O Promotor de Justiça Francisco Esmeraldo de Melo

Em dezembro de 1957 teve lugar em Cachoeira Paulista o bárbaro latrocício no qual foi vítima o Padre Francisco José Von Atzingen, conhecido como Padre Juca, capelão da Santa Casa de Misericórdia da pequena cidade do Vale do Paraíba paulista.

Sobre o crime que chocou a pacata e bela Cachoeira Paulista, escreveu o Dr. Francisco Esmeraldo de Melo a obra "Latrocínio em Cachoeira Paulista: contra-razões em apelação", publicado em 1958, quando o autor do horrível delito já se encontrava condenado e recolhido à Penitenciária do Estado.

O referido livro, de pequena tiragem, encontra-se disponível em bibliotecas da região e foi reeditado em 2015 pela editora Tachion, de São José dos Campos.

Sobre o assassinato do Padre Juca escreveu brilhantemente o historiador joseense Edy Carlos Vicente, presidente da Academia Cachoeirense de Letras e Artes.

Mas vamos falar um pouco mais sobre quem foi o Promotor de Justiça Francisco Esmeraldo de Melo, ao paço que a obra em referência pode ser disponibilizada com os familiares, os quais cuidaram da reedição de 2015.

Nasceu em Crato, no sertão do Cariri cearense, em 02 de fevereiro de 1920. Filho de João Evangelista de Melo e Maria Assunção Esmeraldo de Melo.

Em 1947, formou-se pela Faculdade de Direito de Recife.

Casou-se, no Recife, com Maria Amélia Nery da Fonseca Melo, após o que retornou a residir em Crato

De volta à terra natal, foi professor do Ginásio do Crato durante quatro anos, cumulativamente ao que exerceu a advocacia e o jornalismo.

Ao retornar ao Recife, ingressou no serviço militar, por intermédio do Centro Preparatório de Oficiais da Reserva - CPOR. Cumpriu ali quatro anos de serviço, ao tempo da Segunda Grande Guerra Mundial.

Em 1952, já com três filhos, Plínio Fonseca de Melo, Francisco Esmeraldo de Melo Júnior, ambos nascidos em Crato, e Teresinha de Jesus Fonseca de Melo, nascida no Recife, deixou a família no Crato e migrou para São Paulo.

Já àquela época, os estados do Sul e Sudeste, em especial São Paulo, constituiam um forte atrativo para os que deixavam o Norte e o Nordeste em busca de melhores condições para prosperar.

Em São Paulo, estabeleceu-se em Santo André e, após submeter-se ao concurso do Ministério Público do Estado de São Paulo, passou a atuar como promotor de justiça substituto, ainda em 1952.

Não foram poucas as dificuldades enfrentadas para vencer veladas ou francas situações de discriminação, o que já era comum em relação aos nordestinos que migravam para para os estados meridionais do país.

Como declarou, conseguir varar a barreira que lhe afigurava intransponível. A vitória definitiva somente se contretizaria dois anos mais tarde, quando, após breves períodos de interinidade em diversas comarcas, logrou ser efetivado. Foi quando assumiu a promotoria na comarca de São Luiz do Paraitinga.

Em Santo André, no ano de 1954, nasceu o primeiro filho paulista do casal, João Evangelista de Melo Neto, o quarto dentre a considerável prole de dez, o que à época não se constituía em  nenhuma raridade, em especial para um sertanejo do interior nordestino.

Em São Luiz do Paraitinga, no ano de 1955, nasceu o quinto filho do casal, Inácio Nery Fonseca de Melo.

Em Cachoeira Paulista vieram à luz mais três filhos: Lúcia Maria Fonseca de Melo, José Arnaldo Fonseca de Melo.

Nos idos de maio de 1961, foi removido para a Lorena, onde permaneceu até março de 1965. Neste interregno, veio à luz a filha Elisabeth Fonseca de Melo, sob os cuidados do médico de confiança e amigo da família,  motivo pelo qual a terceira filha do casal veio a nascer, também, em Cachoeira Paulista

 Quatro anos depois, foi promovida à Quarta Entrância, quando assumiu em Taubaté, última comarca em que militou como integrante do Ministério Público do Estado de São Paulo. Nessa cidade valeparaibana, nasceram os dois últimos filhos, Fernando Sávio Fonseca de Melo e Hélio Fonseca de Melo, para fechar a série e dez.

Faleceu, em São José dos Campos, em 05 de março de 1981, vitimado por uma infecção generalizada, doença adquirida quatro anos antes, ao se operar em um hospital de São Bernardo do Campo. Do mal que o levou a ser operado, um tumor benigno no cérebro, ficou curado. Todavia, não resistiu ao ataque das bactérias hospitalares oportunistas e ferozes que o infectaram.

Após seu falecimento, foi alvo de justas homenagens: ruas das cidades do Crato, Osasco e Taubaté, receberam o seu nome.

As manifestações de apreço alcançaram o ponto culminante, ao emprestar o nome para a  denominação do Fórum da Comarca de São Luis do Paraitinga, o que se fez por lei advinda de projeto do então Deputado Estadual Luis Máximo.

O título desta breve nota biográfica deveria ser: Francisco Esmeraldo de Melo, semeador de justiça, filhos e amigos.

Amante da natureza, admirava-se com as belezas da região do Vale do Paraíba, terra que escolheu para viver, mas sem nunca deixar de lembrar-se da infância havida no setão do Cariri cearense.