JOGO DA VELHA 3D: POSSIBILIDADE PARA UMA APRENDIZAGEM LÚDICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Douglas Manzan

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Neste artigo apresento uma pesquisa bibliográfica acerca da utilização do jogo da velha 3D como uma possibilidade para uma aprendizagem lúdica na educação especial. Para desenvolver tais considerações, foi realizado um levantamento bibliográfico relacionados ao tema, uma vez que utiliza-se livros, artigos de jornais e revistas sobre o tema. “A pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral”. (Vergara, 2005, p. 48). Todavia esta metodologia de pesquisa, aborda um método em que sugere ao pesquisador diversas fontes teóricas, para exploração da pesquisa, sem com isso esgotar as outras manifestações metodológicas. Esta pesquisa tem como objetivo investigar a utilização do jogo da velha 3D como uma possibilidade para uma aprendizagem lúdica na educação especial. O embasamento teórico do trabalho está ancorado nos pressupostos de Fonseca (1995) em dois momentos: no primeiro, nas questões referentes à prevenção e à identificação da Deficiência Mental, analisando-a sob uma perspectiva atual; no segundo, mais especificamente, em relação à Educação Especial. No que diz respeito a ludicidade a base teórica está ancorada em Piaget (1975).

1 Introdução 

Pensando em desenvolver uma pesquisa relacionada aos jogos de regras no desenvolvimento da aprendizagem de alunos especiais, como educador físico, desenvolvi esta pesquisa a partir de análises em referenciais teóricos que embasam esta investigação de caráter bibliográfico.

Pois na Educação Especial, mais do que em qualquer outra modalidade de ensino, faz-se necessário a aplicação de atividades diferenciadas nas situações de aprendizagem, a fim de que os alunos aprendam algo fazendo, atribuindo significado e prazer naquilo que estão realizando.

Dessa forma este trabalho busca investigar a utilização do jogo da velha 3D como uma possibilidade para uma aprendizagem lúdica na educação especial. Trazendo uma abordagem a priori sobre a Educação Especial, a Ludicidade nesse contexto e alguns conceitos sobre o Jogo da Velha 3D. Dessa maneira, a fim de realizar aquilo foi proposto, este trabalho está embasado em referências bibliográficas que foram utilizadas nas citações ou nas leituras realizadas durante o trajeto do trabalho. 

2 Educação Especial

Antes de definir Educação Especial, faz-se necessário identificar o que é uma criança com deficiências. De acordo com Fonseca (1995), tem-se a seguinte definição:

A criança deficiente é a criança que desvia da média da criança normal em:

1) Características mentais;

2) aptidões sensoriais;

3) características neuromusculares e corporais;

4) comportamento emocional;

5) aptidões de comunicação;

6) múltiplas deficiências, até ao ponto, de justificar e requerer a modificação das práticas educacionais ou a criação de serviços de Educação Especial no sentido de desenvolver ao máximo suas capacidades. (Fonseca, 1995, p. 25)

Desse modo, pode-se perceber que uma criança com deficiência precisa de um cuidado maior em relação a sua educação, a sua vida pessoal, de maneira que a sua presença no convívio social não venha causar em sua vida, um transtorno emocional. Em relação à

Educação, Fonseca (1995) declara:

O direito à igualdade de oportunidade educacional é o resultado de uma luta histórica dos “militares “dos direitos humanos, luta que implica a obrigatoriedade de o estado garantir gratuitamente unidades de ensino para todas as crianças. (Fonseca, 1995, p. 36)

Assim, essas crianças têm direitos em vários setores da sociedade, principalmente direito à Educação, como visualizado no Art. 36 do Estatuto da Pessoa Portadora de Deficiência. Segundo o MEC, o termo Escola Especial é empregado quando nos referimos às escolas voltadas para o atendimento a crianças que apresentam necessidades especiais. 

Todas essas escolas têm como objetivo principal, explorar ao máximo o desenvolvimento das potencialidades das crianças, tornando-as mais independentes em relação à higiene, cuidados pessoais, atividades domésticas, ocupacionais e profissionais. Isso é justificável porque, quando uma criança nasce com deficiência, começa para ela e para a sua família uma longa história de dificuldades. Não é apenas a sua deficiência que torna difícil a sua existência, mas a atitude das pessoas com as quais ela convive e também da sociedade na qual se insere diante de sua condição especial.

Pode-se pensar que, ser portador de deficiência nunca foi e nunca será uma condição fácil, tampouco aceitável com base nos padrões estabelecidos pelo contexto sócio-cultural. Em vista disso, a educação das pessoas portadoras de deficiências deve ser um dos componentes mais importantes de suas vidas, porque é pela educação que elas poderão viver em sociedade.

Além de Fonseca (1995), a Federação Nacional das Apaes, define Educação Especial como:

[...] denominação utilizada para se referir à educação das pessoas com excepcionalidades, com deficiências ou necessidades especiais, que requerem atenção particular no processo de desenvolvimento e de aprendizagem. (Federação Nacional das Apaes, 1993, p.  10)

Ao se configurar como uma modalidade de ensino, a Educação Especial constitui parte do sistema educacional e tem por finalidade básica proporcionar às pessoas portadoras de excepcionalidades, condições que favoreçam o desenvolvimento de suas potencialidades, visando a sua auto-realização da aprendizagem, integração e independência. Nesse sentido, são elaboradas propostas educacionais específicas, tais como:

A Educação Especial no seu atendimento especializado está nos programas de Educação precoce de 0 a 3 anos, educação pré-escolar de 4 a 6 anos, escolarização (Alfabetização) de 7 a 14 anos, inicializando o trabalho, qualificação profissional e trabalho protegido, acima de 15 anos; visando proporcionar ao portador de deficiências, independente das suas limitações ou dificuldades, condições para aprendizagem e participação na vida social e no mundo do trabalho. (Federação Nacional das Apaes, 1993, p. 12)

Desse modo, o plano de atividade a ser desenvolvido nos referidos programas se baseia na sequência do desenvolvimento humano, objetivando atender às necessidades educacionais da pessoa portadora de necessidades especiais nas diferentes etapas da vida.

Nos aspectos históricos os registros comprovam que vem de longo tempo as resistências para a aceitação social das pessoas portadoras de deficiências. Esses registros também comprovam como as vidas dessas sempre estiveram ameaçadas.

Entre os romanos, no início da era cristã, os preconceitos de Sêneca (filósofo e poeta nascido em 7 A.C.), eram assim estabelecidos:

[...] nós matamos os cães domados, os touros ferozes e indomáveis, degolamos as ovelhas doentes com medo que infectem o rebanho, asfixiamos os recém-nascidos mal construídos, mesmo as crianças, se forem débeis ou anormais; nós as afogamos, não se trata de ódio, mas da razão que nos convidam a separar das partes aquelas que podem corrompê-las. (Sob a Ira, 1 xv, apud MEC)

Isso mostra que os povos daquela época tinham medo que as pessoas deficientes pudessem gerar outros deficientes. Acreditavam também que matando essas pessoas portadoras de deficiências estariam livrando a sociedade de algum mal.

Já na Grécia antiga, onde a perfeição do corpo era cultuada, os portadores de deficiência eram sacrificados ou escondidos, como é apresentado no texto de Platão: Quando os filhos de sujeitos sem valor e os que foram mal construídos de nascença, as autoridades os esconderão, como convêm, num lugar secreto que não deve ser revelado. (A República, MISÉIS, 1977, apud CARVALHO, 1997, p. 14)

Na Idade Média, os portadores de deficiências, os loucos, os criminosos e os considerados possuídos pelo demônio estavam em uma mesma categoria: a dos excluídos. Nessa época, eles deviam ser afastados do convívio social, ou até mesmo, sacrificados.

Em razão dos sentimentos e conhecimentos de cada época da história da humanidade, as pessoas portadoras de necessidades especiais eram tratadas de diferentes maneiras; tais como abandonados em locais de isolamento, trancafiados em prisões, colocadas em ambientes de proteção, internadas em hospitais ou até mesmo sacrificados. Todas essas atitudes em relação a essas pessoas foram sempre justificadas na cultura local e em determinado momento histórico.

A partir do século XVIII as primeiras tentativas educacionais em relação a essas pessoas tiveram início. O médico francês Jean Gaspar Itard (1775 – 1838), realizou o atendimento a Victor, um menino selvagem encontrado na floresta de Averyon, na França. Segundo relata Fonseca (1995), “[...] em 1799, foi encontrada em Averion (França) uma criança-lobo, nomeada como Vítor e trazida para Paris por Philippe Pinel (1742-1826), que a diagnosticou como idiota”. Este termo, de origem grega, significa peculiar e diferente.

Com Vítor, nasce, provavelmente, a primeira tentativa para se educar e modificar o potencial cognitivo de crianças dessa natureza, devendo-se, então, a Itard, o primeiro esforço e estudo sistemático de reabilitação de uma criança subnormal. Itard acreditou que o problema desse garoto residia na falta de uma estimulação sensorial na sua infância, defendendo, assim, uma concepção envolvimentalistista da inteligência.

Esse médico ajudou, então, na compreensão das limitações dessa concepção, desenvolvendo um extenso programa de estimulação sensorial. Como médico e pedagogo, Itard pensou que seria possível ensinar Vítor, à época com 12 anos, a falar, a ler e a escrever. Mas com grande desânimo, viu que não era possível, independentemente de seu trabalho ter sido reconhecido pela Academia Francesa de Ciências. Ele constatou na criança grandes modificações de comportamento sócio-emocional, pois exibia condutas sociais de auto-suficiência, seguia direções verbais, compreendia o significado de algumas palavras concretas, discriminava e manipulava objetos, identificava letras, mas não falava, não lia e nem escrevia. O que estava ocorrendo nessa situação era que a criança se encontrava longe da compreensão da inteligência simbólica, ou seja, aquela que é necessária para falar, ler e escrever.

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