Joana

Joana foi minha vizinha desde sempre. Quando nasci ela já estava lá.Morava com os pais bem velhinhos. Dizia-se a boca pequena, que eles a tiveram quando já tinham perdido a esperança de serem pais. Nasceu bem pequenininha, mas gulosa que era, logo ganhou peso e tamanho. Cresceu muito mimada pelos pais, que sempre fizeram todas as suas vontades, pois consideravam-se pais/avós. Mas o fato de ser mimada, não fez dela um ser humano egoísta, mesquinho, dependente. Tornou-se uma moça bonita, alegre, falante, sempre pronta a colaborar com quer que fosse. Se alguém estava doente, lá ia ela com uma sopinha bem gostosa, o que fazia com que nós ficássemos à sua espera, pois ela sempre fazia um tantinho a mais. Sabia que as crianças gostariam de prová-la. Se fosse aniversário de alguém, o bolo era ela que gostava de fazer, com as mãos de fada que tinha. Cada bolo mais bonito e mais gostoso que o outro. E não podia ser pequeno, pois todos repetiam mais de uma vez. Crianças com problemas escolares? Era ela quem dava aulas particulares a quem precisasse, professora que era.

Mas o tempo foi passando e nada dela se casar. Dizia que felicidade era estar com seus pais. Agora era ela quem os mimava. Tornaram-se os filhos que não tivera. Mas o tempo impiedoso que é os levou, deixando-a sozinha. De início não foi nada fácil. Tornou-se quieta, calada, ficando dias e dias sem sair á porta, sem bater o papinho de sempre fosse lá com quem fosse. Todos estranharam sua mudança.

Passado algum tempo, começou a sair de casa bem cedinho, sempre no mesmo horário. Não dizia nada para ninguém, e se perguntassem, desconversava.

Onde ia? Ninguém sabia, até que uma vizinha resolveu segui-la para saber o que ela fazia com seus dias. Não por curiosidade, mas pelo simples fato de preocupar-se com ela.

O que viu deixou-a feliz e despreocupada. Voltou para casa rapidinho, sem nada dizer a ninguém. Afinal, a vida era dela, não sua ...

Ou não?