JOGAR, ARRISCAR E APRENDER

Alessandra Dobelin da Silva

Helvio Amancio Ramos

Jodemir Antônio da Silva

RESUMO

 Analisaremos alguns aspectos da ludicidade humana a partir de estudos realizados com a criança, primeiramente refletindo sobre a vivência da corporeidade e a experiência educativa ao brincar, sobre a experiência que se da numa perspectiva sociocultural, começando na brincadeira o convívio e o respeito com o outro e com as regras, sabendo que somos pessoas diferentes e que a diferença deve ser respeitada e aceita por todos.

JOGAR, ARRISCAR E APRENDER

Durante muito tempo a concepção do ser humano se fragmentou em corpo e mente, hoje percebemos que o ser é um todo, e que acreditar em tal separação é dar origem às dissociações que levam a doença, pois o ser humano é aquilo que sente, o que pensa e o que faz. O conhecimento se da de forma integral no nosso organismo, não só em nível cognitivo. Quanto mais inteiros estivermos no processo de conhecimento, maior será nossa capacidade de compreender o mundo, enriquecendo as relações de aprendizagem. De acordo com Toro:

“A inteligência esta fazendo parte de todas as nossas funções e de nossa historia existencial. Pensamos não somente com o cérebro, mas com todo o nosso corpo.”(TORO,1997, p.01)

Corporeidade é conhecer o ser humano integral, de forma a perceber que sentir, pensar e agir coexistem, fazendo parte do mesmo processo vivencial, encontramos essa expressão facilmente nas vivencias que se dão ao longo de nossas vidas que conferem aprendizados e fundamentam a nossa historia pessoal. Para a criança, grande parte dessas experiências se da ao brincar, quando se colocam inteiras na descoberta do mundo que se revela a cada momento.

Para o educador, faz-se importante refletir sobre a peculiaridade do valor das experiências para cada ser. Portanto, faremos juntos algumas reflexões sobre o jogo e as brincadeiras na formação da criança, processo este pelo qual se constrói seu conhecimento. Segundo Maturana e Verden-Zoller:

“aquilo que observamos na vida cotidiana, que da o tom nas redes das relações sociais, enfim, a cultura, é constitutivamente um sistema conservador fechado gerando seus membros à medida que eles a realizam por meio de sua participação nas conversas que as constituem e definem.”(MATERANA; VERDEN-ZOLLER, 2004, p.27)

A cultura define uma maneira de convivência humana como uma rede de coordenações de emoções e ações, cada cultura definira a seu modo de acordo com suas características, as tantas maneiras diversas de viver o humano. Machado afirma que:

“a ludicidade esta subordinada ao universo de referencias cultural da criança como motivação genuína.”( MACHADO, 2002, P.43)

Com essa afirmação, pode podemos concluir que a ludicidade infantil se forma no contexto cultural onde é gerida, especificada pela importância do adulto que esta em contato direto com a criança, como modelo. Soma ai a contribuição de Wajskop:

“A criança desenvolve-se pela experiência social, nas interações que estabelece, desde cedo, com a experiência sócio-histórica dos adultos e do mundo por eles criados.”(WAJSKOP, 1997, P.25)   

As experiências adquiridas no meio social reproduzem através das regras, os sistemas de valores e papeis por parte da criança, sempre situando-os de acordo com o meio social em que a criança vive. Vejamos o que Oliveira diz:

“A brincadeira simbólica leva a construção pela criança de um mundo ilusório, de situações imaginarias onde objetos são usados como substitutos de outros, conforme a criança os emprega com gestos e falas adequadas. Nessa situação a criança reexamina as regras embutidas nos atos sociais, as regulações culturais que fazem que a mãe seja quem fica em casa enquanto que o pai são para o trabalho em certos grupos sociais. Isso ocorre a criança experimenta vários papeis no brincar e pode verificar as conseqüências por agir de um de outro modo. Com isso internaliza as regras de conduta, desenvolvendo o sistema de valores que ira orientar seu comportamento.”(OLIVEIRA, 1992, P.55)

A brincadeira é uma atividade humana na qual as crianças são introduzidas, constituindo-se em um modo de assimilar e recriar a experiência sócio-cultural dos adultos, assim a brincadeira é o resultado de relações, portanto de cultura, aprender-se a brincar.

Nas brincadeiras, as crianças podem pensar e experimentar situações novas, no entanto é importante ressaltar a brincadeira pode ser o espaço de reiteração de valores retrógrados, conservadores, com os quais a maioria das crianças se confrontam diariamente. Esta ai, a importância da intervenção e acompanhamento do docente para a decisão pedagógica e objetiva sobre os caminhos que se quer ampliar para as crianças, como o respeito as diferenças, os modos de pensar e de agir de cada um.

BIBLIOGRAFIA

MATURANA, H.; VERDEN-ZOLLER, G. Amar e brincar: fundamentos esquecidos do humano do patriarcado à democracia. São Paulo: Palas Athena, 2004.

MACHADO, V. ILÊ Axé: vivencias e intervenção pedagógica, as crianças do Opô Afonjá. Salvador: ed da UFBA, 2002.

WSJDKOP, G. Brincar na pré escola . São Paulo: Cortez, 1997.

TORO, R. Afetividade. Irlanda: IBF, 1997. Apostila.

OLIVEIRA, Z. M. Creches: crianças, faz-de-conta & Cia. Petropolis, RJ: Vozes, 1992.