Um dia desses conversando com um grupo de professores na FEI, mencionei que trabalhara na Unipar. Logo um dos colegas comentou que conheceu várias pessoas da empresa, como o Karl Kurmeier. Durante as pesquisas para o desenvolvimento de novos produtos, ia sempre na FEI para fazer testes. O professor perguntou pelo Karl e quando lhe disse que havia falecido, lamentou, pois o considerava um grande profissional na área de química e que havia aprendido muito com ele.

Karl Dobberkau Kurmeier, era filho de alemães, como o nome sugere. Cursou química na USP e fazendo um by pass no mestrado, começou o doutorado, que infelizmente não conseguiu concluir. Quando parou já estava validando sua pesquisa na área de química orgânica. Como precisou trabalhar, foi adiando a conclusão da tese até que seus créditos acabaram caducando.

Na Unipar foi gerente do Laboratório de controle e de pesquisa durante longos anos. Sempre lhe perguntava se não tinha vontade de concluir o doutorado, mas ele respondia, laconicamente, que já havia passado o seu tempo. “Os resultados caducaram, meu orientador já morreu...”. Enfim, era coisa do passado.

Um diretor se referia a ele como PhD em química,  mesmo não tendo feito a defesa de sua tese, pois seus artigos publicados eram referência na área.

Karl era muito tímido. Era muito difícil arrancar algum dedo de prosa com ele. Às vezes ia a minha sala e ficava longo tempo me observando, antes de começar a falar sobre algum problema para ser resolvido. Sempre com o cigarro nos dedos, sugeria que estava analisando o seu interlocutor antes de dizer alguma coisa. Sorriso? Será que eu já vi o Karl sorrir? Talvez, mas não mais do que um par de vezes. Sempre sério e circunspecto, devia ter sido um típico nerd nos seus tempos de estudante.

Divorciado do seu primeiro casamento, encontrou na Elza, uma simpática e generosa nissei que trabalhava como assistente no setor jurídico, uma boa alma que o apoiou durante sua enfermidade até o final de sua jornada. Saudades.