Por volta dos 11 anos, quando consegui definir qual seria a minha assinatura (a mesma que uso até hoje), me senti "gente grande" e enfiei na cabeça que seria jornalista. Vivia imitando os apresentadores do Jornal Nacional, inclusive a famosa musiquinha de abertura do programa, o "ta-na-na-na-na-tan-tan". Depois, saía pela casa entrevistando quem aparecesse pela frente. Adorava fazer reportagens sobre enchentes em favelas, brincando de imitar a voz dos moradores, indignados com a situação.

Descobri que sou jornalista por causa de cada livro, crônica ou artigo que li. Os primeiros livros, aqueles da Coleção Vagalume, que as crianças pegam na biblioteca da escola por obrigação, pra mim foram geniais, porque me fizeram gostar da ler e, de quebra, de escrever. Se fazer redação pra maioria dos alunos era um tormento, pra mim sempre foi motivo de prazer. Além de terminar a minha primeiro, ainda ajudava as amigas a escrever a delas.

Curiosidade, vontade de conhecer, de aprender, nunca me faltaram. E, com o passar do tempo, a própria vida foi me "empurrando" para esse caminho. Mesmo uma conversa despretensiosa com alguém quase sempre acaba virando uma entrevista. Quando me dou conta, já estou perguntando, questionando, avaliando pontos de vista e tirando minhas próprias conclusões. Parece que o texto vem automaticamente à cabeça. E aí eu penso: pôxa, essa pessoa daria uma bela reportagem. Que neura!

Mas o pior de tudo é a obsessão pelo português. Encontrar um erro numa placa, outdoor ou num texto qualquer é algo que me deixa profundamente desconfortável. Tenho que admitir: a profissão me tornou uma pessoa extremamente detalhista e, às vezes, até chata. Quem já trabalhou com edição sabe disso.

Ser jornalista é tudo de bom. É o prazer de deter a informação, de ampliar horizontes, de ter senso crítico, de não ficar embaraçado diante de uma pergunta qualquer. É ter assunto pra conversar com quem quer que seja. Se precisar, a gente sabe de tudo um pouco e um pouco de tudo. Ou pelo menos pensa que sabe...

Escolhi ser jornalista porque sei a força que a comunicação tem para transformar. Como uma informação dita na hora e no lugar exatos pode mudar uma vida, uma história, a situação de um bairro, de uma classe, pode mudar o rumo de nações. Há esse "poder" em minhas mãos, em minha boca, em minha mente. Não há nada mais encantador e, ao mesmo tempo, assustador que isso.

Jornalista ganha pouco, trabalha no feriado e, mesmo assim, se mata pra fazer uma matéria bem feita. Quando o assunto vira manchete, então... não se cabe de alegria. E não vê a hora do dia seguinte chegar pra poder "lamber a cria".

Sou jornalista porque isso depende muito mais de vocação do que de diploma. Está no DNA e não tem como voltar atrás. É uma paixão avassaladora.

Nasci e vou morrer assim. E ponto final.