Resumo

O presente trabalho objetiva analisar a abordagem da figura de Jesus Cristo em outras religiões, diferentes o Cristianismo. Esse artigo nos levará a uma reflexão sobre como Jesus é visto e pregado em outras crenças, ou seja, iremos falar de Cristo fora da ótica das religiões cristãs que comumente ouvimos falar sobre ele. Este trabalho se ampara em pesquisa bibliográfica, onde a fundamentação teórica se apoia nos pensamentos de autores como Kevin O'Donnell e Jostein Gaarder, Carl Jung, Rubem Alves, dentre outros. Esses autores comentam em suas obras como Jesus é abordado sob a cosmovisão de religiões diferentes do Cristianismo, reconhecendo Jesus como uma figura histórica e religiosa de suma importância para a humanidade. Toda pesquisa realizada mostra que Jesus Cristo é bem quisto em diversas religiões e abordado como um grande mestre na maioria delas, sendo difícil encontrar alguma religião que o descreva negativando a sua imagem.

1 INTRODUÇÃO

Jesus Cristo é tido como um dos maiores mestres religiosos da história da humanidade, sendo assim podemos inferir que a abordagem sobre sua vida, seus ensinamentos e as transformações que a crença em suas ideias causou no mundo deve ser abordada quando falamos de religião e fé.

No transcorrer do trabalho, entendemos que apesar de Jesus ser descrito de forma diferente pelas diversas religiões existentes, ainda conseguimos encontrar muitas similaridades na forma de relatar a figura do Cristo. Nisto constatamos que a vida do Messias Cristão não é relacionada a atos ruins de sua parte, mas sim uma existência que se tornou exemplo para milhões de pessoas no mundo todo.

Sendo assim precisamos refletir sobre o quanto Cristo influencia as diversas religiões e culturas no mundo. De acordo com Smith (1991) a religião cristã surge na história encabeçada pela ocorrência da vida de um judeu carpinteiro conhecido como Jesus de Nazaré. Esse homem que nasceu em um estábulo na pequena cidade de Belém, viveu uma vida misteriosamente simples e foi condenado e morto por Pilatos por volta dos 33 anos de idade, sob a acusação de crime religioso e político.

O nascimento de Jesus marca o início de uma nova forma de pensar a transcendência do homem e sua ligação com o sagrado. Um homem judeu que desafiou os grupos sociais de sua época e suas formas de dominação para com o povo. (SMITH, 1991). Assim vemos que Cristo tornou se uma figura de referência não apenas no campo religioso, mas também histórico sendo inclusive abordado em muitos outros segmentos como um exemplo de homem que soube liderar e cativar pessoas.

Segundo Figueiredo, a expressão cristianismo foi utilizada primeiramente por Inácio, Bispo de Antioquia, por volta do ano 110 d.C. (FIGUEIREDO, 2009). Com uma análise da história bíblica é possível observar que durante sua vida Jesus não impôs uma religião, porém seus seguidores de anos mais tarde passaram a institucionalizar o ato de ser cristão exteriorizado então no cristianismo.

Para Gaarder (1952) Atos religiosos podem ser representados em um   batismo numa igreja cristã. Na adoração num templo budista. Quando os judeus se reúnem com o rolo da Torá em Jerusalém. Nos atos dos peregrinos reunindo-se Meca. Jesus apresentou perante a sociedade de sua época várias ações semelhantes as realizadas por outras religiões, esse é um dos motivos dele ser bem aceito em tantas crenças espalhadas pelo mundo afora.

Por tudo o que descrevemos acima entendemos que abordar a figura de Jesus Cristo sob a ótica de outras religiões é essencial quando queremos tratar de temas que hoje são tão difíceis como a tolerância religiosa e o respeito as crenças.

2 . A religião e suas implicações

            Antes de adentrarmos nos assuntos referentes às formas como Jesus é abordado sob a ótica de diferentes religiões do mundo, convém mencionar importante raciocínio formulado por Rubem Alves acerca do que é religião.

De acordo com Alves ( 1991) no processo histórico através do qual nossa civilização se formou, recebemos uma herança simbólico-religiosa, a partir de duas vertentes. De um lado, os hebreus e os cristãos, do outro, as tradições culturais dos gregos e dos romanos.

Com todos estes citados acima vieram visões de mundo totalmente distintas, mas eles se amalgamaram, transformando-se mutuamente, e vieram a florescer em meio às condições materiais de vida dos povos que os receberam. E conforme Alves (1991) daí que surgiu aquele período de nossa história batizado como Idade Média.

Ainda conforme Alves (1991) nada acontecia que não o fosse pelo poder do sagrado, e todos sabiam que as coisas do tempo são iluminadas pelo esplendor e pelo terror da eternidade. Não é por acidente que toda a sua arte seja dedicada às coisas sagradas e que nela a natureza não apareça nunca tal como nossos olhos a veem.

2.1 Função da religião

                De acordo com Pimentel (2007) religião é a principal característica que diferencia o homem. Alguns animais podem sobrepujar-lhe em certas atitudes, tais como agudeza ou percepção sensitiva, engenhosidade, construtividade prática, companheirismo e produtividade econômica, mas nenhum, que se saiba, tem dado prova alguma de vida religiosa.

            Para Pires (1989) a religião dá a uma pessoa aquilo que lhe é impossível receber de qualquer outra fonte: fé no êxito de todos os combates da vida através da união pessoal com a potência ou potências superiores do mundo.

            Segundo Pimentel (2007) toda religião faz muito pelo indivíduo religioso e também pelo grupo social em que vive, conforme se pode exemplificar:

  • Auxilia o indivíduo dotando- o de forças e satisfações novas.
  • Ajuda-o a suportar sem queixas as dificuldades da vida.
  • Oferece solução ao problema do mal.
  • Eleva a vida presente.
  • Oferece a esperança de uma vida futura melhor.
  • Desenha uma sociedade ideal.
  • Apresenta um plano eficaz de salvação.

Sendo assim entendemos que a função distintiva da religião, em contraste com a da filosofia ou da ética, ou de quaisquer das atividades idealísticas ou culturais, é dar ao ser humano a satisfação suprema de sua vida mediante uma relação vital com o que ele entende e aceita como potência ou potências superiores do mundo. (PIMENTEL , 2007).

2.2 Elementos constitutivos da religião

                Conforme Pimentel ( 2007) são elemento constitutivos da religião: doutrina( crenças, dogmas): toda religião tem sua doutrina sobre a origem do homem, do cosmos, do sentido da vida, e do além.

            São fontes da Doutrina de acordo com Pimentel (2007):

  • Tradição dos antepassados – religiões primitivas
  • Palavras de sábios iluminados – religiões sapienciais
  • Palavra de Deus – religiões proféticas.

Ritos (cerimônias): promovem a união da comunidade, pois é impossível ao homem viver sem símbolos ou estruturas visíveis. Ética (leis): regras de conduta, comportamento e disciplina. Comunidade: a religião tende a formar comunidade, pois existe uma atração natural para que a fé seja manifestada entre coirmãos. Relacionamento pessoal: eu x tu. (PIMENTEL , 2007).

2.3 A religião como fato social

                Para Pires (1989 ) os estudos sobre a origem e o desenvolvimento da religião, sua natureza, sua significação para  o comportamento humano, seus efeitos na dinâmica social e nos processos de renovação das estruturas econômicas e administrativas da sociedade, bem como no desenvolvimento cultural e mais especificamente das pesquisas científicas, oferecem-lhes opções contraditórias que não levam a nenhuma solução, agravando a crise com o levantamento de novos conflitos insanáveis.

            Segundo Pires (1989) culturalmente marginalizada, a partir do Renascimento, a religião se transformou numa questão opinativa. Para os materialistas e ateus é apenas um resíduo do passado supersticioso, para os pragmatistas, uma questão de conveniência, para os espiritualistas, um problema vital, do qual depende a própria sobrevivência da humanidade.

            O que hoje se convencionou chamar de Ciência da Religião, abrangendo vários aspectos da questão religiosa em diversas perspectivas científicas, fora do campo religioso, apresenta-se como análise fria do processo religioso, com base nos dados objetivos da História. (PIRES, 1989).

            Assim sendo , a colocação do problema religioso de maneira opiniática , em termos materialistas, pragmáticos ou espiritualistas, nesta altura de nossa evolução cultural, corresponderia a uma verdadeira heresia científica. Não obstante, o desenvolvimento das religiões e sua institucionalização, em todo o mundo, oferecem motivos de suspeita aos espíritos objetivos, que pretendem analisá-las no seu estado atual.

3.  O Jesus histórico

Até o século XVIII o cristianismo não se preocupou com a questão da vida histórica de Jesus. Havia, por parte de todos, confiança de que o relatado nos evangelhos condizia com a história de Jesus. Pequenas, ou muito pouco expressivas foram as pesquisas escritas em torno desse tema.

Conforme o teólogo suíço Albert Schweitzer (1906) em sua obra A busca do Jesus histórico relata apenas um pesquisador, pouco expressivo, sobre o tema, um indiano chamado Hieronymys Xavier que escreve uma vida de Jesus em língua persa para o uso deum imperador Mogul, no final do século XVI.

Trata-se de uma falsificação da vida de Jesus, com o intuito de apresentar um Jesus glorioso ao imperador que tinha a mente aberta. É a partir de Samuel Reimarus que a pesquisa sobre o Jesus histórico tem seu início de forma que mereça ser comentada. Reimarus, em seus escritos, defendia que as afirmações da religião racional eram contrárias à fé da Igreja. Seu ponto de partida era a questão acerca do conteúdo da pregação de Jesus.

Há, em seu pensamento, uma distinção absoluta entre os ensinamentos de Jesus em seu tempo de vida e a pregação apostólica. Para Reimarus (1908), a pregação de Jesus é bem clara e consiste em duas frases de mesmo significado:

“Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” e “Arrependei-vos, pois, o Reino dos Céus está próximo”. O reino dos céus, para Reimarus, deve ser compreendido em seu caráter judaico. Interessante percebermos que, no pensamento de Reimarus, esse é um dos motivos de em tão pouco tempo, diversas pessoas o seguirem.

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