1 – Biografia

Nasceu na Calábria, em 1135, desfrutou dos ensinamentos dos melhores mestres. Era um visionário, sonhador, considerado herege e subversivo. Foi uma alma atormentada, e seu drama provinha da grande distância entre o ideal profundamente vivido e o amargo real.

Ingressou na vida monacal cistercense. Depois foi abade no mosteiro de Santa Maria da Sambucina de 1177 a 1187. Neste período escreveu suas obras principais: Concordância entre o Novo e o Antigo Testamentos; Comentário sobre o livro do Apocalipse; e Saltério de dês cordas.

Abandonou o mosteiro e floresceu a ideia de uma Ordem Florense. Faleceu em 30 de março de 1202, no mosteiro São João em Cosenza. Gozou da fama de santidade devido a austeridade que vivia seus votos religiosos. Na iconografia, chega a ser retratado com a cabeça aureolada e ainda foi tido como Profeta, por levar a Palavra de Deus. 

2 – Concepções de História

O pensamento de Joaquim de Fiore procede de uma visão ou entendimento de correspondências entre os elementos da história veterotestamentária, os da história evangélica e os, passados ou futuros, da história da Igreja. 

3 – Os três Estados

Cada um dos três estados é atribuído a uma Pessoa da Santíssima Trindade. Como o Espírito procede do Pai e do Filho, um “entendimento espiritual” procede do Antigo e do Novo Testamento: é o Evangelho eterno, que deve suceder ao Evangelho de Cristo pregado e celebrado até então.

Os personagens e os fatos do Evangelho de Cristo simbolizam realidades futuras na era do Espírito e na Igreja espiritual.

Cada uma das três eras, ou estado, implica uma inauguração e uma espécie de epifania:

1ª Era/ Estado: Inaugurada por Adão e confirmada nos patriarcas: é a Era do Pai, e na história, a dos leigos; É o estado que se encontra sob a égide da lei. É o período da servidão servil. O primeiro período caracteriza-se pelo temor. A luz das estrelas guia esse período. Quanto as estações é representado pelo Inverno.

2ª Era/ Estado: Inaugurada em Ozias e frutificou a partir de Jesus Cristo: é a Era do Filho e dos clérigos; Nesse estado o que imperava era a graça. Período da servidão filial. Este período caracteriza-se pela fé. A luz da Aurora é o guia. Quanto as estações é representado pela Primavera.

3ª Era/ Estado: Começou com são Bento (no livro de Bruno Forte traz Elias), e ainda vai se manifestar plenamente. Joaquim anuncia a instauração de uma era do Espírito, que é e será a era dos monges, dos contemplativos, intimamente penetrados pelo Espírito. É introduzido aqui como uma expectativa, uma esperança. Nesse terceiro estado espera-se uma graça ainda maior. Período da liberdade. Aqui a característica é o amor. No terceiro estado a plena luz do dia é essencial. Quanto as estações é representado pelo Verão. 

4 - Respostas para seu tempo

É importante ressaltar que a obra de Joaquim não foi escrita como uma revolta a teologia da época, como um protesto. Lembrando que Joaquim foi um homem religioso e tinha uma obediência à Igreja, isto é, não quis contrariar a hierarquia. Seu ideal era a vida monástica, onde a sociedade vivenciava um mundo de poder, ele sentia que a vida monástica seria a obra final do Espírito.

Joaquim tinha uma visão, pregação e vida profética, seu ideal era uma reforma da Igreja, tendo assim uma grande influência, pois essas idéias brotavam de sua fé. A igreja já combatia esse tipo de espiritualismo de Joaquim, principalmente as coisas que vinham do coração. Mas ele ansiava um renascimento, pois Igreja e Estado estavam decaídos. Para Ele o renascimento viria de um novo mundo, o do Espírito, que pisaria a igreja dos clérigos, dando assim, lugar para uma Igreja carismática.

Pode-se dizer que as conclusões de Joaquim de Fiore são frutos da situação eclesial marcada pelo poder, pelos interesses materiais de uma Igreja exageradamente visível. Para Joaquim a mística e a contemplação eram sua base, e julgava a Igreja como que transitória, e acreditava que ela seria espiritual. Para ele o papado não desapareceria, mas seria sublimado, e a hierarquia e os sacramentos mais espiritualizados.

 As idéias joaquimitas influíram no conclave que elegeu o papa são Clemente V (1294), pois viram nele um monge contemplativo, o papa angélico que com sua espiritualidade tinha a característica da era do espírito, onde não mais se interessava pelas questões materiais e políticas.  

6 - Joaquimismo 

A esperança joaquimita conheceu ressurgimentos no século XIV, especialmente durante estadia dos papas em Avinhão. Frente aos Romanos esperava uma extensão do Espírito Santo, cuja difusão fora prometida sobre toda a carne e que deveria renovar a face do mundo.  Esta propagação dada pelo Joaquinismo sobre a idéia de renovação teve seu impacto sobre os homens da Renascença literária e filosófica. No final do século XV muitos profetas anunciavam tribulações, mas também a preparação de uma renovação do mundo.

No centro da herança joaquimita, encontra-se, pois a ideia de que haverá ainda uma fase final da História, um tempo abençoado ainda por vir. O apogeu da história será sinalizado pelo aumento da espiritualidade no mundo. Durante anos as profecias foram negligenciadas, mas fizeram sucesso com os fransiscanos que viram em São Francisco e em sua ordem os homens espirituais e os seus chefes. Geraldo da Borgo San Donnino OFM exaltava Francisco como novo legislador e profeta enviado por Deus, e via nos franciscanos espirituais a nova Ordem da última idade anunciada por Joaquim. Esse programa foi exposto por ele em sua obra Introdução ao Evangelho de 1254. A obra foi condenada, mas as profecias joaquimita encontraram eco na alma dos espirituais franciscanos.

Já São Boaventura aceita a aplicação a São Francisco do anúncio joaquimita de um crescimento histórico até a realidade escatológica: Francisco foi o homem espiritual escatológico fundamental na história da santidade. Mas, na linha do mesmo Francisco, atribuindo a Cristo uma primazia absoluta e de caráter central: não existe um tempo do Espírito relativamente autônomo e novo: o tempo do Espírito, em que vive a Igreja, é o tempo de Cristo. 

7 - Os desafios permanecem

Joaquim de Fiore exerceu uma grande influência na Idade Média, mostrando sua grande ideia messiânica de um reino de justiça, paz, liberdade, sem um poder que oprime e governados por homens espirituais. As ideias e teologia de Fiore apontavam para um reino terreno novo, onde a utopia se realizava.

Joaquim de Fiore marca a passagem da Idade Média para o Renascimento e três pensadores modernos herdam essa filosofia: G. Lessing, F. Schiller e G. Hegel. O espírito se encarnava na matéria e o mundo será mais dos homens esclarecidos e iluminados. Eram joaquimitas os frades espanhóis que aportaram em são Francisco do sul, Santa Catarina.

Alguns chamam Joaquim de Fiore o pai da nova era, onde será o homem integral, consciente de suas energias, livre e comunicativa. Na atualidade as seitas se multiplicam, muita delas vêem o papa como a Besta do Apocalipse, rejeitam os sacramentos, e a hierarquia. Hoje a Igreja Católica não tem a tentação do poder, mas cai na tentação da burocracia árida.

Hoje o melhor caminho é buscar o Espírito que sacia, aquece e anima. Muitos deixam a Igreja porque renunciam à busca de Deus e há aqueles que deixam a Igreja porque não encontram o espaço de libertação, da ação do Espírito. Karl Rahner afirmou que o futuro da Igreja está na mão dos que vêm do deserto, dos que conversam com Deus face a face, e não dos que saem de intermináveis e estéreis discussões teológicas. O mundo religioso atual procura orantes, guias espirituais.  

8 - Bibliografia 

BESEN, José Artulino. Tertio millenio adveniente. Revista Encontros Teológicos, Florianópolis: Itesc, v. 10, n. 18, p. 21 - 25, 1995 

CESCON, Everaldo. Joaquim de Fiore: um estudo de caso. Cadernos da Estef, Porto Alegre: Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana, v.10, n.24, p.81-95, 2000. 

CONGAR, Yves. Revelação e experiência do Espírito. São Paulo: Paulinas, 2005. v. 1. 

.FORTE, Bruno. A Trindade como história: ensaio sobre o Deus cristão. São Paulo: Paulinas, 1987. 

[1] O autor, Samuel Colombo Pirola, é Bacharel em Filosofia, graduando em Teologia e especialista em Liderança e Administração Eclesiástica.