UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA

CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO - CENFLE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS/PORTUGUÊS

 

 

 

JOÉLIA MAIARA ARAÚJO ABREU

 

 

 

 

 

 

 

RESENHA DO LIVRO: LEITURA DE LITERATURA NA ESCOLA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SOBRAL - CE

2015

 

JOÉLIA MAIARA ARAÚJO ABREU

                                  Resenha realizada como requisito parcial para conclusão da disciplina  Estágio Supervisionado IV do curso de graduação em letras/Português.

                                  Professor: José Raimundo Figueredo Lins Júnior

SOBRAL – CE

2015

 

 

LEITURA DE LITERATURA NA ESCOLA

 

 

JOÉLIA MAIARA ARAÚJO ABREU

 

                                                                            Maria Amélia Dalvi, Neide Luzia de Rezende, Rita Jover-Faleiros, orgs. Leitura de literatura na escola.  São Paulo, SP : Parábola , 2013.

 

 

Os parâmetros educacionais da atualidade apontam para uma formação integral que deve preparar o aluno para o trabalho e para todas as relações sociais que permeiam sua vida. Diante disso, observa-se a preocupação de escritores e educadores de fornecer subsídios à formação consciente de professores a alunos capazes um olhar diferenciado sobre o papel da literatura na escola.

Observa-se, nesse momento, a renovação de metodologias e uma nova visão dos paradigmas norteadores do trabalho com leitura nas escolas. A obra Leitura de Literatura na Escola vem contribuir grandemente para dinamizar a ideia da importância de um bom  trabalho com literatura dentro e fora da sala de aula.

O mundo atual exige do cidadão uma formação global que obriga as instituições educativas a adaptar-se para oferecer uma educação que proporcione aos educandos condições justas de concorrência no mercado de trabalho e plena participação social. Tais benefícios, como é de consenso da maioria dos educadores, começam pela formação intelectual que vem das múltiplas leituras realizadas ao longo da vida.

A obra consiste em uma compilação de artigos escritos por professores e pesquisadores que abordam de maneira eminente o trabalho renovado na inserção do aluno no mundo da literatura de maneira dinâmica e prazerosa. Cada capítulo busca esclarecer pontos importantes do trabalho do professor na condução de uma pedagogia que desperte no aluno uma visão da leitura como agente dinamizadora de seu potencial intelecto e cultural. As autoras destacam como principal proposta da obra

                                        [...]trabalhar sempre de modo integrativo, entendendo e pensando a leitura e a escrita literárias, o ensino de literatura, o sujeito leitor de literatura, a formação de professores, os materiais didáticos, os currículos e métodos de ensino de leitura e literatura como faces de um mesmo desejo: contribuir para a apropriação da leitura e da escrita (e, em particular, das leituras e escritas literárias) por sujeitos inseridos em espaços e tempos de educação formal e não formal. (p. 10)

Colaboraram para a produção dessa obra as professoras Maria Amélia Dalvi, Neide Resende e Rita Faleiros. Tais educadoras encontram-se harmonia com recentes visões que pretendem melhorias significativas na metodologia aplicada no trabalho com literatura na sala de aula. A prova disso são os temas escolhidos a cada capítulo do livro e a perfeita exposição das ideias sobre as sugestões estimuladas a cada passo de progresso na leitura do livro aqui exposto.

No capítulo 1, Annie Rouxel aborda os objetivos do ensino de literatura nas escolas e apresenta a formação que se deseja desenvolver no leitor atual, fazendo um paralelo do tradicional e moderno. A ênfase é dada aos métodos renovados e à importância de sua aplicação através da multiplicidade de gêneros e formas de leitura e produção.

São discutidos nesse capítulo aspectos que remetem a propostas vigentes na nova LDB e nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que não são citados diretamente, mas na apresentação do aluno como sujeito de sua formação e o destaque dado aos diferentes saberes.

Uma outra abordagem interessante do primeiro capítulo está no que concerne ao professor e sua postura como leitor e conquistador de leitores. Trata-se de uma explicação esclarecedora e de grande acréscimo a quem acessa essa obra como subsídio para o trabalho docente. Sobre o educador a autora disserta

O professor é um sujeito leitor que tem sua própria leitura do texto. É também um profissional que precisa vislumbrar em função de diferentes parâmetros (idade dos alunos, expectativas institucionais), que leitura do texto poderá ser elaborada na aula.

                                         Sua ética profissional o impede de expor sem mediação sua própria leitura: é preciso efetuar acomodações ( no sentido óptico e fotográfico do termo)v e antecipar as dificuldades dos alunos. É preciso também renunciar a algumas singularidades sua leitura pessoal. De todo modo, diante de um público mais velho, não se exclui a possibilidade de partilhar sua leitura sem, contudo, impô-la. (p.29)

Para finalizar o capítulo 1, a escritora faz alusão ao colóquio realizado em 2002 e ressalta, de maneira bastante pertinente,  o fato de as ideias difundidas em tal estudo e em outros posteriores serem, hoje, a mudança necessária para uma aproximação desmistificada entre professores, alunos e leitura.

O  capítulo 2, que é assinado por José Alves, faz uma abordagem do cânone que envolve  as ações didáticas no ensino de literatura. O autor enfatiza a sugestão do trabalho com o poema, mais especificamente o cordel, como forma eficaz de desenvolver intimidade entre aluno e literatura. Sobre esse enfoque o autor comenta que

                                        é preciso ouvir a experiência do outro não como menor, menos universal, mas como diferente. Também é necessário não aplicar à literatura ligada mais fortemente à tradição oral critérios que não lhe são adequados, oriundos da avaliação de textos produzidos para serem lidos silenciosamente. ( p.36)

Esse capítulo estabelece um elo relevante entre aprendizado e a proximidade de uma atividade escolar que esteja em harmonia com os princípios culturais vivenciados pelos alunos e sua comunidade.

O artigo que compõe esse capítulo apresenta excelentes referências que despertam o interesse de aprofundamento em leituras que capacitem o agente dinamizador a trabalhar com cordel, contos populares  e outros textos de menor complexidade para envolvimento de outras modalidades artísticas.

Márcia Cabral da Silva é a responsável pelo capítulo 3. Há, nesse momento, uma abordagem destinada à reflexão sobre a ação do tempo na interpretação, escolha e apreciação da produção literária.

Aqui são citados autores consagrados da literatur, a como Graciliano Ramos, e é ressaltado sua característica de ser extremamente subjetivo em brincar com as palavras.

Observa-se a importância dada à relação família, comunidade e escola. Isso dá vazão à busca de pesquisas sobre projetos federais que contemplam a promoção da leitura dentro da escola e nas comunidades ao redor.

O artigo argumenta de maneira direta e estrutura parte de sua exemplificação em trechos um texto de Graciliano Ramos. Remete-nos à infância do autor exemplificando a existência de uma relação intrínseca entre autor, compreensão e sua história de vida, o que nos lembra a abordagem educacional de Paulo Freire que argumentou que antes da leitura da palavra há a leitura da “palavramundo”.

O capítulo 4 retoma de maneira contundente a metodologia adequada para o trabalho com literatura na escola e são apresentadas sugestões de trabalho também pautadas na vida social do estudante.

São abordadas as estratégias usadas na formação de professores e necessidade de haver sintonia entre conceito e prática. A autora ressalta que

 a ideia é dar a lume facetas em torno de temas que recentemente têm aparecido nos cursos de formação inicial e continuada de professores de língua e literatura, sabendo que qualquer posicionamento é sempre histórico e portanto, sujeito à discussão, à crítica e, claro, à recusa, à transformação, à atualização, ao embate. Por isso, na primeira parte do texto, apresentamos algumas das razões pelas quais a leitura e a vivência ou experiência de literatura, bem como o ensino, hoje, nos parecem importantes, mesmo cientes de que os motivos que justificam sua permanência, sob algumas vertentes, nem sempre estão aliados com a democracia da escola e das experiências sociais e culturais. (p.69)

Há um enfoque dado à importância da divulgação da cultura popular e do trabalho pautado no contato com os variados gêneros literários.

Algumas metodologias são sugeridas o que dá a esse capítulo um tom de oficina e contribui para um acréscimo produtivo nas ideais sugeridas para a melhoria e aprimoramento do trabalho com literatura na formação do aluno.

O texto apresenta uma análise da metodologia a ser aplicada com o intuito de alcançar êxito na mediação da relação aluno x leitura, confirmando sempre ideia já destacadas em textos anteriores que são, por exemplo, a inserção da realidade do aluno em textos, temas de debate e produção, tudo isso aplicado de maneira interdisciplinar.

Observa-se que as ideias aqui defendidas estão em consonância com documentos  que norteiam a educação no Brasil. O artigo ainda, muito providencialmente, apresenta teses dissertadas por Silva (1998) como imprescindíveis ao trabalho com o texto literário.

Uma grande parte do texto foi dedicada à exposição princípios destinados: ao trabalho com literatura na escola, à condução de leitura literária, ao material a ser utilizado e  à  forma de avaliação. Essa condução didática exibida nesse capítulo é bastante útil à elaboração de estratégias pedagógicas eficientes.

Observa-se que a ideia central é muito articulada no texto e a função da literatura na formação do indivíduo. É primordial ampliar as reflexões sobre leitura, literatura e escola, revelando como a teoria literária pode contribuir para estreitar as inter-relações entre o texto literário e o leitor. Palavras-chave: Leitura, Literatura, Teoria da Literatura.

Os capítulos 5,6 e 7, seguem procurando esclarecer, cada um de maneira particular os diferentes métodos que podem dinamizar as aulas de literatura e tornar a visão que os alunos fazem da leitura algo cotidiano e, de certa forma, simples.

            O capítulo 5 faz essa abordagem ressaltando a história da literatura como requisito necessário à sua compreensão adequada.

Os estudos expostos aqui demonstram alertar para a importância de investigar as relações intrínsecas entre  leitura e  literatura no cotidiano das escolas.

Neide Resende, no capítulo 5, dispõe sobre isso, confirmando a ideia principal motivada no livro.

                                         Como prática social, a leitura da obra literária sugere, antes de tudo, um movimento de identificação:lemos o que gostamos de ler, seja porque temos um gênero preferido _ suspense, policial, romance, poesia, crônicas, e.t.c. _ seja porque recebemos  indicação de uma obra por parte de alguém cuja opinião respeitamos; também porque a obra faz sucesso, ou então porque queremos reler...são muitas as variações, sem contar que, como professores ou críticos, além de nossas leituras preferidas, lemos porque precisamos do exercício da profissão... (p108)

 Além desses aspectos pedagógicos sobre a leitura,  vemos aqui a abordagem fisiológica da leitura. Nesse momento, vemos, novamente a alusão a documentos importantes que norteiam os novos parâmetros educacionais o que confere credibilidade aos norteamentos propostos no texto.

Nos capítulos 6 e 7, nos deparamos com temas voltados com necessidade do entrelaçamento entre prazer e leitura. Esse tema é dissertado de maneira a haver uma continuidade de argumentos nos capítulos supracitados.

A obra Leitura de Literatura na Escola faz com excelência um percurso que discute desde a produção fisiológica da leitura até sua função na vida social dos cidadãos. De maneira clara e coerente, pode-se observar que se apresentam os temas com propriedade, pois a obra é enriquecida com a contribuição catedrática de grandes estudiosos que dedicaram muito de seus trabalhos à pesquisa relacionada ao trabalho de leitura e literatura na escola.

O que se espera é que uma obra dessa magnitude possa ser apreciada pelo maior número de profissionais da área e que, assim, permita-se cumprir o objetivo maior que é o fornecimento de subsídios para a resolução definitiva dos entraves s e pedagógicos que comprometem a sintonia entre as práticas de leitura dentro da escola e as discussões sobre esse assunto que tanto inquietam o espaço escolar.

Sabe-se que há conexões indiscutíveis entre leitura e literatura e as metodologias de trabalho com tais conhecimentos provocam discussões que permeiam  como suporte dos discursos teóricos. A leitura de obras como esta aqui analisada provoca investigações entre as concepções de leitura, texto e literatura na visão de professores e escritores. Essas discussões teóricas nem sempre coincidem com a prática de sala de aula. Há, portanto, a necessidade  de se realizar ainda mais leituras e produções de obras voltadas a esse assunto, para que, diante das críticas pautadas na ciência e na pesquisa, obtenha-se maior proximidade entre a educação proposta em documentos como este acima resenhado e a verdadeira ação educativa nas escolas brasileiras.