do século XVI ao século XVIII, o número de leitores aumentou, por conta do progresso da escolarização nas cidades e no  campo. Além disso, as reformas religiosas e a disseminação da Bíblia também colaboraram para o aumento de leitores. Com esse aumento do número de leitores, o comércio de livros começou a crescer. Entre os séculos XVII e XIX, os romances foram os escritos mais espalhados, estando presente em praticamente todas as partes da sociedade. Uma forma de edição mais simples permitiu que a circulação dos romances se tornasse mais ampla e além de alimentar o comércio dos vendedores ambulantes, mas também:

 “põe ao alcance de todos, até os menos afortunados, um repertório de textos suscetível de múltiplos usos, próprio para acompanhar o trabalho ou a festa, para ensinar a ler ou para passar o tempo” (CHARTIER, 1999, p. 121).

Com o aumento do número de leitores e os gêneros, a partir do século  XVIII, ocorre a revolução da leitura, denominação que ocorre o que Wittmann (1999) colocou. Nesse século, as transformações políticas, econômicas e sociais foram decisivas para a mudança no comportamento do leitor europeu. Então, a leitura adquiriu caráter libertador, podendo crescer os horizontes  moral  e espiritual, além de ser capaz de transformar o leitor em membro útil da sociedade.

 Ao longo do século XVIII, a leitura passa a ter uma nova dimensão, que se ganha em virtude de dois fatores:

  • Primeiro por conta dos questionamentos quanto ao monopólio das informações e interpretação das autoridades religiosas e estatais feitos pela burguesia. Essa nova classe encontrou na palavra impressa a possibilidade de propagação de suas ideias, assim o livro e a leitura ganharam novo valor na consciência pública.
  • Segundo, pelo movimento iluminista, que inaugura uma nova ordem de pensamento a partir de seus ideais de igualdade, ideias que tinham como palavras-chaves razão, humanidade, tolerância e virtude.

Em séculos anteriores, o livro que era tido como fator indispensável de disciplina social, a serviço das autoridades religiosas, com a transformação geral da mentalidade no século XVIII passou, também, a ser fonte de prazer. Mas, essa transformação não se deu de forma rápida.

Wittmann (1999) explica que ao longo dos anos, observou -se formas diferentes de relação com os livros, sendo possível definir três formas de leitura:  a leitura “selvagem”, a leitura erudita e a leitura útil.

Podemos definir como leitura “selvagem” a forma de ler das camadas mais populares, da população do campo. É aquela forma de leitura praticada ingenuamente, com pouca reflexão, feita na maioria das vezes em voz alta. Já a leitura  erudita era a forma de  ler feita pelas elites intelectuais. Por sua vez, à leitura útil, era a forma de ler que os iluministas defendiam, pelas ideias e porque fazia referência a uma leitura que promovia uma moral útil à sociedade. O modelo de leitura da doutrina iluminista, foi se modificando, se modernizou e passando de autoritário e acadêmico para modos individuais e emocionais de ler. Foi então, que uma nova transformação inaugurou um novo aspecto da leitura,  a leitura “sentimental”. Esse tipo de leitura, como o próprio nome já diz, se referia a situação no campo da paixão individual, que levou a uma forma de relação ainda não vista entre leitor e autor.

Chega-se então no ponto, em que se pode afirmar que a leitura passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, tornando-se uma atividade prazerosa praticada por um público diversificado. Mas para prática, era necessário silêncio, pois passou a ter como característica principal a recepção, para que todas as emoções  fossem  interiorizadas. E a leitura, então, passa a ser feita por prazer, principalmente a dos textos literários.

Na Europa, no século XIX, grande parte da população já estava alfabetizada e a diferença entre homens e mulheres alfabetizadas era mínima. Por sua vez, a leitura do público feminino era os romances que continuavam a se multiplicar e ganhar prestígio.

Com a propagação da educação primária e a diminuição da carga horária, o número de leitores continuava a crescer, o que permitiu mais tempo para a leitura.  O crescimento da educação primária favoreceu o crescimento do número de crianças leitoras. Porém, a realidade das escolas europeias era de infra- estrutura básicas, eram mal iluminadas, pouco arejadas, algumas eram úmidas, além de faltar pessoas qualificadas para o trabalho docente.

          Um outro agravante, era a ausência das crianças às aulas, que durante a lavoura deixavam de frequentar a escola. O aprendizado da leitura revelava-se como algo que exigia muito esforço ou sacrifício e sua principal característica era a memorização. Nas aulas de leitura o foca era a insistência na memorização mecânica de alguns textos, poucos, os mesmos que os inspetores, mais tarde, usariam para avaliar a capacidade de leitura das crianças. Ter o hábito da leitura então, exigia paciência e repetição sem fim de textos e exercícios.

Bajard (1994), explica que o método de leitura era baseado nos abecedários e consistia em passar do escrito para o oral e vice-versa, com ajuda de um quadro de correspondência entre as letras e sons. É o que denominamos como decifrar, que é transformar cada elemento da escrita em elemento do oral, da  esquerda  para  a direita e na ordem. Para ler bem era necessário decifrar bem. Desta forma, não há distinção entre a decifração e a leitura em voz alta; antecedendo a compreensão, ela permite o surgimento do sentido. Essa comunicação oral do texto pressupõe a compreensão do mesmo, onde só se lê bem aquilo que se entendeu bem.

Em 1882, é proposto que pequenos textos sejam utilizados em escolas primárias, para a leitura em voz alta. Na França, em 1923, a leitura em voz alta passa a se tornar leitura expressiva. São fixadas então, etapas de aprendizagem da leitura que passam a vigorar durante décadas, até os anos 70, com os seguintes mecanismos: a decifração, que consiste em transformar signos escritos em sons; a leitura corrente, representada pela emissão sonora que, ao se acelerar, dá sentido ao longo das inúmeras retomadas; e, por fim, a leitura expressiva, expressa  pela  maneira de articular, que demonstra  ideia do texto pressupondo a compreensão.

A Prática da leitura em voz alta ainda durou muito tempo, mas uma sequencias de mudanças durante os anos, colaborou para que transformações no comportamento leitor e enfraquecendo a leitura em voz alta como o principal percursor dessa prática.

Foi a partir de 1938, quando a França passou a introduzir a leitura silenciosa nos anos finais de estudos, que se passou a ter duas modalidades de leitura: ler em voz alta e ler silenciosamente. Portanto, se iniciam os muitos debates em que se distinguiam diferentes pontos de vista para a posição da leitura silenciosa. Para algumas pessoas, quem fazia a leitura silenciosa induzia que tinha o domínio total do ato de ler,  devendo, pois, ser acrescentada às três etapas da aprendizagem de leitura, ficando assim: decifração, leitura corrente, leitura expressiva e  leitura  silenciosa.  Para outros, ela deveria acontecer antes da leitura em voz alta, pois através dela se processaria o sentido. Mediante tantos questionamentos, a leitura silenciosa foi ganhando espaço no campo pedagógico e passa a reivindicar ser a única forma de leitura uma vez que permitia o verdadeiro sentido do texto. A partir da consideração de que era necessário entender para transmitir e não mais emitir som para entender, a leitura silenciosa substitui a leitura em voz alta, passando a se tornar primordial até os  dias atuais.

 Nos dias atuais a leitura é uma das atividade mais importante para o desenvolvimento de  atividades burocráticas, informativas e produtivas. Observa-se também que tem aumentado no mundo todo o número de leitores, além da diversidade de livros que chegam a ser comercializados. A principal característica do leitor atual é ler mensagens em movimento, e a leitura em silêncio é executada amplamente.

Petrucci (1999), afirma que:

 “que o público leitor passou a ter uma nova prática de leitura em meio às transformações tecnológicas. Assim, destaca-se a leitura virtual proporcionada pelo computador que tem um suporte de texto consideravelmente importante hoje em dia.”

          Até agora fizemos um linha histórica sobre a evolução da leitura na Europa, agora vamos ver como foi seu destaque aqui no Brasil, já que sua trajetória foi diferente.

A imprensa começou a ter destaque muito tarde, já que até o ano de 1808 praticamente não se falava dela. Somente após a chegada da família real é que o país passou a ter o conhecimento da tipografia. A primeira forma de impressão que se tem conhecimento é a Imprensa Régia que censurava determinadas publicações, pois estava sob monopólio do governo. Outro fato que manteve a leitura como um meio inviabilizado foi o grande númeor de analfabetos até o final do século XIX. Haviam poucas escolas no país e o acesso era mais difícil já que a maior parte da população eram negros, índios e mestiço que não tinham esse acesso. As escolas existentes eram, não tinham recursos, na sua maioria, a situação era precária em instalações físicas e faltavam professores preparados.

Por volta de 1920, com o aumento da urbanização das cidades, a escola passa a ser pressionada a se modificar para atender à demanda que a procurava. Mas, é só nos anos 30 que as mudanças significativas passam a ocorrer na educação. A criação do ministério da educação permitiu o surgimento   de novas medidas para organizar a vida escolar. Em especial, o livro didático que, buscando responder as novas questões escolares, deu um novo contorno para o ensino, sobretudo no tocante à leitura e à literatura.

O início do Movimento da Escola Nova, era baseado nos princípios liberais europeus e norte-americanos, encontra terreno fértil para suas ideias no Brasil. Esse movimento instruiu a importância de se aprender e motivou muitas reformas educacionais nos estados brasileiros, que nos anos seguintes mostrou que a sociedade passou a dar importância ao sistema educacional pensando em garantir e confirmar a organização e funcionamento desse sistema por parte do Estado.

As discussões foram intensas para definir de quais rumos a  educação  poderia  tomar para que o país conseguisse ampliar  de modo efetivo as oportunidades educacionais. Em 1961, com a instalação da Lei 4.024, que estabeleceu as  Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) a educação passa a ter um direcional.  No que se refere a educação, o Estado faz em 1966, através do Ministério da Educação (MEC), um acordo com a Agência Norte-Americana para o  Desenvolvimento Internacional (USAID) e cria a Comissão do Livro  Técnico  e  do Livro Didático (Colted), para coordenar as ações que dizem respeito à produção, edição e distribuição do livro didático. Esse acordo chega para assegurar recursos para a distribuição gratuita de livros. Ao garantir o financiamento do governo a partir de verbas públicas, o programa revestiu-se do caráter de continuidade.

Analisando os anos 60, é possível verificar  uma  melhora  no ensino nacional com o aumento da verba  destinada  à educação. Mas isso não resolve os problemas que continuavam os mesmos. A realidade gerada pela LDBEN (4.024/61) favoreceu a seletividade do sistema educacional – ao mesmo tempo em que se defende o direito e o dever da educação para todos os cidadãos, não existe escolas para todos, ou seja, nem todas as crianças chegavam à escola, uma seletividade que ocorre antes da entrada para a escolarização. 

Nos anos 70 e 80 faltavam recursos para a área da educação, os bens estavam nas mãos de poucos e isso aumentava as desigualdades sociais.  

O texto que foi elaborado para a Constituição, em 1988, faz referência à garantia de padrões de qualidade e à valorização dos profissionais da área da educação para que se tenha uma gestão democrática e um ensino público de qualidade, nela também é previsto o ensino fundamental gratuito e obrigatório, com ênfase progressiva para o ensino médio. Também, fica garantido o atendimento aos portadores de deficiência, assim como o atendimento de crianças de zero a seis anos em creches e pré-escolas; ente outros direitos relacionados a educação como: oferta de ensino regular fora da idade, programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. A lei estabelece ainda o Plano Nacional de Educação (PNE), com os objetivos de acabar com o analfabetismo; universalização do atendimento escolar; melhoria da qualidade do ensino; promoção de formação para o trabalho, humanística, científica e tecnológica do País.

Nos anos 90 surgir a necessidade de se criar uma nova lei para educação, cria-se a Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, com seus princípios e fins da educação  no Brasil, reafirma o direito à educação e o dever de educar, a organização da educação nacional em seus níveis e modalidades de ensino e a composição da educação no país. As melhorias vão acontecendo, e quanto à leitura, podemos destacar as políticas implementadas nos últimos anos pelo MEC, com destaque para políticas de ampliação na distribuição do livro didático e a política de formação de leitores.

Em nosso país, a história da leitura se confunde com a história da educação. Percebe-se que vão ocorrendo mudanças que motivam novos rumos para a educação nacional. A Constituição de 1988 e a LDBEN de 1996 vieram dar um caminho com ruma mais certo às políticas nacionais de educação. Em especial, as políticas de incentivo à leitura criadas pelo MEC inauguram uma maior preocupação com a prática de leitura nas escolas públicas.

Com as mudanças ocorridas na sociedade, com a maioria dos pais saindo para o trabalho externo, a escola passou a ocupar o papel principal na formação das crianças em especial na leitura. Quando falamos de leitura, a escola vem como ponto principal para ensinar, incentivar, criar o hábito, apesar de ter diversas dificuldades para que isso ocorra de forma efetiva. Temos vários elementos, mas citaremos três que podem auxiliar de forma direta na promoção da leitura: o livro didático, a literatura infantil e a biblioteca.

          O Brasil, quanto à prática de leitura, infelizmente, não tem uma história marcada pela tradição dos livros, como já relatamos. Os autores brasileiros criticaram muito quando a importação de livros aconteceu, pois os livros não condiziam com a realidade e não dava espaço para autores brasileiros.

A partir do final do século XIX, a literatura brasileira chega às mãos dos estudantes através das antologias e obras, fazendo-os conhecer autores românticos como: José de Alencar, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Castro Alves, além de Machado de Assis, Olavo Bilac e Euclides da Cunha, entre outros. Porém, o século XIX foi marcado por poucas escolas e nenhuma melhora  na  qualidade do livro didático. Inicia-se o século XX, com os mesmos problemas educacionais do século anterior, e o mesmo descaso com a educação. As escolas eram insuficientes, e as que existiam não tinham estrutura, e o professor era mal remunerado. Além de escolas, também faltavam bons livros escolares e os existentes mostravam má qualidade.

Muitos os problemas enfrentados pela educação nacional, como vimos e os poucos materiais existentes, e muitos apresentavam também deficiências. No início do século XX, o meio utilizado eram cartilhas, gramáticas, aritméticas definidas como “instrumentos de torturar crianças.

          Os anos foram passando foram criados diversos órgãos para legalizar o livro didático nacional, assim podendo aumentar sua produção, legislar e controlar a circulação do mesmo. Somente em 1997, a responsabilidade pela política de execução do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) é transferida para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Atualmente, segundo informação do MEC, o PNLD distribui livros didáticos de alfabetização, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia para todos os alunos de 1ª a 9ª ano do ensino fundamental das escolas públicas do país.

A utilização dos livros didáticos estabeleceu perspectivas teóricas e metodológicas mais definidas, esse parece ser o passo inicial para mudar a história da qualidade do livro didático, que durante anos foi tido como  o  responsável pela falta de sucesso da escola. O que sabemos hoje é que o livro didático se constitui como um dos principais, quiçá o único, material disponível para alunos e professores das escolas públicas. Além disso, a cada ano sua qualidade vem melhorando, por conta de um sistema avaliativo do MEC.

A literatura infantil está no dia-a-dia das crianças, seja na escola ou em casa. Na escola, as obras são utilizadas pelos professores em aulas ou fazem parte do acervo da biblioteca. Já em casa, constituem uma importante fonte de distração e prazer. As obras da literatura infantil apresentadas às crianças, podem ser utilizadas para diferentes finalidades,  podem instruir,  educar  ou divertir, ou mesmo realizar as três coisas ao mesmo tempo. Ressaltamos que as leituras realizadas para instruir e educar as crianças devem ser utilizadas na preparação de lições, porém, as que têm como objetivo a distração influenciam no desenvolvimento infantil, de forma muito saudável.

No Brasil, a nacionalização do livro para criança passa a acontecer no final do século XIX, onde teve início a publicação de livros destinados ao público infantil, com revistas em quadrinhos e de seriados, destacando a Revista Tico-Tico, pioneira da literatura infantil. Mas faz obras de Monteiro Lobato (1882-1948) que inauguraram a renovação nos livros paradidáticos. Lobato trouxe mudanças na forma de escrever, ao enfatizar os problemas do país, e também na forma de impressão, ao utilizar ilustrações nas capas dos livros e melhorando os aspectos internos, na diagramação, tipo de letra, ilustrações e qualidade do papel.

Quando Monteiro Lobato buscou conquistar o público, então o livro deixou de ser sagrado, um artigo de luxo, onde apenas uma pequena parcela poderia ter acesso. Suas obras criaram entre os livros e leitores uma nova ordem que passava pelo prazer de ler, um aspecto muito importante para a formação do leitor brasileiro. Passou então a existir uma nova forma de leitura, pois os livros raras vezes eram produzidos para um certo prazer nas escolas. Assim, a escola passa a contar com os encantos da literatura infantil e utiliza para propagar sentimentos, conceitos e atitudes que são necessários nos alunos. Por outro lado, os livros passam a ser encontrados nas escolas e vira um material obrigatório e também como complemento de atividades pedagógicas.

Para Bajard (2007):

“a literatura infantil e juvenil tem se expandido, e essa expansão se deu em virtude  de muitos  fatores. Inicialmente  motivada pela tomada  de consciência, a partir da segunda metade do século  XX,  acerca  das especificidades do universo infantil, principalmente devido às novas concepções da psicanálise, em que a criança passou a ser vista como ser complexo, motivando muitos autores a escreverem obras voltadas para esse público.”

Um fator que favoreceu a expansão das obras de literatura infantil e juvenil foram as mudanças ocorridas no mundo das imagens, em que novas tecnologias facilitaram as reproduções da imagem colorida. Assim, as ilustrações ganharam espaço nas obras infantis, com destaque as histórias em quadrinhos.  Muitas são as atividades que podem ser propostas pelos professores a partir das obras literárias. A grande variedade de gêneros a que pertencem os livros de literatura infantil permite um trabalho docente variado.

 

 

 

A literatura infantil e juvenil tem diversos gêneros: ficção, contos e mitos  tradicionais, obras  com  personagens contemporâneos e atuais, revistas especializadas o que incentiva cada vez mais esse hábito. Além disso, a criança pode encontrar leituras fora da literatura como em jornais, cardápios, cartazes nas ruas e outros. O contato com a literatura através de seus vários gêneros é tido como fundamental para a formação da criança. É importante para sua formação social, humanística e estética, além de ajuda no seu desenvolvimento psicológico e intelectual.

A utilização de espaços, denominados bibliotecas é uma prática importante para o desenvolvimento da leitura.  No Brasil, a primeira biblioteca foi fundada em 1814, que apesar de ficar aberta ao público e da boa qualidade do serviço prestado, poucas pessoas a frequentava. Elas foram se expandindo, porém, esse aumento foi acompanhada do descaso e esquecimento das autoridades. Apesar de muitas dificuldades no início, nos dias atuais as bibliotecas têm papel reconhecido como parte fundamental no processo educativo, em que muitos autores reconhecem seu potencial para incentivar o hábito da leitura.

As práticas da leitura nada seriam se profissionais como professor e bibliotecário não existissem. Pois, segundo SILVA:

 “a maravilhosa tarefa de  ensinar a ler, ou seja, habilitar as crianças  e os jovens para servir-se do patrimônio da experiência comum e milenária que a tradição escrita pode oferecer” (SILVA, 2003a, p. 91).

Com eles atuando juntos, o diálogo entre leitor e livro são favorecidos e o leitor passa a alcançar a independência e autonomia em leitura, mas para isso também é necessário que indicação de bons livros e qual é a boa literatura infantil e juvenil. Quando se trata de promover a leitura, tanto o  professor,  quanto  o bibliotecário têm papel importante em orientar os alunos, pois a autonomia se faz necessária diante de um contexto onde há uma grande quantidade de informações escritas.

Podemos observar que, numa sociedade em que a informação e o conhecimento têm destaque central, a biblioteca passa a ser um recurso pedagógico eficiente para melhorar a aprendizagem e contribuir em efetivo para o preparo de crianças e jovens para viver no mundo contemporâneo. Ao reunir uma diversidade de textos, a biblioteca representa um recurso imprescindível para a formação de leitores capazes, não apenas de decifrar o código linguístico, mas de saber interpretar o que leem. Sendo assim, a biblioteca deve ser um espaço com livros e materiais disponíveis em locais de fácil acesso, pois só assim será um espaço estimulador e para alunos e influenciador para o gosto pela leitura.

Portanto, a biblioteca, passa a ter reconhecimento importantíssimo no processo de ensino-aprendizagem, onde estimular os alunos a visitar esse local e, estar em contato com seu acervo é importantíssimo. Isso é a questão mais importante, pois se sabe que a biblioteca guarda os mais diversos tipos de materiais impressos e que devem estar à disposição do aluno sempre que este precisar. Não adianta que a escola tenha um local com boa estrutura física e material com um acervo diversificado se os alunos não o utilizam. Hoje, diante da importância social que a biblioteca adquiriu, não podemos pensá-la, no sentido etimológico da palavra, apenas como um “deposito de livros”. Vale considerar ainda que a biblioteca escolar deve ter uma estrutura mínima de serviços semelhante à das bibliotecas gerais: serviço de empréstimo, recuperação de livros, pessoal para orientação de pesquisa.

Nesse sentido, a escola tem importante papel, devendo preocupar-se em garantir a aprendizagem da leitura e também estimular o aluno a ler dentro e fora do contexto escolar. Para que isso ocorra é necessário um ambiente estimulador, acesso aos livros e apoio do professor. Só assim poderemos formar leitores e mudar uma realidade histórica de analfabetismo e pouca leitura.

 

 

Referências bibliográficas

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